Do G1- Investigada pela Polícia Civil por suspeita de golpes contra idosos em Barretos (SP), uma empresa financeira teria feito dez vítimas, de acordo com o delegado Marcelo Gambi Alves. Os valores supostamente desviados chegam a R$ 146 mil, mas o montante pode ser maior, uma vez que mais pessoas têm procurado a polícia para fazer denúncias.
Há cerca de uma semana, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da empresa. Documentos, celulares e computadores foram apreendidos e estão sob análise da perícia.
A EPTV, afiliada da TV Globo, buscou representantes da empresa Liberty Soluções Financeiras para falar sobre o assunto, mas ninguém foi localizado.
Empréstimos sem autorização
De acordo com o delegado, a empresa usava documentos de idosos para tomar empréstimos sem autorização deles. As parcelas, no entanto, eram debitadas das contas das vítimas que sequer chegavam a ter o dinheiro depositado.
“Eles usavam geralmente a forma de abertura de contas, induziam as vítimas a abrir essas contas por intermédio de bancos digitais em que é necessário apenas fazer uma selfie e a confirmação de alguns dados. Eles utilizavam esses dados para fazer a contratação se passando pelas vítimas e o dinheiro dos empréstimos era creditado nas contas de quem integrava a organização criminosa”, explica Alves.
As denúncias começaram a ser feitas em 2021, mas a investigação da polícia se intensificou neste ano com o aumento de pessoas que procuraram ajuda se dizendo vítimas.
O delegado da Polícia Civil de Barretos, SP, Marcelo Gambi Alves — Foto: Sérgio Oliveira/EPTV
O delegado da Polícia Civil de Barretos, SP, Marcelo Gambi Alves — Foto: Sérgio Oliveira/EPTV
Dinheiro que faz falta
A aposentada Sueli Muniz Andrade teve o nome usado em um empréstimo de R$ 13 mil, mas nunca usou o dinheiro e agora tem uma prestação mensal de R$ 341 sendo cobrada do salário de pouco mais de R$ 1,2 mil.
“Eu pego remédio na farmácia de alto custo, mas quando não tem, são R$ 320. Mas aí me sobram R$ 800 [descontado o valor do empréstimo] e são R$ 320 de remédio. Eu vou comer, pagar água, luz, eu moro no fundo da casa do meu filho. Eu vou viver do que? Está me fazendo falta e muita”, diz Sueli.
A aposentada Sueli Muniz Andrade mostra extrato bancário em Barretos, SP, com saldo de R$ 800 — Foto: Sérgio Oliveira/EPTV
A aposentada Sueli Muniz Andrade mostra extrato bancário em Barretos, SP, com saldo de R$ 800 — Foto: Sérgio Oliveira/EPTV
José Carlos Rodrigues e a mulher, Odete Consuelo Rodrigues, procuraram a empresa para fazer uma simulação de empréstimo com a intenção de usar o dinheiro na compra de uma casa. O susto deles foi grande quando surgiram prestações mensais de cerca de R$ 1,2 mil a serem pagas.
“Eu falei para ela [funcionária} fazer uma simulação, mas não mexer com empréstimo. Aí escreveu, tirou foto, e não deu certo a simulação, ela falou que era muito dinheiro e falou para abaixar o teste. Ela voltou depois e disse que não tinha dado para tirar R$ 150 mil, mas R$ 130 mil dava. Ela falou que só ia liberar o dinheiro se eu autorizasse, mas ela sumiu”, afirma José Carlos.
Eles procuraram um advogado e acionaram a Justiça para suspender a cobrança e recuperar o dinheiro.
“Essas empresas usam a relação de confiança com o cliente, que muitas vezes já fizeram outros empréstimos, empréstimos legítimos, e elas têm posse dos dados para fazer simulações. Mas, na verdade, esses valores nunca caem para o cliente, caem nas contas criadas por eles e eles têm acesso a cartão e transferem para outras contas”, diz o advogado do casal, Caio César Silva Ávila de Lima.
Investigação
O delegado ainda busca detalhes sobe como os funcionários da empresa obtinham os documentos das vítimas, mas já sabe que eles as induziam ao erro.
“Envolvia sempre um empréstimo consignado que era contratado e muitas vezes os criminosos que trabalhavam nessa empresa alegavam que o empréstimo não funcionou e [os idosos] precisavam voltar, fazer novas aberturas de contas, e essa era a forma que eles utilizavam para conseguir aplicar os golpes.”
Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, nenhum suspeito foi preso. O delegado, no entanto, não descarta pedir a prisão de suspeitos ao fim do inquérito.