Cocaína (Crédito: Steve Buissinne/Pixabay)
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão realizando testes de uma vacina que é capaz de criar anticorpos contra cocaína e bloquear os efeitos da droga. O principal objetivo é auxiliar no tratamento de dependentes químicos. Os pesquisadores desenvolveram em laboratório uma molécula que se liga à droga, tornando-a identificável pelo sistema imunológico.
“Na verdade, a cocaína não é identificada pelo nosso sistema imune porque ela é uma molécula muito pequena. Então, a gente precisa ligar moléculas grandes para o sistema imune 'olhar' para a cocaína e 'falar' assim: ‘você não é bem-vinda aqui’. O que esta molécula faz é tornar a cocaína uma molécula pouco bem-vinda no organismo”, explicou o pesquisador Frederico Garcia, coordenador do Centro de Referência em Drogas da UFMG.
A partir daí, as células de defesa do organismo entram em ação. “E aí, nossos glóbulos brancos passam a produzir anticorpos contra a cocaína. Então, toda vez que a cocaína entra na corrente sanguínea, estes anticorpos se ligam à cocaína e não se desligam. E, aí, impedem que ela entre numa barreira protetora do cérebro”, completou. Dessa forma, o usuário deixa de ter os efeitos da droga. experimento é desenvolvido desde 2013 pelo Núcleo de Pesquisa em Saúde e Vulnerabilidade. Neste momento, os pesquisadores comemoram a análise do registro de patente pelo Instituto Nacional de Proteção Intelectual (Inpi).
A vacina anticocaína passou por testes em roedores e está liberada para estudos em macacos. Esta fase vai sinalizar a possibilidade de experimentar em pessoas. “É um modelo que se aproxima muito mais de seres humanos para ver se a vacina não causa nenhum mal nestes animais ou se poderia causar algum mal para seres humanos”, disse.
Pasta base de Cocaína (Crédito: Foca Lisboa/UFMG)
Com os resultados em mãos, ainda será preciso autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). “A gente acredita que até junho do ano que vem já consiga começar a pesquisa em seres humanos. Isso levaria dois a três anos até a comercialização”, fala sobre o futuro.
Para começar os trabalhos foi requerida uma doação à Polícia Federal (PF). “Utilizando a molécula de cocaína, a gente conseguiu sintetizar esta nova molécula, que permite produzir a imunização”, explicou. O estudo envolve 18 pessoas, entre professores, mestrandos, doutorando e estudantes de medicina.
Garcia explica que a pesquisa da UFMG trouxe novidades frente a experimentos que estavam em andamento no mundo. “Ao invés de usar uma proteína, a gente usa uma molécula orgânica, que tem vantagens: o fato dela ser fabricada em laboratório de maneira muito fácil, de não precisar ser armazenada congelada ou mantida em baixa temperatura. Então é mais estável, tem uma química que é mais previsível”.
O pesquisador ressalta que o potencial da vacina é ser uma aliada no tratamento de dependentes químicos. "No usuário, o que a gente espera é aumentar a taxa de abstinência para que as pessoas consigam retomar a vida com autonomia e independênciam, como elas merecem. O que a gente acha é que a vacina associada a outros tratamentos vai aumentar as chances de sucesso destes tratamentos”, afirmou.
Fonte: Do G1