A professora de Araraquara impedida de assumir o cargo em um concurso público por ser considerada obesa mórbida desistiu de lecionar para o Estado e vai processar o órgão por danos morais. Aprovada em 15º lugar, Ana Carolina Buzzo Marcondelli tenta há sete meses assumir o posto e mostrar ser apta para dar aulas, mas ficou desestimulada com as barreiras. “Cansei de ser humilhada, não mereço isso, sempre que lembro o que estou passando fico revoltada”, disse.
Ana contou que terça-feira (18) foi o último dia que ela deu aula para o Estado, como professora temporária. A última ação movida pela advogada dela no Tribunal de Justiça foi no dia 21 de outubro e o recurso também foi negado. “O processo continua, juridicamente eu não sei qual o próximo passo, está nas mãos da minha advogada, mas vai dar uma briga boa ainda em relação a isso", contou.
A bióloga de 30 anos foi considerada acima do peso pelos exames do Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) e recorreu do resultado, mas as respostas não foram animadoras. Pela Justiça, ela também não conseguiu uma liminar para ocupar o cargo. “A vaga é minha e eu não vou desistir dela, agora que entrei nessa vou até o fim pelo que é meu por direito. Estou decidida”, comentou Ana.
Agora, Ana trabalhará somente como professora em uma universidade e aproveita para se dedicar ao doutorado, o qual prestará uma prova em dezembro. "Eu não tenho o que reclamar dos alunos e profissionais que trabalham comigo, o problema é o sistema. Depois de tudo que passei não quero trabalhar para eles", disse.
Na última entrevista dada ao G1 ela confessou estar desgastada com a situação. “Adoro minha profissão, mas ainda estou recolhendo os cacos que esta história causou em mim”, comentou.
O caso
A professora passou no concurso para lecionar ciências e biologia em Matão (SP). Em fevereiro deste ano, ela fez os exames e em março recebeu o resultado de que não poderia assumir o cargo por ser considerada obesa mórbida pelo médico perito. A mulher entrou com recurso e foi considerada inapta novamente em abril. No mesmo mês, Ana entrou com um segundo recurso, que também foi negado.
No primeiro exame, com 1,65 metros e 117 quilos, o Índice de Massa Corporal (IMC) de Ana foi de 43. O número é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como obesidade mórbida, já que o limite é de 40. "Não é necessário ser magra seguindo os padrões de beleza. É preciso ter capacidade intelectual", disse.
Em nota, o Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) informou que segue critérios técnicos e científicos previstos no Estatuto dos Funcionários Públicos e que Ana, além de ser obesa mórbida, tem outros problemas de saúde. (G1)