O Ministério Público (MP) está fazendo operação, nesta quarta-feira (11), contra a adulteração de produtos lácteos para disfarçar a deterioração em uma fábrica da Dielat localizada no município de Taquara, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Cinco pessoas foram presas até a última atualização desta reportagem. É a 13ª fase da Operação Leite Compensado.
De acordo com o MP, a investigação indica que houve a adição de soda cáustica e água oxigenada em produtos como leite UHT, leite em pó e compostos lácteos. Essas substâncias são perigosas à saúde e usadas para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados (saiba mais abaixo).
Ao menos sete cidades do RS já tiveram leite fornecido pela Dielat para merenda escolar, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE). São elas: Alvorada (2023), Canela (2020), Gravataí (2020), Ivoti (2019), Porto Alegre (2023), Taquara (2022) e Viamão (2019).
Conforme o MP, os produtos da Dielat têm ampla distribuição no Brasil e são exportados para a Venezuela. A empresa já venceu licitações para fornecer laticínios a escolas e a outros órgãos públicos.
Entre as marcas alvos da operação comercializadas no Brasil estão: Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall. Na Venezuela, os produtos levam o nome de Tigo.
Quatro pessoas foram presas preventivamente: um sócio-proprietário da empresa, Antonio Ricardo Colombo Sader; o diretor, Tales Bardo Laurindo; um supervisor, Gustavo Lauck; e um engenheiro químico, Sérgio Alberto Seewald.
Uma mulher, que teria dito a funcionários para apagarem possíveis provas, foi presa em flagrante. O nome dela não foi divulgado pelas autoridades.
Além dos quatro mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça, houve 16 de busca e apreensão. A operação atuou nos municípios gaúchos de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé, e na cidade de São Paulo.
A defesa de Sérgio Alberto Seewald negou que ele tenha cometido qualquer crime (leia mais ao final do texto). O g1 e a RBS TV tentam contato com as defesas da Dielat e dos demais investigados.
'Alquimista'
Entre os presos, está o químico industrial Sérgio Alberto Seewald, conhecido como "alquimista" ou "mago do leite", figura central em fraudes identificadas em fases anteriores da operação. A Dielat teria contratado o químico para assessorar a produção.
Seewald já havia sido alvo em 2014, na quinta fase da investigação, por práticas semelhantes em outra indústria de laticínios em Imigrante, no Vale do Taquari. Ele foi absolvido de uma condenação de 2005 por um caso similar, recebeu uma medida cautelar da Justiça de Teutônia e está há dois anos aguardando para utilizar tornozeleira eletrônica.
Fraude 'sofisticada'
De acordo com o promotor Mauro Rockenbach, as fórmulas fraudulentas têm se tornado mais sofisticadas, permitindo que substâncias como soda cáustica e água oxigenada escapem de detecções iniciais da fiscalização de órgãos ligados ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
"Além de ajustar o pH e mascarar a acidez do leite, essas substâncias são usadas para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados, o que representa graves riscos à saúde, incluindo potencial carcinogênico [que pode causar câncer]. A denúncia de 2024 se confirmou um novo risco", afirma o promotor.
Próximos passos
Exames detalhados estão em andamento para identificar com precisão os lotes contaminados, uma vez que as novas fórmulas usadas pelos fraudadores dificultam a identificação de substâncias nocivas nas análises preliminares. As autoridades reforçam a necessidade de maior fiscalização para evitar que práticas como essas sigam colocando a saúde da população em risco.
O que dizem os citados
A defesa de Sérgio Alberto Seewald sustenta que "ele não possui relação formal ou informal com a empresa Dielat". Segundo o advogado Nicholas Horn, "trata-se de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade". Ele acrescenta que "todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas".
O g1 e a RBS TV tentam contato com as defesas da Dielat e dos demais investigados.
G1