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Pela terceira vez no país —a primeira fora de festivais—, o Foo Fighters desembarcou em Porto Alegre nesta quarta-feira (21) disposto a mostrar que continua com fôlego jovem mesmo após duas décadas de estrada e dois anos movimentados. No Brasil com a missão de divulgar seu oitavo disco, "Sonic Highways", lançado em novembro, Dave Grohl e equipe subiram ao palco do Estacionamento da Fiergs às 21h21 —um atraso de 20 minutos— para encarar uma longa e energética sessão de 2h45 de rock.

O público, que comprou todos os 30 mil ingressos disponíveis e ainda encarou trânsito caótico para chegar ao evento (localizado numa região afastada do centro de Porto Alegre), recebeu o Foo Fighters a plenos pulmões. Para dar início aos trabalhos, Grohl teve de pedir silêncio à plateia antes de soltar os acordes delicados que abrem "Something from Nothing", a primeira faixa do novo álbum.

O som baixo para os padrões do rock não esfriou o público (era possível conversar a 30 metros do palco). Os Fighters emendaram "The Pretender", e as 30 mil vozes responderam abafando o som da banda no refrão. "You are fucking loud! ("Vocês cantam muito alto!")", disse o vocalista após a segunda música, logo antes de colocar os fãs para pular com o hit "Learn to Fly".

Na capital gaúcha, o Foo Fighters mostrou que está em forma após uma jornada exaustiva que começou em 2013 para a gravação do último disco. O projeto levou a banda a oito cidades diferentes, num passeio de costa a costa pelos Estados Unidos, e que ainda virou série de televisão. Mas o grupo soube equilibrar a necessidade de promover as novidades recentes e atender aos fãs na sua primeira passagem por Porto Alegre. Em "Arlandria", a quinta do set de 26 músicas, Grohl comandou o coro e se mostrou surpreso com a receptividade. "Eu gosto de vocês, vocês são muito legais. Hoje, nós vamos tocar bastante. Nunca estivemos aqui, temos 20 anos para espremer em três horas", disse o carismático vocalista do sexteto.

Na metade do show, depois de encerrar "Monkey Wrench" com uma sequência de solos introspectivos, Grohl pegou o violão para um momento mais íntimo no corredor avançado do palco, a um metro do setor de pista, um agrado simpático aos fãs que pagam ingressos mais baratos e se espremem por horas para ficar o mais próximo possível ao palco —e que sofrem com as estruturas de apoio que prejudicam a visão de quem está longe. O vocalista cantou sozinho "Skin and Bones" e "Wheels". Depois, começou ainda solitário no hit "Times Like These" enquanto um palco era erguido na metade do corredor com o resto da banda, que se uniu ao frontman na canção do disco "One by One", de 2002.

Em cima do minipalco, o Foo Fighters se transforma numa típica banda cover de um pequeno pub. Foram quatro músicas: "Detroit Rock City" (do Kiss), "Miss You" (dos Rolling Stones), "Tie Your Mother Down" e "Under Pressure" (ambas do Queen). Antes de cada uma delas, o palco girava sobre o próprio eixo para se virar para um lado diferente da plateia. "Tie Your Mother Down" teve o baterista Taylor Hawkins imitando Freddie Mercury nos vocais, mas sua voz pouco potente sumia entre as guitarras distorcidas e teclados, problema que ocorreu nas outras canções lideradas por Hawkins e chegou a prejudicar o próprio Grohl em alguns momentos.

Enquanto isso, o vocalista principal voltava à bateria, relembrando os tempos de Nirvana, quando atacava nas baquetas à sombra de Kurt Cobain —o líder dos Fighters é um caso raro de coadjuvante de uma banda mítica que conseguiu se reinventar como protagonista de outro projeto tão bem sucedido comercialmente quanto o original.

Antes de voltar ao espaçoso palco original, Grohl explicou os covers: "Estamos prestando homenagens aos nossos heróis. Quando tínhamos as nossas primeiras bandas, tocávamos essas canções por que nós amávamos música. E continuamos tocando por que seguimos amando a música".

Se faltou nitidez nos vocais (a nota negativa da noite), o Foo Fighters pelo menos pôde contar com o reforço da plateia nas últimas músicas da maratona. Os fãs seguiram cantando o refrão de "Best of You" depois do fim da música e parecem ter ganhado um espaço no coração da banda. "You are a fucking amazing audience" ("Vocês são uma plateia incrível", em português mais polido), disse Grohl. "Não gosto de dizer tchau porque eu sei que voltaremos", prometeu antes de fechar a noite com um último blockbuster: "Everlong". E foi embora sem bis, como de hábito (Grohl deixa bem claro ao longo do show que a banda encerra de verdade quando sai do palco).

O grupo repetiu quase todo o repertório executado no domingo (18) em La Plata, na Argentina, com a exceção de três músicas. Mas o Foo Fighters levou para Santiago do Chile, no dia 15, quando chegou à América do Sul, canções que não foram apresentadas aos fãs argentinos e porto-alegrenses. Portanto, o público brasileiro pode ter esperanças de ver outros hits na sequência da turnê, uma boa notícia em tempos de repertórios engessados em função de uma organização de shows que privilegia a sincronia do setlist com recursos de imagem e o mínimo de imprevistos que possam diminuir o pique do público.

Da capital gaúcha, a banda segue para São Paulo (23), no Morumbi, Rio de Janeiro (25), no Maracanã, e Belo Horizonte (28), na Esplanada do Mineirão. (UOL)