Jovem desapareceu em 27 de março. Ele diz que se arrepende por não ter avisado à família sobre isolamento e nega ter sido jogada de marketing
Em entrevista exclusiva para o Fantástico, exibida neste domingo (13), ele explicou o motivo de ter se isolado
"O fato de eu ter me isolado, como eu falei, era pra buscar algo, uma verdade dentro de mim que eu estava precisando encontrar”. Foi assim que o estudante de psicologia Bruno Borges justificou o seu isolamento de quatro meses e 15 dias. Em entrevista exclusiva para o Fantástico, exibida neste domingo (13), ele explicou o motivo de ter se isolado após deixar 14 livros criptografados na casa onde mora com os pais em Rio Branco.
“Meu maior objetivo com esse projeto foi estimular as pessoas a adquirirem conhecimento. Sem dar notícias desde o dia 27 de março, Bruno voltou para casa na madrugada de sexta-feira (11). A câmera de segurança registrou a chegada às 5h22, descalço.
O estudante tocou a campainha, mas ninguém ouviu. Nas imagens é possível ver que ele esperou por mais de uma hora, até que um vizinho apareceu e telefonou para o pai de Bruno, que veio ao encontro do filho. No reencontro, Athos Borges ficou surpreso, se emocionou e teve que ser amparado.
“Quando me deparei com ele, demos um abraço muito forte. As minhas pernas bambearam, ele me segurou para eu não cair. Felicidade imensa até pelo Dia dos Pais, por poder passar junto com a família toda”, diz o empresário.
‘Não tive acesso a nada’
Bruno Borges se nega a revelar onde esteve durante esses quase cinco meses de isolamento. Mas, explica que estava em um ambiente com muito verde e em contato com a natureza.
“Eu posso dizer que meu isolamento foi muito pessoal. O que posso dizer é que eu estava isolado, não tive acesso a nada, se não ia quebrar todo o meu objetivo. Porque busquei o isolamento justamente pra não ser atrapalhado pelo coletivo. Muitas vezes, a coletividade atrapalha você a achar seu autoconhecimento”, explica.
Ainda sobre onde ficou, ele diz que não vai passar detalhes de como foi esse processo e nem mesmo confirma se o local era no Acre ou em outro estado. “Isso pra mim é irrelevante, o que importa é o objetivo. Eu estive em meio a natureza. O local era um ambiente natural com floresta, com árvore. Toda parte do isolamento eu não vou falar”, destaca.
Porém, Bruno diz que planejou tudo com antecedência antes de desaparecer e que, inclusive, estudou o local onde passaria todos esses dias. “Tudo o que eu faço, primeiro estudo para depois colocar em prática. Então, fiz um estudo sobre o local onde eu estava indo e o que eu precisava pra me manter lá dentro”, revela.
‘Pediu perdão’, diz a mãe
O retorno do estudante também foi uma surpresa para a mãe. Denise Borges contou que estava no santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, rezando que o filho reaparecesse quando recebeu a notícia, que a fez voltar às pressas para o Acre.
A equipe do Fantástico a encontrou na conexão no aeroporto de Brasília. Durante o voo, ela contou que havia falado com o Bruno pelo telefone e que acreditava que o reaparecimento dele foi em resposta às suas orações.
“Falei com o Bruno muito rápido. Ele chorou, pediu perdão, falei que ele não precisava pedir perdão que eu amava ele e que tava em Aparecida e que Nossa Senhora tinha ouvido as minhas preces. Eu tava de joelhos pedindo pela volta dele. Aí ele respondeu que tinha sentido essa vibração e que tinha resolvido voltar”, conta a mãe.
Arrependimento
O estudante diz ainda que não se arrepende ter se isolado, mas se culpa por não ter avisado à família sobre a sua decisão. “De me isolar, não me arrependi, mas de não avisar foi uma das coisas que mais me arrependi na minha vida. Foi um grande erro que eu cometi em não ter avisado àquelas pessoas que têm um carinho muito especial por mim”, reconhece.
Além disso, ele diz ainda que foi ingênuo em pensar que tudo o que deixou no quarto ajudaria a entender esse processo. “Acreditei que todo mundo ia saber que tinha me isolado pra buscar a verdade da vida no momento que olhasse o meu quarto do jeito que eu deixei”, conta.
‘Teoria cosmogônica’
Com paredes, teto e chão repletos de inscrições misteriosas, símbolos esotéricos, desenhos, pinturas, códigos, o quarto fez surgir toda a curiosidade em torno da história de Bruno e de seu desaparecimento. Hoje, o autor de todos os escritos explica um pouco dos símbolos.
