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Uma investigação da polícia civil de São Paulo indica a atuação de pelo menos mais uma quadrilha na manipulação de resultados no futebol para favorecer apostadores. As suspeitas, outra vez, incluem o comando de estrangeiros no esquema.


O início desta nova apuração é posterior à deflagração da operação Game Over, que em julho de 2016 prendeu nove pessoas por fraudarem partidas em São Paulo e no Rio Grande do Norte.

São dois inquéritos que têm a Matonense, equipe da terceira divisão local, como protagonista. Pela Copa Paulista da última temporada, o time de Matão foi derrotado por Batatais (3 a 1), em 28 de agosto, e Ferroviária (3 a 0), cinco dias depois.

A movimentação de apostas ligadas a essas partidas em sites do exterior acenderam um alerta na Sportradar, empresa contratada pela FPF (Federação Paulista de Futebol) para monitorar oscilações neste mercado.

Como revelado pelo GloboEsporte.com, as suspeitas levaram o TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) a iniciar processo em outubro. Em dezembro, as denúncias foram entregues à Drade (Delegacia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva) – foi decretado sigilo.

A reportagem teve acesso ao processo no TJD, que ouviu dirigentes, funcionários e atletas da Matonense. Ninguém foi denunciado no tribunal desportivo, por enquanto.
O relatório da Sportradar sobre Batatais x Matonense tem 36 páginas e afirma que os apostadores tinham conhecimento de que a Matonense perderia o primeiro tempo por ao menos dois gols de diferença e o jogo por ao menos três gols sofridos. Contra a Ferroviária, o time de Matão perderia por ao menos três gols de diferença, segundo as 32 páginas do relatório.

O primeiro a ser ouvido foi Francisco Marcondes Galvão, presidente da Matonense, em 19 de setembro – dez dias após a derrota para a Ferroviária. Ao TJD, ele afirmou não ter recebido qualquer contato suspeito, nem teve conhecimento de que algum dirigente ou atleta tenha sido procurado pela quadrilha. Ao GloboEsporte.com, Galvão manteve o depoimento.

O técnico Ciro Antônio Rios culpou a fragilidade da equipe, que terminou a primeira fase do torneio com um ponto em 12 jogos, pelas derrotas. O diretor João Aparecido do Santos chegou a dizer que os atletas, amadores, haviam se "deslumbrado" com a Arena da Fonte, o estádio da Ferroviária. A partida investigada, porém, foi disputada em Matão.

Por fim, ainda foram ouvidos Ocimar Manoel Barcelos, massagista, e Rafael Simi Stefano, lateral direito do time. Ambos afirmaram não ter percebido nada de anormal.
Entre os convocados pelo TJD, apenas o goleiro Douglas Chaves de Souza não foi encontrado. É sobre ele que recaem as maiores suspeitas.

Douglas era goleiro do Duquecaxiense quando o time da Baixada Fluminense foi derrotado pelo Audax na Copa Rio de 2015 por 3 a 0. Essa partida também gerou alerta da Sportradar por fortes indícios de manipulação. O GloboEsporte.com não conseguiu contato com Douglas.

O presidente do Batatais, André Toffeti, afirmou à reportagem que não foi notificado. A Ferroviária se manifestou nos autos após a publicação de reportagem sobre o caso, em outubro. Em ofício ao TJD, o clube "externa a mais veemente repugna às práticas narradas". Procurado, Carlos Salmazo, mandatário do clube de Araraquara, disse que só soube do episódio pela imprensa.

A FPF, que mantém contrato com a Sportradar, se manifestou através de nota. Nela, a federação diz que "mantém constante vigilância em situações que possam levantar suspeitas de desvio de conduta por meio de seu Comitê de Integridade, criado em 2015". Segundo o comunicado, "todas as informações e indícios sobre quaisquer irregularidades são prontamente apurados e encaminhados aos órgãos competentes de segurança".