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Do JORNAL DE ITAPOLIS- Itápolis é uma cidade formada por muitos descendentes de italianos, famílias inteiras que em tempos difíceis saíram da Itália em busca de uma vida melhor e constituíram vida em solo itapolitano. Nesta semana comemoramos o Dia da Imigração Italiana e, não poderíamos deixar passar em branco, sem contar ao menos uma história por aqui.

Vamos falar de uma família de centenários, através da figura de Guerino Cardilli, prestes a completar 99 anos, irmão de Domingos Cardilli, que já chega aos 104, lúcidos e com muita saúde.

Antônio Cardilli e Tereza Augustini Cardilli como muitos imigrantes chegaram ao Brasil através de navios. O ponto de chegada foi o Rio de Janeiro. Em pouco tempo transferiram-se para o interior de São Paulo, passando por diversas cidades, até fixarem-se em Itápolis, num primeiro momento tirando seu sustento da lavoura.

O casal teve 11 filhos, dentre eles, Guerino, que desde muito cedo ajudava os pais e irmãos na lida diária da roça. Com a venda do sítio a mudança da família para cidade cada um aprendeu um ofício diferente.

“Eu num primeiro momento fui ser sapateiro, como outros irmãos, cada um buscou uma atividade para ajudar a família, foi depois de um tempo que decidimos partir para o ramo dos negócios. Tivemos padaria e depois um bar, que tocamos juntos por aproximadamente 30 anos”, conta Guerino.

O bar em questão era o famoso “Bar Cardilli”, localizado onde é hoje o Calçadão. O local era ponto de encontro dos itapolitanos nas décadas de 1940 e 50. e, segundo Guerino, onde muitas boas histórias aconteceram.

“Era um verdadeiro teatro, tinha muita comédia, os amigos se reuniam, contavam piadas, são muitas lembranças boas”.

O Bar Cardilli é um dos muitos exemplos de imigrantes empreendedores que deram início ao comércio local.

Para se ter uma idéia da importância do local, sua história foi retratada no documentário “Personagens e Histórias de Itápolis - Histórias do Bar Cardilli”, apresentado em uma sessão especial no Cine Teatro Geraldo Alves em 2013.

Guerino casou-se aos 25 anos com dona Diná, que era professora. Eles viveram mais de 50 anos juntos, até o falecimento dela, há 13 anos atrás. Da união vieram três filhos (uma já falecida) e seis netos.

Além do trabalho incessante Guerino arrumava tempo para colocar em prática o talento de músico (tocava violino, piano e violão) e junto com amigos, formava a banda Cardilli /Macanhã, que fazia serenatas pela cidade.

Ele sempre foi amante da boa música, de qualidade e uma de suas tiradas, ao bom estilo italiano, era: “Você sabe para que serve uma espingarda de dois canos? Para matar cantor sertanejo”; divertia-se ele, cujo filho, Fernando, que herdou do pai a paixão pela música, é um ‘violeiro dos bons’.

Guerino não tem muitas lembranças sobre os costumes que os pais trouxeram da Itália, a nao ser da gastronomia e das mesas sempre cheias de comidas típicas como macarronada, cheia de irmãos confraternizando.

“Acho que a maior tradição que eles mantiveram foi a de reunir a família entorno da mesa. Sei que tenho muitos familiares na Itália, alguns chegaram a vir pra cá, mas não temos mais contato”.

Guerino que sempre foi bom cozinheiro diz que hoje o que mais gosta de fazer é ficar a toa; “já trabalhei além do que devia, agora quero descansar”.

Questionado sobre essa característica centenária da família, ele diz no tom de brincadeira em que me respondeu todas as perguntas: “É fácil, é só esquecer de morrer”