Em 2018, o Brasil foi o 14º país que mais emitiu dióxido de carbono (CO2), o principal gás responsável pelo efeito estufa, no mundo. Dados do Global Carbon Atlas (Atlas Global de Carbono, em tradução livre), um esforço de diversas entidades científicas para medir as emissões do gás, mostram que o país entrou na lista dos 15 maiores emissores em 2011. Em 2013, chegou a ocupar a 11ª posição.
Antes da entrada do Brasil, o México era o único representante da América Latina no grupo.
O papel das emissões de CO2 nas mudanças climáticas voltou à tona durante o encontro de cerca de 200 países na COP 25 (conferência do clima da ONU), em Madri, na Espanha.
Encerrada no último domingo após dias de tensas negociações, a conferência resultou em um pacto no qual os países se comprometeram a estabelecer metas mais rígidas para a redução das emissões de CO2 e apresentar novas promessas climáticas na próxima grande conferência, prevista para acontecer no ano que vem em Glasgow, na Escócia.
Apoiado pela União Europeia, o estímulo a metas mais ambiciosas teve a oposição de países como Estados Unidos, Índia e China, três dos maiores emissores, além do Brasil, que chegou até a bloquear o acordo temporariamente.
Mas como mudou, nos últimos anos, o ranking dos maiores emissores de dióxido de carbono?
China longe da meta de redução
Os dados mostram que, em 2007, a China ultrapassou os Estados Unidos e tornou-se a maior emissora de dióxido de carbono do planeta, uma posição que mantém até hoje.
O salto aconteceu em meio a um período de forte crescimento econômico e industrialização do país, baseados principalmente na queima de combustíveis fósseis, como o carvão. Em 2010, a China passou a ser a segunda maior economia do mundo, superando o Japão.
Já na conferência do clima em Copenhague em 2009, o governo chinês prometeu que, até 2020, reduziria suas emissões em até 45% em comparação aos níveis de 2005.
No entanto, os dados coletados pelo Global Carbon Project, que produz o Atlas, mostram que o país parece estar longe de alcançar a meta.
Os Estados Unidos também não conseguiram reduzir suas emissões de CO2, apesar de terem fechado um número recorde de usinas de carvão em 2018.
Em novembro deste ano, o segundo maior emissor do mundo confirmou sua saída do Acordo de Paris, ao mesmo tempo em que o presidente Donald Trump flexibilizou leis que regulam os limites de emissão de gases causadores do efeito estufa.
O que acontece na América Latina?
Para se ter uma ideia, em 2018, todos os países da América Latina, juntos, emitiram cerca de 17% do total da China.
México e Brasil, as duas maiores economias da região, foram também os maiores responsáveis por essas emissões. Individualmente, cada um dos países emitiu cerca de 5% do que a China lançou na atmosfera durante o ano passado.
No Acordo de Paris, assinado em 2015, o Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030, em relação ao índice de 2005.
O governo afirma que está a caminho de cumprir a meta com folga, mas críticos afirmam que o aumento do desmatamento nos últimos anos pode reverter os avanços.
Além disso, há quem aponte que o objetivo brasileiro, como o da maioria dos países, está aquém do necessário para conter a escalada de aquecimento da atmosfera, e não representa uma mudança do modelo de desenvolvimento baseado em combustíveis fósseis.
Já o México prometeu que em 2030 suas emissões de gases do efeito estufa seriam 22% menores do que se esperaria sem planos de redução. Especialistas afirmam que o aumento recente do investimento da indústria do petróleo pode dificultar o cumprimento da meta.
Maior concentração de CO2 em toda a história humana
O Projeto Global Carbon é uma colaboração entre a rede internacional de cientistas Future Earth e o Programa Mundial de Pesquisa sobre o Clima, da ONU. Os dados coletados mostram o avanço da liberação de gases do efeito estufa na atmosfera nas últimas décadas.
No último mês de maio, segundo cientistas, os níveis atmosféricos de CO2 ultrapassaram as 415 partes por milhão (ppm) pela primeira vez em toda a história da humanidade.
A medição de 415,16 ppm foi feita por uma das principais estações de monitoramento do aquecimento global no mundo, o observatório de Mauna Loa, no Havaí, que pertence ao Instituto Scripps de Oceanografia dos Estados Unidos.
"Isso é significativo porque a última vez que a Terra teve concentrações atmosféricas de CO2 nesse nível foi provavelmente há 2,6 milhões ou até 3 milhões de anos. Ou seja, antes da evolução da espécie humana", disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, James Dyke, professor de Sistemas Globais do Departamento de Geografia da Universidade de Exeter, no Reino Unido.
De acordo com o relatório mais recente da ONU sobre o Meio Ambiente, os países precisarão quintuplicar seus compromissos de redução nas emissões de CO2 se quiserem evitar um aquecimento de mais de 1,5°C em relação ao período pré-industrial.
Há vários graus de incerteza sobre o tamanho do impacto do aquecimento global. Mas as mudanças decorrentes dele podem levar à escassez de água doce, a uma redução da capacidade global de produzir alimentos, além do aumento de mortes por inundações, tempestades, ondas de calor e seca.
BBC