“Eu desenvolvi uma teoria cosmogônica sobre como funcionava o universo através das experiências visuais que eu tava passando e essa linha vermelha ela chama barreira potencial de finitude”, explica.
Bruno revela também que tudo isso foi uma forma de despertar a atenção e a curiosidade das pessoas. “Houve também outros objetivos fazendo tudo isso, um dos objetivos foi tornar as pessoas mais ávidas pelo misterioso, porque quem não gosta do misterioso meio que está morto, está inerte. Porque o mundo é um mistério, nós não sabemos de nada ainda. Então, como podemos não gostar do mistério?”, questiona.
Além das inscrições na parede, chamava atenção também uma estátua em tamanho real do monge italiano Giordano Bruno, um filósofo que defendia a teoria de que os mundos eram infinitos. “A estátua é também uma maneira de eu querer que as pessoas busquem os conhecimentos dele por achar que aqueles conhecimentos são importantes”, justifica.
Jogada de marketing
Além dos escritos no quarto, Bruno também deixou 14 livros criptografados. A primeira tiragem do “TAC – Teoria de Absorção de Conhecimentos” foi de 20 mil cópias e entrou para a lista “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês passado. O ranking é do site PublishNews, construído a partir da soma das vendas de todas as livrarias pesquisadas.
A volta do estudante coincide com o sucesso da obra. Para a Polícia Civil, que investigou o sumiço do jovem, tudo foi uma jogada de marketing. “Bruno se ausenta, o livro é lançado. Então, eu acho que fica evidente que havia um plano divulgação”, alega o delegado responsável pelo caso, Alcino Júnior.
Já Bruno nega ter armado um plano para manipular o público. Ele diz que tudo que planejou foi em busca de conhecimento e de despertar também às pessoas. “Tudo o que eu fiz foi com o objetivo principal de estimular as pessoas a adquirem conhecimento e a medida que você vê que as pessoas começaram a buscar conhecimento através disso, podemos perceber que deu certo”, acredita.
Durante as investigações, a polícia descobriu que antes de desaparecer, Bruno assinou um contrato de publicação dos livros. 19% do lucro serão divididos entre dois amigos dele. Outros 15% vão para um primo, que emprestou R$ 20 mil para Bruno. 5% por cento ficam com a editora e 61% com Bruno – já que foi a família dele que arcou com os custos da publicação dos livros.
O delegado Alcino Júnior diz que, inclusive, as datas de lançamento dos livros estavam prefixadas nos contratos assinados entre os amigos.
“A polícia entrou para verificar o motivo da ausência. Com as buscas, que é o segundo momento, a gente descobre que há um planejamento sim. Os contratos apreendidos demonstram sim um planejamento do Bruno com os amigos Márcio Gaiote e Marcelo Ferreira pra essa divulgação do livro, inclusive, com datas prefixadas para o lançamento”, pontua.
Já o estudante se defende e diz que destinar esse lucro para essas pessoas foi uma forma de agradecimento.
“Eu até entendo que as pessoas levem a pensar essas coisas por causa de todo esse acontecimento. Só que, ironicamente, o fato de eu ter feito contrato com eles é justamente porque não me importo com dinheiro, porque o trabalho deles nesse projeto foi muito importante pra realizar meu sonho”, justifica.
Athos Borges defende o filho e diz que as críticas e outras acusações devem perdurar por um bom tempo.
“A gente não ouviu só isso, como várias outras coisas. Até hoje a gente ouve e vamos continuar ouvindo por muito tempo. Graças a Deus, trabalho aqui no Acre há mais de 30 anos, tenho uma condição razoável de vida e não preciso disso. Então, tenho certeza que não existe plano de marketing. Seria um plano de marketing talvez para que as pessoas conhecessem a obra dele”, diz.
O delegado deve ouvir Bruno nesta semana. Mas, durante coletiva ainda na sexta-feira (11), já havia informado que o sumiço voluntário de Bruno não configurava crime. “Não aconteceu qualquer crime, foi uma ausência voluntária. Até porque não há uma comprovação de dolo de intenção da família de ter armado toda essa situação aqui pra divulgação”, destaca.
Já os amigos, Marcelo Ferreira e Márcio Gaiote foram indiciados por falso testemunho. Sobre o futuro, Bruno diz que pretende escrever mais livros e se aprimorar cada vez mais.
“Penso em continuar levando a minha vida como estava adquirindo conhecimento, de uma maneira normal, como todo mundo. E me formar, aprimorar cada vez mais, construir uma carreira, continuar escrevendo as coisas q eu acredito que são importantes. Definitivamente sempre lutando e sempre trabalhando muito. Nunca parar de adquirir conhecimento de querer passar, de ajudar as pessoas de alguma maneira e aprendendo mais comigo mesmo também”, finaliza. (G1)