A tensão gerada pelo avanço da mineração chinesa ao redor do mundo para produção de tecnologia verde
No início deste ano, Ai Qing* foi acordada no meio da noite por gritos de protesto do lado de fora de seu dormitório no norte da Argentina.
Ela espiou pela janela e viu trabalhadores argentinos cercando o complexo onde fica o prédio de seu dormitório — eles bloquearam a entrada com pneus em chamas.
"Estava ficando assustador porque eu podia ver o céu sendo iluminado pelo fogo. Virou um motim", relembra Ai, que trabalha para uma empresa chinesa que extrai lítio de planícies de sal na Cordilheira dos Andes, para uso em baterias.
O protesto, desencadeado pela demissão de vários funcionários argentinos, é apenas um entre um número cada vez maior de casos de atrito entre empresas chinesas e comunidades locais, à medida que a China — que já domina o processamento de minerais vitais para a economia verde — expande sua participação na mineração deles.
Há apenas 10 anos, uma empresa chinesa comprou a primeira participação do país em um projeto de extração dentro do chamado “triângulo do lítio” — formado por Argentina, Bolívia e Chile, que juntos detêm a maior parte das reservas mundiais de lítio.