Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Técnica de Berlim desenvolveram um jogo de tabuleiro para ensinar aos gestores de empresas as principais características, tecnologias e habilidades da indústria 4.0.

De acordo com um dos idealizadores e professor do Departamento de Engenharia de Produção (DEP) da UFSCar, Mateus Gerolamo, o projeto foi criado porque o grupo percebeu que muitas empresas querem ser mais digitais, mas têm muita dificuldade em se adaptar e medo de se arriscar.

 “Com o jogo, é possível criar um ambiente psicologicamente mais seguro para que esses gestores, que muitas vezes acabam aprendendo na marra durante o dia a dia, saiam um pouco dessa pressão e mergulhem em um cenário mais lúdico, onde eles têm a possibilidade de perguntar e errar”, explicou.

Objetivo

O propósito do game é que os empresários retornem com a tarefa de entender melhor quais são as tecnologias disponíveis da indústria 4.0 e como elas se relacionam com os objetivos da companhia, fazendo com que recursos sejam investidos de uma forma mais efetiva.

“Muitas pessoas acham que para migrar para a indústria 4.0 basta comprar um sensor ou um robô que as máquinas vão trazer todas as respostas, mas não se trata de um produto pronto e, sim, de um processo”, explicou um dos autores do jogo e professor do DEP, Henrique Rozenfeld.

Segundo ele, a Indústria 4.0 é muito abrangente, por isso a ideia do jogo é condensar esse leque e mostrar para os participantes algumas possíveis articulações de tecnologia, necessidade de formação de pessoal, tipos de estratégia, entre outros tópicos.

Testes

A invenção, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pela German Research Foundation (DFG), já contou com a participação de 15 empresas em aplicações e no refinamento do projeto, dando resultados positivos.

O game pode ser jogado durante cerca de quatro horas por negócios dos mais variados segmentos. Quem tiver interesse em aplicá-lo em sua empresa, basta entrar em contato pelo site do projeto, onde também é possível obter mais informações.

Regras

Para iniciar, os jogadores escolhem a carta que melhor representa a meta da empresa. Depois, a cada jogada, os competidores têm a possibilidade de adquirir “capacitações”, que vão desde novas tecnologias, até funcionários especialistas e pacotes de segurança de dados.

Esses produtos e ações devem ser escolhidos de forma estratégica e certeira para que o plano de negócio da equipe tenha sucesso. Ao final da partida, vence quem obtiver mais pontos e conquistar os chamados “certificados de excelência”, que servem para atestar a evolução da empresa, sendo alguns deles:

    Virtualização: quando a indústria é capaz de representar virtualmente e de forma interativa o trabalho que exerce;
    Descentralização: cenário em que as decisões são tomadas aliando a inteligência de computadores com as competências e habilidades dos funcionários;
    Modularidade: ocasião em que a empresa tem processos mais flexíveis, que conseguem incorporar ou substituir com maior facilidade determinado tipo de ação;
    Capacidade em tempo real: relativo a alta velocidade com a qual a companhia responde a problemas produtivos de rotina;
    Fábrica inteligente: quando a empresa age autonomamente para resolver questões operacionais.

Desafios

Os participantes, no entanto, enfrentam um desafio: eles não sabem quais certificados de excelência devem obter para que suas metas sejam atingidas. A estratégia, então, é ficar atento a cada etapa, pois certas capacitações só podem ser adquiridas se a empresa tiver desenvolvido outras antecipadamente.

Ao final de cada rodada, é feita uma espécie de contabilidade para saber quais serão as consequências para cada time de acordo com as ações que foram tomadas. Se a empresa perder pontos, ainda poderá se recuperar no decorrer da partida.

Além disso, o também professor do DEP, Daniel Braatiz, explica que alguns imprevistos podem surgir, como a invasão de hackers, crises e greves, ou seja, algo que force as empresas a terem se prevenido, visando simular uma situação real.

Segundo os desenvolvedores, um dos erros mais cometidos pelas empresas é direcionar de imediato seus investimentos apenas em tecnologia, mesmo que muitas vezes ela não tenha uma equipe apta ou uma infraestrutura básica para receber tais equipamentos.

EPTV