Com obras de Volpi e Portinari, ‘Queermuseu’ foi encerrada um mês antes do previsto em Porto Alegre; mostra foi alvo de críticas de grupos como o MBL
Pintores mundialmente reconhecidos como Alfredo Volpi e Cândido Portinari estavam entre os 85 artistas da exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte da brasileira” que deveria estar aberta ao público até 8 de outubro, no Santander Cultural, em Porto Alegre. Porém, neste domingo, o local fechou as portas para a visitação após protestos, incluindo do MBL (Movimento Brasil Livre), contra a mostra que tinha como objetivo valorizar a diversidade sexual através de temáticas LGBT.
Segundo o Santander, a exposição recebeu muitas críticas. “Entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo”, disse o banco em nota na tarde deste domingo. “Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra”, afirmou o Santander.
O MBL comemorou o encerramento da exposição como um “vitória da pressão popular”. O MBL do Rio Grande do Sul chegou a chamar o Santander de “vergonha dos gaúchos” e pediu que os correntistas do banco, que mantém o centro cultural, encerrem suas contas em protesto.
Segundo o MBL, algumas obras expostas fazem apologia à pedofilia e zoofilia. Em um vídeo com mais de 400.000 visualizações, desde o último sábado, integrantes do MBL visitam o Santander Cultural e dizem que “só tem putaria, só tem sacanagem” que é “reconhecida como arte”. “Há pouco tinha crianças olhando essa ‘arte’ escarnecendo a Cristo”, diz o blogueiro Felipe Diehl no vídeo. “O curador dessa obra, Gaudêncio Fidelis, esse cara deveria estar preso”, acrescenta Diehl. “Olha o Satanás no meio”, diz Rafinha BK, outro blogueiro do MBL. “Isso aqui é praticamente prostituição infantil”, diz outro simpatizante do movimento apontando para uma obra alusiva ao meme “Criança Viada”, conhecido entre a comunidade LGBT.
Prefeito fala sobre fechamento
O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. (PSDB) repercutiu o fechamento da exposição. Na sua página do Facebook, Marchezan diz que a mostra tinha “imagens de zoofilia e pedofilia”. Horas mais tarde, Marchezan apagou sua postagem. O prefeito, que é apoiado pelo MBL, obteve liminar na Justiça para que os protestos contra sua administração fossem proibidos.
Defesa da exposição
Grupos de defesa dos direitos dos LGBT organizam, pela internet, um ato em apoio em “defesa da cultura e democracia” em frente ao Santander Cultural para próxima terça-feira, às 16h. Críticos ao conservadorismo do MBL, os organizadores do ato apontam a contradição de um suposto movimento liberal atuar pela censura da exposição.
Diversidade
“Uma exposição queer, que busca não ditar ou prescrever regras, discute questões relativas à formação do cânone artístico e a constituição da diferença na arte. Para esta plataforma curatorial levei em conta aspectos artísticos, culturais e históricos de cada trabalho”, disse o curador Gaudêncio Fidelis, no material de divulgação da mostra.
“A diversidade é um valor para o nosso negócio. Acreditamos que o capital humano é o que torna uma organização diversa, com maior probabilidade de inovação e maior chance de se diferenciar no mercado”, disse Marcos Madureira, vice-presidente de Sustentabilidade do Santander, quando a exposição foi lançada. (Veja)