Durante 59 anos, olhar a cidade por meio da fotografia foi a razão da vida de Tony Miyasaka, em Ribeirão Preto. Com uma produção fotográfica de mais de 14 mil imagens, Miyasaka permitiu documentar as transformações vividas pela cidade e por seus habitantes.
“As fotos demonstram o olhar privilegiado que ele tinha sobre a cidade”, destaca o pesquisador Rafael Franklin Almeida Bezzon, aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara, que tem orientação do professor Edgar Teodoro da Cunha, pesquisador do grupo de pesquisa CNPq NAIP - Núcleo de Antropologia da Imagem e Performance. Rafael defende dissertação sobre a obra do fotógrafo, dia 29 deste mês, intitulada O Japonês da Gravata Borboleta Trajetória, Arquivo e Imagem: a experiência de pesquisa no e com o Arquivo Miyasaka.
Mesmo Miyasaka tendo fotografado de 1949 a 2004, ano de sua morte, Bezzon trabalhou em sua pesquisa com as fotos produzidas entre os anos de 1950 a 1960, conjunto denominado “jovem Miyasaka”: são três mil imagens, todas em preto e branco, produzidas em diferentes contextos."
O período de produção analisado pelo pesquisador foi um momento de intensa produtividade da chamada “Escola Paulista” de fotografia, dirigida pela produção fotográfica do Foto Cine Clube Bandeirante, sediada em São Paulo, e que ajudou a difundir o conceito de fotografia artística no Brasil. “Em razão da trajetória vivida pelo fotógrafo ribeirão-pretano é possível perceber a influência desse movimento em sua produção fotográfica, tanto na construção estética das fotos como os assuntos que Miyasaka favoreceu com sua câmera”, conta Bezzon.
O Arquivo Miyasaka é composto de fotografias, negativos fotográficos, alguns já digitalizados, além de documentos que tratam da trajetória profissional e de vida do fotógrafo, textos autobiográficos e crônicas que ele escrevia para jornais da cidade.
Segundo o pesquisador, as fotos foram produzidas em diferentes contextos de seu trabalho profissional e do seu projeto pessoal de registro e documentação da cidade e de seus acontecimentos. “Há fotos retrato realizadas em estúdios; fotografias de ruas e espaços da cidade; fotos aéreas realizadas em aviões; fotos de eventos políticos; e prédios em construções”.
Miysaka teve uma atuação bem variada no universo fotográfico: trabalhou como fotógrafo retratista de estúdio, inseriu na cidade e na região os serviços de reportagem social, prestou serviços fotográficos para os órgãos públicos de Ribeirão: prefeitura, polícia, perícia, além de realizar uma grande produção de fotografias aéreas, “uma de suas paixões”, destaca Bezzon que a informação foi dada pela viúva do fotógrafo e uma das interlocutoras da pesquisa.
Ele também prestou serviço para os principais jornais da cidade, foi um comerciante de produtos relacionados à fotografia - por meio da loja criada pelo seu pai junto aos filhos, o estúdio Foto Miyasaka - e, até a sua morte trabalhou no laboratório de revelação fotográfica, sendo considerado o primeiro laboratório de revelação à cores do interior do Estado de São Paulo.
Ainda, no ano de 1960, fundou, junto com outros profissionais, o Centro Experimental de Cinema da cidade, onde produziram 15 filmes de animação e ganharam alguns prêmios no Brasil e na França. Sua premiação mais expressiva se deu na Vº Jounées Internacionale du Cinema d’Animation, Annecy, em 1963, com o filme Tourbillon, no qual Miyasaka assina a direção fotográfica.
O pesquisador conta que trabalhou com um processo etnográfico, estabelecendo relações com as pessoas, os objetos e o espaço do arquivo, para assim refletir sobre a trajetória profissional e de vida de Miyasaka, o que permitiu compreender sobre o que seu arquivo e suas imagens tematizam.
“A partir da trajetória do fotógrafo foi possível entender este momento, a produção entre os anos 1950 e 1960, de bastante efervescência cultural que passava a cidade e como isso influenciou nos caminhos percorridos pelo fotógrafo, seu arquivo e sua produção imagética”, explica.
Arquivo Miyasaka
Atualmente, o Arquivo Miyasaka está sediado na residência que foi do fotógrafo, onde vive a viúva, Dona Tereza, e a filha, Elza. O arquivo é composto por três conjuntos fotográficos: Jovem Miyasaka, Fotos Aéreas e Fotos Artísticas. Parte das fotografias foram digitalizadas e estão armazenadas em um hd externo.
Segundo Bezzon, a coleção busca apoio financeiro. “É preciso que o arquivo receba uma estrutura profissional para salvaguardar todo o material e criar condições necessárias para que ele seja acessado e tenha todo seu material digitalizado”.
A pesquisa teve o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).