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A Polícia Civil e a Prefeitura de Monte Alto investigam a suspeita de negligência médica após a morte de uma diarista com aneurisma cerebral.

Eliane dos Santos, de 44 anos, morreu no dia 11 de janeiro, depois de ser atendida diversas vezes em unidades de saúde sem o diagnóstico da doença, apesar de se queixar de constantes dores de cabeça e desmaios.

Ela ainda chegou a ser encaminhada para a Santa Casa de Sertãozinho, onde não havia vaga de internação, e depois para a Santa Casa de Ribeirão Preto, onde foi submetida a uma cirurgia no dia 7, mas teve morte cerebral quatro dias depois. Para a família da vítima, esse desfecho poderia ter sido evitado.

"Se os médicos tivessem dado a devida atenção, com certeza [a morte] poderia ter sido evitada sem dúvida alguma", afirma a dona de casa Maria Eunice da Silva, irmã da paciente.

A secretária municipal de Saúde de Monte Alto, Sueli Mello, confirmou ter instaurado uma sindicância interna para apurar a conduta dos profissionais envolvidos e responsabilizar os eventuais culpados.

"Todos estamos interessados em apurar se houve negligência, porque a paciente foi atendida. A gente sabe que ocorreu aneurisma, um aneurisma é um diagnóstico difícil de dar, até 1% da população pode ter e é difícil detectar. Tanto que essa paciente fez duas tomografias e não deu nada", afirmou.

Responsável pelas investigações no âmbito da Polícia Civil, o delegado George Ary disse que, após um registro de boletim de ocorrência por parte do município, instaurou um inquérito e, além de ouvir os envolvidos, vai analisar as fichas médicas da diarista e laudos periciais do caso.

Em nota, a Santa Casa de Sertãozinho informou que a paciente chegou a ser encaminhada para a unidade no sistema vaga zero, ou seja, sem disponibilidade imediata de internação. Mas, depois de uma avaliação médica, o hospital alegou ter orientado a família a retornar a Monte Alto e a procurar outro centro de atendimento especializado diante da gravidade da paciente.

A Santa Casa de Ribeirão Preto comunicou que Eliane deu entrada na unidade em coma profundo e, após exames mostrarem uma grave hemorragia cerebral, a paciente foi submetida a uma cirurgia no dia 7 de janeiro, mas teve morte cerebral no dia 11.

'Dor de cabeça comum'

Eunice conta que a irmã teve a primeira crise no dia 7 de dezembro, data do primeiro atendimento no posto de saúde em Monte Alto, e que as dores se tornaram mais comuns a partir do dia 16.

Entre idas e vindas quase diárias ao médico ao longo de um mês, quando era medicada com remédios como analgésicos, a paciente continuou a trabalhar à espera de uma consulta com um neurologista.

"Ela ia mesmo com dor, dizia que a dor era suportável, porque estava esperando pra passar pelo neuro", afirma.

Em um vídeo obtido pela reportagem, Eliane grita de dor enquanto espera por atendimento em uma maca. Apesar disso, segundo a família, os médicos não consideravam o caso grave.

Em uma ficha médica obtida pela EPTV, afiliada da TV Globo, é possível ver que um dos atendimentos de Eliane foi sinalizado com verde, que significa que o caso não era urgente.

"Uma dor de cabeça comum. Todos eles, os médicos plantonistas pelos quais ela passou no pronto socorro, diziam a mesma coisa, dor de cabeça não se interna. Ouvi essa frase de todos os médicos com que ela se consultou, todos diziam a mesma coisa", afirma.

O quadro de saúde Eliane piorou no dia 4 de janeiro, quase um mês depois que as dores começaram, quando, de acordo com a família, ela foi internada no pronto-socorro de Monte Alto. No dia 5, segundo a família, ela foi levada com febre para a Santa Casa do município, onde entrou em coma e teve o aneurisma confirmado.

Ela chegou a ser levada para a Santa Casa de Sertãozinho, mas como não tinha leito no hospital, voltou para Monte Alto e foi transferida na sequência para a Santa Casa de Ribeirão Preto. Ela foi submetida a uma cirurgia, mas não resistiu. A família está revoltada e quer que os responsáveis sejam punidos.

"Quantos outros mais vão acontecer? Quantas Elianes mais no caminho da vida vão morrer por falta de competência médica, por falta de amor à profissão?", lamenta Eunice. (EPTV)