Do G1- Entre as flores mais bonitas da natureza, as orquídeas possuem um refúgio especial em Ribeirão Preto (SP). Um laboratório do departamento de biologia da Universidade de São Paulo (USP) cultiva mais de 300 espécies em um orquidário que é considerado um dos mais importantes do Brasil e do mundo.

 

O que muita gente não sabe é que a atividade é importante para a produção de uma essência muito utilizada na indústria de cosméticos e na gastronomia: a baunilha.

A seguir, conheça como funciona o trabalho na USP e de que forma ele contribui para o desenvolvimento de novos aromas da substância.

O que as orquídeas têm a ver com a baunilha?

Pouca gente sabe, mas a baunilha vem de um gênero dentro das orquidáceas chamado de Vanilla, que, em tradução livre, significa "pequena vagem".

Segundo o professor Emerson Pansarin, que estuda orquídeas há mais de 15 anos, as espécies que produzem baunilha são mais exploradas em países como Equador e México, mas o Brasil é considerado o maior centro de diversidade dela.

O país é recordista no número de espécies capazes de produzir a essência usada na indústria cosmética e na gastronomia.

Quantas espécies são produzidas na USP?

No orquidário da USP de Ribeirão Preto, são encontradas mais de 300 espécies cultivadas em mais de 2 mil vasos, entre elas 22 das 38 hoje identificadas como capazes de produzir o fruto de onde vem a baunilha.

Além do cultivo das espécies já existentes, a estufa também conta com um "berçário", onde a fusão é realizada para fins de pesquisa.

"A maior parte das espécies ocorre aqui. Já descrevemos espécies novas e encontramos duas espécies ainda não descritas pela ciência," conta o pesquisador do interior de São Paulo.

Quanto tempo leva para a orquídea produzir baunilha?

Segundo especialistas, uma orquídea pode demorar até 5 anos para começar a produzir. Depois disso, o fruto pode demorar até 1 ano para ficar pronto.

O pesquisador da USP explica que, na natureza, a baunilha produzida pelas orquídeas é polinizada por abelhas, mas também pode ser produzida pela polinização através de beija-flores. No departamento de biologia da universidade, como a estufa de cultivo é fechada, os agentes polinizadores não entram e é necessário fazer a polinização manual das espécies.

"A maioria das baunilhas é polinizada por abelhas, que vão em busca do néctar e carregam o pólen de uma flor para a outra, fazendo a polinização natural. Aqui no orquidário, como tudo é fechado, os polinizadores não entram, então fazemos a polinização manual."

Novas espécies: variedade de aromas

Uma das diferenças entre o processo natural e o manual é a capacidade de cruzar espécies através da polinização cruzada. Segundo Pansarin, a polinização cruzada contribui para a produção de novas variedades de orquídeas. Quando as novas espécies dão frutos, elas são levadas para o laboratório.

"A gente faz a polinização cruzada lá no orquidário. Se forma o fruto, a gente traz ele pra cá e faz a semeadura, visando a produção de novos aromas e sabores de baunilha."

No laboratório, são desenvolvidos estudos detalhados a respeito das flores e dos frutos. A pesquisadora Silvia Regina Pedro explica que os aromas de cada espécie são importantes para garantir a diferença entre as baunilhas produzidas.

"Qualquer um que sentir o perfume de uma flor vai perceber que é diferente de uma flor e de outra, de uma espécie e de outra, e também existe uma preferência dos polinizadores por esses aromas. É isso que vai atrair esses polinizadores."

Além do aroma, as cores de cada tipo de orquídea também influenciam na hora de atrair polinizadores na natureza, e consequentemente, criar novas espécies.

"A parte visual também é capaz de atrair os polinizadores. Dependendo do espectro de cor que ela tem nas pétalas, e do contraste que tem entre determinadas partes da flor, ela é capaz de atrair um ou outro polinizador," explica Pansarin.