Desde março de 2020, a questão de como sobreviver à pandemia de Covid-19 passou a reger as relações entre as pessoas. Muitas famílias foram afetadas e, mesmo depois da flexibilização das medidas restritivas, a pandemia deixa cicatrizes e continua expondo fragilidades.

Segundo um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais da metade das famílias brasileiras já tiveram algum impacto no trabalho de seus membros desde o início da pandemia.

Faz parte dessa estatística o morador de Bauru (SP) Huxley de Pádua. Em junho de 2020, atuava como voluntário na tentativa de arrecadar doações em dinheiro, por meio de uma vaquinha virtual, para comprar uma “carretinha” que iria ajudar na entrega de marmitas e cestas básicas às pessoas em situação de rua e famílias de baixa renda da cidade.

 

Dessa vez, em junho de 2022, é ele quem recorre à ajuda de outras pessoas. Desempregado há quase três anos, Huxley está novamente com uma “vaquinha” virtual para recomeçar com o empório que tanto sonhou em administrar.

Segundo Huxley explicou, a pandemia o fez fechar o estabelecimento. Com a crise sanitária, precisou também abandonar o emprego de motorista de aplicativo, já que possui comorbidades e adotou as regras de distanciamento como forma de prevenção ao contágio.

“Era algo que era maior do que eu, não dava para lutar contra uma doença que devastou nosso país e acabou com milhares de sonhos e projetos que nós, brasileiros, idealizamos para as nossas vidas”, lembra.

O empório sempre foi o maior sonho desde que idealizou uma mudança na vida: sair da carreira acadêmica e entrar para o empreendedorismo. Porém, a pandemia se tornou um impedimento, já que as consequências da crise sanitária refletiram também na economia.

“Quando tive que trancar as portas da minha loja eu me lembro de que sentei ao lado da geladeira de frios e, no chão, fiquei olhando para toda loja e sentindo a dor de não poder trabalhar ali”, lamenta.

Agora desempregado, Huxley mantém a família, a esposa e o filho, com ajuda do pai. Se o valor de pouco mais de R$ 36 mil arrecadado por meio da campanha nas redes sociais for alcançado, Huxley sonha em trazer comidas típicas de Minas Gerias para o bauruense degustar.

Sequelas da Covid

A Covid-19 deixou sequelas físicas em João Paulo de Oliveira, de 45 anos, pai de três filhos, ficou acamado depois de contrair a doença.

Segundo a esposa e professora, Deise Luci Sergio de Oliveira, de 41 anos, João Paulo contraiu a doença em junho, de 2021. No sétimo dia com sintomas, Deise lembra que o marido piorou e, por conta disso, foi internado no Posto Avançado Covid (PAC) com a saturação baixa.

Passados três dias no PAC, João Paulo foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ficou três meses. Logo quando foi intubado, a esposa explicou que o maridos sofreu uma parada cardiorrespiratória. Foram 10 minutos angustiantes na espera da volta à vida.

Na terceira vez que João Paulo teve a parada cardiorrespiratória, foram 40 minutos para reanimá-lo. A soma das paradas resultou em consequências irreversíveis, como a lesão cerebral por conta da falta de oxigenação no cérebro.

Após a retirada da intubação, João Paulo ficou 24 dias sem sedativos, mas não respondia aos estímulos e desenvolveu quadros de convulsões. A alimentação e fraldas são fornecidas pelo município, mas os remédios demoram para chegar.

"Ele ficou quase em estado vegetativo. O João trabalhava em um emprego fixo, mas o contratante o demitiu. Nós não temos renda. Ele não fala, não anda e mal consegue se expressar. De cinco medicamentos que ele toma, dois o Estado não fornece. Quando ele foi para a UTI, foram os meses mais terríveis minha vida", explica Deise.

Ainda conforme explicou a esposa, além de recorrer ao Estado para o fornecimento dos remédios, ela também busca pela sonda gástrica. Para se sustentar, a família depende de ajuda de amigos e doações.

