Hospitais de campanha no Central Park ou no estádio que abriga o US Open ilustram a metamorfose surrealista de Nova York, enquanto o número de mortos pelo novo coronavírus nos Estados Unidos superou nesta terça-feira (31) o informado pela China.

A pandemia matou mais de mil nova-iorquinos e a capital financeira do país está em uma corrida contra o tempo para aumentar dramaticamente a capacidade hospitalar antes que os casos atinjam um pico.

Meia dúzia de barracas de campanha, equipadas com 68 leitos e dez respiradores, foram montadas no icônico parque de Manhattan. Espera-se que recebam pacientes com covid-19 a partir desta terça.

"Você vê filmes como 'Contágio' e acredita que estão tão longe da realidade, que isso nunca acontecerá. Ver acontecer é muito surreal", disse à AFP Joanne Dunbar, de 57 anos, enquanto caminhava pelo parque.

Os casos declarados de coronavírus nos Estados Unidos superaram os 181.00 nesta terça, segundo uma contagem da Universidade John Hopkins, com 3.606 mortos.

A cifra também supera o número de mortos por coronavírus reportado na China: 3.309 pessoas.

A maioria dos casos e das mortes se concentra em Nova York, que se tornou rapidamente o epicentro do surto nos Estados Unidos, depois que o estado anunciou seu primeiro caso, em 1º de março.

O prefeito Bill de Blasio disse nesta terça que a cidade estava "triplicando" sua capacidade hospitalar para se preparar para o pico da pandemia, esperado entre sete e 21 dias.

"Precisaremos de um nível de capacidade hospitalar que nunca vimos, que nunca concebemos", disse ao canal de TV NBC.

Partes da Grande Maçã estão sendo transformadas preventivamente à onda de pacientes que já lota os hospitais e esgota os equipamentos médicos.

O centro de convenções Jacob Javits, no bairro de Hudson Yards, em Manhattan, foi transformado em oito dias pelo corpo de engenharia do Exército para receber quase 3.000 pacientes.

Aceitará doentes que não tiverem covid-19 para aliviar a pressão nos hospitais que se concentrarem no vírus.

A alguns quarteirões dali, no Píer 90, ancorou na segunda-feira o imponente navio-hospital "USNS Comfort", com mil leitos, 12 centros cirúrgicos e pessoal médico de mais de mil pessoas, também para receber pacientes que não tiverem o vírus.

Outras regiões da cidade foram escolhidas como instalações médicas temporárias, entre elas o Centro Nacional de Tênis Billie Jean King em Flushing Meadows-Corona Park, Queens, onde o torneio US Open ocorre todo verão. Acolherá 350 pacientes.

"As pessoas em Nova York estão em uma situação muito difícil e o que estão tentando fazer de forma apropriada é aproveitar as instalações existentes para descomprimir o aumento de casos", disse à CNN Anthony Fauci, o principal especialista em doenças infecciosas da equipe do presidente Donald Trump.

"Esperamos e acredito (...) que poderíamos começar a ver uma mudança, mas não vimos nenhuma ainda", acrescentou.

O governador Andrew Cuomo, cujo irmão, Chris, anunciou que tinha coronavírus nesta terça, advertiu os moradores de Nova York que a batalha para derrotar a covid-19 será longa.

"Meçam-se a si mesmos, meçam suas expectativas para não se sentirem decepcionados a cada dia que acordarem", disse em coletiva de imprensa.

- Escudos contra espirros -

Tim Mosher, chefe dos enfermeiros no hospital de campanha da organização evangélica Samaritan's Purse, no Central Park, disse que as 70 pessoas que integram a equipe médica, a maioria voluntários, ficarão ali pelo tempo que for necessário.

Mosher, de 58 anos, está acostumado a trabalhar em zonas de desastre: vítimas do ebola na Libéria e de cólera no Haiti. Considera "triste" que agora seja em Nova York.

"Mas queremos que haja esperança, enviar um sinal à cidade de que nos importamos e estamos aqui", disse à AFP.

As ruas de Nova York, normalmente barulhentas, estão quase vazias. A enorme maioria das lojas está fechada, muita gente caminha com máscaras e luvas - algumas pessoas até com capas de chuva transparentes ou máscaras de mergulho, embora faça sol - e o pessoal da limpeza dos prédios tem mais trabalho do que nunca.

No supermercado D'Agostino, no East Village, o gerente Larry Grossman instalou espécies de escudos transparentes para proteger seus caixas dos clientes que possam estar doentes e pôs fitas para lembrar as pessoas de que precisam manter distância.

Fonte: Por Peter HUTCHISON-AFP