Pela primeira vez sem um cargo público em 34 anos, Jair Bolsonaro (PL) vai deixar de receber salário como presidente — mas não ficará desemparado financeiramente.

Agora que terminou seu mandato, após a posse Luis Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro de 2023, ele acumulará duas aposentadorias — a de capitão reformado do Exército, que já recebe, e a de deputado federal, pelo período que ocupou o cargo, de 1991 a 2018. Bolsonaro foi vereador de 1989 a 1991.

Juntos, os dois benefícios somam cerca de R$ 42 mil brutos (cerca de R$ 12 mil do Exército e cerca de R$ 30 mil da Câmara dos Deputados).

 

Além disso, terá direito como ex-presidente a outros benefícios vitalícios, conforme prevê uma lei de 1986: quatro servidores para segurança e apoio pessoal; dois veículos oficiais, com os respectivos motoristas; e assessoramento de dois servidores ocupantes de cargos em comissão (ler mais abaixo). Gastos com diárias de hotel, passagens de avião, combustível e seguros também estão previstos. Todas as despesas são pagas pela Presidência da República e constam no Orçamento Federal.

Não há aposentadoria para ex-presidentes.

Bolsonaro também deve receber um salário de seu partido, o PL, do qual será presidente de honra.

Segundo integrantes do PL, a intenção do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, é pagar a Bolsonaro um salário equivalente ao teto constitucional do setor público — que hoje está em R$ 39,2 mil e que deve subir para R$ 41,7 mil em 2023, chegando a R$ 46,4 mil em 2025 (valores brutos).

Nesta semana, o Senado aprovou um projeto de lei, avalizado horas antes pela Câmara dos Deputados, que reajusta os salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal, com efeito cascata sobre o funcionalismo público.

Bolsonaro, que viajou aos Estados Unidos na sexta-feira (30/12), deve continuar morando em Brasília. O PL vai custear o aluguel da casa onde o ex-presidente vai morar na capital federal, bem como do escritório de onde ele despachará e que também servirá a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e ao seu candidato a vice na última eleição, Braga Netto.

Sendo assim, considerando apenas as aposentadorias e o salário pago pelo PL, Bolsonaro poderá ter uma renda pessoal de mais de R$ 80 mil mensais.

Raio x das aposentadorias e outros benefícios
Como presidente da República, Bolsonaro recebia um salário bruto de R$ 30.934,70 por mês.

Por ser capitão reformado do Exército Brasileiro, ele recebe uma aposentadoria das Forças Armadas de R$ 11.945,49 brutos por mês.

Deputado federal entre 1991 a 2018, também terá direito, por lei, a uma aposentadoria pelo tempo de serviço como parlamentar.

A aposentadoria concedida a Bolsonaro corresponde a 32,5% do subsídio parlamentar mais 20/35 (57%) do salário fixo dos membros do Congresso, segundo despacho do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), assinado em 30 de novembro.

A remuneração bruta atual de senadores e deputados federais é de R$ 33.763, ou seja, a aposentadoria de Bolsonaro será de cerca de 90% desse valor, totalizando R$ 30.265 por mês.

A aposentadoria a ex-presidentes, como previa a Constituição de 1967, promulgada durante o regime militar, foi extinta pela Constituição de 1988.

Em 1986, durante o governo de José Sarney, o então senador José Fragelli, no exercício da Presidência da República, sancionou a Lei 7.474, de 8 de maio de 1986, dando a ex-presidentes o direito de utilizar quatro servidores e dois veículos oficiais, com motorista.

Em 21 de junho de 1994, a lei 8.889, sob o governo de Itamar Franco, deu aos ex-mandatários o direito de indicar os servidores e atribuiu-lhes gratificações mais expressivas.

Já em 20 de dezembro de 2002, sob Fernando Henrique Cardoso, a lei 10.609 concedeu aos ex-mandatários mais dois servidores em cargos de comissão, para assessoramento.

Em 2008, Lula editou um decreto regulamentando a lei 7.474 de 1986, que está em vigência até hoje.

Bolsonaro já escolheu seus assessores. A lista dos nomes foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 27 de dezembro passado.

São eles: o advogado e assessor-chefe da Presidência, João Henrique Nascimento de Freitas; o capitão da reserva e assessor especial da Presidência Sérgio Rocha Cordeiro e o primeiro sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro Max Guilherme Machado de Moura, que já integrou a equipe de segurança de Bolsonaro; os segundos tenentes do Exército Osmar Crivelatti e Jossandro da Silva; o segundo sargento do Exército Estácio Leite da Silva Filho; o suboficial da Marinha Ricardo Dias dos Santos e o coronel Marcelo Costa Câmara, apontado como chefe do "serviço paralelo" de inteligência de Bolsonaro.

Como é no mundo
Apesar das críticas, o Brasil não é o único país do mundo que concede o que muitos chamam de "regalias" a ex-presidentes.

Nos Estados Unidos, ex-presidentes ganham aposentadoria (US$ 220 mil ou cerca de R$ 1,2 milhão por ano), tem as despesas com viagens pagas, escritório próprio e serviço de correio personalizado. Também recebem proteção feita pelo Serviço Secreto e relatórios da agência de inteligência do país, a CIA.

Já na França, além da aposentadoria, ex-presidentes têm apartamento mobiliado com dois empregados (frequentemente utilizado como escritório), dois policiais para proteção pessoal, carro oficial com dois motoristas e sete assessores.

Em 2019, em meio a protestos contra a reforma da Previdência, o atual presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu renunciar à pensão vitalícia (cerca de 6,3 mil euros brutos por mês ou R$ 35 mil) a que terá direito no fim do seu mandato. Ele foi o primeiro mandatário do país a rejeitar o benefício.

BBC