“Até a próxima!”, despediu-se Paul McCartney do público paulistano em sua terceira noite de apresentação na cidade no domingo (10), após um show marcado pela previsibilidade, emoção e… chuva! A tempestade que ameaçava o público no final do domingo só esperou o ex-beatle pisar no palco para materializar-se de forma torrencial.

 

 A saudação final parecia ter vindo para contradizer um boato que tomou corpo à medida que Paul McCartney esteve em São Paulo, passeando pelas ruas dos bairros Sumaré e Pompeia, na zona oeste da cidade, com o vidro do carro baixo para cumprimentar os fãs. A vinda de sua mulher Nancy Shevell para a cidade – a quem dedicou sua “My Valentine” no show de domingo – aumentou os boatos de que esta seria a última turnê do artista, que anunciaria sua aposentadoria dos palcos na apresentação final desta turnê brasileira, show que será transmitido ao vivo pelas plataformas de streaming Disney+ e Star+ no próximo domingo (16), às 21h15.

 O rumor tomou mais força depois que Marcelo Froes, jornalista e diretor da gravadora de relançamentos Discobertas, publicou em uma rede social que a vinda de Nancy seria reforçada pela chegada das duas filhas mais velhas de Paul, Mary e Stella, que também estariam vindo para o Brasil, além de outras celebridades. A apresentação no Rio de Janeiro seria o momento em que o ex-beatle anunciaria sua aposentadoria dos palcos, mas não se sabe se seria o anúncio de uma última turnê de despedida ou se o último show que ele faria seria justamente o do Maracanã.

Sendo assim, foi providencial que ele se despedisse do público paulistano encharcado de domingo com a promessa de retorno. O resto da apresentação seguiu o script que McCartney já apresenta há mais de década, equilibrando canções clássicas de sua carreira solo com singles mais recentes e dezenas de canções dos Beatles. Ao seu lado, a banda com quem passou mais tempo na vida, desde 2003, formada pelos guitarristas Rusty Anderson e Brian Ray, o diretor musical e tecladista Wix Wickens e o carismático baterista Abe Laboriel Jr., além de participações pontuais do trio de metais Hot City Horns.

Mas a previsibilidade de um show de Paul McCartney não afeta em um milímetro sua capacidade de emocionar. Canções na ponta da língua de dezenas de milhares de pessoas transformavam qualquer hit dos Beatles em um enorme coral uníssono e Paul não perdia a oportunidade de regê-lo, pedindo para o público repetir versos ou melodias. O público do terceiro show foi agraciado com duas novidades da turnê, quando Paul puxou “Drive My Car” e “Day Tripper” pela primeira vez neste ano.


A chuva também provocou uma transformação considerável no show, uma vez que não foi uma garoa fina ou uma rápida chuva de verão e sim um pé d’água interminável que quando parecia que estava diminuindo voltava com uma intensidade ainda maior. Isso fez com que o público não erguesse os celulares para gravar vídeos, tirar selfies ou transmitir o show em chamadas via Whatsapp (uma variante bizarra cada vez mais comuns em grandes shows, pode reparar). A sensação de alma lavada ao assistir a um show de Paul McCartney debaixo de um toró sem assistir ao show por uma tela eletrônica fez com que o público reagisse com uma intensidade ainda maior.

 Paul McCartney aproveitou para exibir seu português de gringo deslumbrado com humor de tiozão de festa de fim de ano, chamando John Lennon de “parça” e anunciando que “o pai tá on”, mas nem isso foi suficiente para tirá-lo do pedestal. Afinal, foi de cima de vários destes, seja ao piano, com o clássico baixo Hofner ou com sua guitarra multicolorida, que entoou clássicos imbatíveis de sua lavra, como “Maybe I’m Amazed”, “Hey Jude”, “Get Back”, “Band on the Run”, “Blackbird”, “Let it Be”, “Lady Madonna”, “Helter Skelter” e o final do medley do disco Abbey Road, além de saudar George Harrison em “Something”, John Lennon em “Here Today” e o guitarrista Denny Laine, seu companheiro de banda quando montou o grupo Wings nos anos 70, que faleceu na semana passada, em “Jet”. Ao lado de um John Lennon virtual também entoou um emocionante dueto sobrenatural em “I’ve Got a Felling”.

É visível o desgaste físico do ex-Beatle, que não atingiu a altura em algumas notas, desafinou em pequenos momentos e trocou trechos de letras das músicas. Nada que comprometesse o todo, mas não custa lembrar que ele está com 81 anos de idade. Até mesmo sua notória capacidade de fazer um longo show sem tomar um copo de água foi interrompida – e exibida no telão – quando parou para hidratar-se entre uma música e outra. Paul McCartney é um deus da cultura pop e um dos principais nomes do século passado, mas infelizmente não é imortal. Então por isso talvez faça sentido que ele esteja cogitando sua aposentadoria, mesmo que apenas só dos palcos.

Sorte de quem puder assistir aos dois próximos shows que ele fará no Brasil, nos dias 13 em Curitiba e 16 no Rio de Janeiro, talvez, respectivamente, o penúltimo e último show do nome que transformou apresentações musicais ao vivo em um negócio desta magnitude. O talvez antepenúltimo foi ótimo.

CNN