As autoridades de Bangladesh estão investigando a causa de um incêndio de grandes proporções em um acampamento de refugiados rohingya, no município de Cox's Bazar, no sudeste do país, que deixou 12 mil pessoas desabrigadas no domingo (05/03).

Não houve vítimas, mas o fogo destruiu 2 mil abrigos após se espalhar rapidamente por meio de cilindros de gás nas cozinhas, informaram as autoridades.

A polícia investiga se o incêndio foi um ato de sabotagem. Um homem foi detido, de acordo com a imprensa local.

Acredita-se que o acampamento de Cox's Bazar seja o maior assentamento de refugiados do mundo.

 

A maior parte dos seus mais de um milhão de residentes, refugiados rohingya, fugiram da perseguição em Mianmar, país vizinho.

Nesta segunda-feira (06/03), centenas voltaram à região de Cox's Bazar para ver o que poderiam salvar em meio às ruínas.

O incêndio começou por volta das 14h45 (horário local) de domingo e rapidamente destruiu os abrigos de bambu e lona, conforme informou uma autoridade.

O fogo foi controlado em três horas, mas pelo menos 35 mesquitas e 21 centros de aprendizagem para os refugiados também foram destruídos.

Fotos que mostram a extensão da devastação começaram a ser divulgadas.

Muitos que viviam ali podem ser vistos vasculhando a área carbonizada, onde restam apenas hastes de metal e telhados de chapas onduladas chamuscadas.

Hrusikesh Harichandan, da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, disse à BBC que houve "danos enormes" no acampamento.

Segundo ele, serviços básicos, como centros de abastecimento de água e instalações para realização de testes, também foram afetados.

"Meu abrigo foi destruído. [Minha loja] também foi queimada", disse à agência de notícias AFP Mamun Johar, um rohingya de 30 anos.

"O fogo tirou tudo de mim, tudo."

Nuvens negras e espessas de fumaça foram avistadas se elevando sobre o acampamento 11, um dos muitos na região, que faz fronteira com Mianmar.

Será difícil realocar as cerca de 12 mil pessoas desalojadas pelo incêndio — dadas as condições existentes de superlotação no "megacampo", segundo Hardin Lang, da agência Refugees International.

Fornecer serviços básicos para essas pessoas em outras partes do acampamento também será um desafio porque muitos serviços — como clínicas de saúde e escolas — foram destruídos.

"É, essencialmente, um incidente grave sobre o que já era uma população cronicamente bastante vulnerável e precariamente posicionada", disse ele à BBC.

Os acampamentos, superlotados e precários, são há muito tempo vulneráveis ​​a incêndios.

Entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, foram registrados 222 incêndios nos acampamentos rohingya, incluindo 60 casos de incêndio criminoso, de acordo com um relatório do Ministério da Defesa de Bangladesh divulgado no mês passado.

Em março de 2021, pelo menos 15 pessoas morreram e cerca de 50 mil ficaram desalojadas depois que um grande incêndio atingiu um acampamento no assentamento.

O campo de refugiados abriga pessoas que fugiram de Mianmar diante da repressão militar contra a minoria étnica rohingya.

Os rohingya são muçulmanos dentro de um país majoritariamente budista, Mianmar, onde enfrentam perseguição há gerações.

O êxodo mais recente de rohingyas para Bangladesh começou em agosto de 2017, após uma represália brutal dos militares de Mianmar contra um grupo rohingya insurgente que atacou vários postos de polícia. (BBC)