"A hora que o médico falou 'o caso do seu marido é irreversível' ali eu deveria ter tido um embasamento. Pela lista do hospital, ele está em uma fila enorme para conseguir a sonda. Não está sendo fácil, até a fila de espera da APAE é longa para a fisioterapia. Eu já nem tenho previsão de quando ele vai passar pelo neurologista, não tenho esse dinheiro", comentou.

Deise explicou que João Paulo tomou as duas doses da vacina contra a Covid. O próximo passo da família é tentar conseguir a indenização trabalhista.

Síndrome rara

No último dia 24 de maio completou um ano que o pequeno Davi Aquino veio ao mundo. Em meio a uma pandemia, Davi nasceu com complicações respiratórias, consequências de uma doença rara, conhecida como Síndrome de West por conta das crises convulsivas. Outras alterações fisiológicas ainda são investigadas pelos médicos.

Conforme explicou a mãe, Thamyres Rocheli da Silva, de 34 anos, Davi se alimenta por sondas e necessita de oxigênio em cilindro por 24 horas. O pequeno também não consegue sustentar o pescoço sozinho e tem dificuldade para abrir os olhos.

“Como o SUS não nos deu suporte com urgência quando ele ainda tinha meses de vida, nós fomos obrigados a contratar um plano pra ele, pois ainda não sabíamos o que ele tinha. Ficamos desesperados com algumas reações que ele apresentava em casa, como as crises de convulsão”, lamenta.

A forte medicação faz com que o menino tenha dificuldade também em ficar acordado. Por necessitar de cuidados intensivos, a mãe, que antes trabalhava com venda de roupas e como manicure, deixou de trabalhar.

“Mesmo com convênio, o processo tem sido muito lento e isso nos deixa angustiando, pois não temos dinheiro pra fazer certos exames no particular. Meu marido é o único provedor da casa, trabalha registrado, mas o salário é pouco, gira em torno de R$ 1600”, conta.
Segundo Thamyres, o marido sofreu um acidente na busca por doações de roupas e foi afastado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e deve passar por cirurgia.

No momento, a família pede por doações para a aquisição de uma cedeira específica para o carro com suporte para inclinar e que sustente o pescoço. Para ajudar, acesse o link.

Estado de mal epilético

 Após uma crise convulsiva que desencadeou um estado de mal epilético, o pequeno Miguel Samuel Sampaio, de oito anos, foi previamente diagnosticado com uma doença rara conhecida como Síndrome de FIRES. Por conta da condição, o pai da criança de Bauru (SP) faz uma campanha nas redes sociais para conseguir pagar o tratamento contínuo dele.

Ao g1, o pintor Peterson Samuel da Silva, de 40 anos, contou que foi em 2016 que o filho, aos três anos, teve a primeira crise convulsiva em sequência, sem recuperação da consciência entre elas, o que o deixou em coma por quatro meses. As sequelas dessa fase na vida do menino são sentidas até hoje.

O pai também comentou que as crises começaram por conta de uma inflamação na garganta. Contudo, a bactéria subiu para o cérebro, o que agravou o quadro clínico da criança.

Por conta do comprometimento do sistema neurológico, Peterson explicou que Miguel tem traqueostomia para respirar, gastrostomia para se alimentar, não anda e não fala: estado completamente diferente de antes do adoecimento do menino.

Para trazer um pouco mais de qualidade de vida ao garoto, o pai mantém um tratamento com fisioterapia no HC de Ribeirão Preto, além dos cinco remédios anticonvulsivos e à base de cannabis que ele toma diariamente.

"Ultimamente, ele está tendo muita crises convulsivas e está tendo bastante infecção urinária. Ele tem bexiga neurogênica, as sequelas afetaram a bexiga. A gente faz sondagens dele 5 vezes ao dia", lamenta.

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