Em parceria com instituto alemão, Sabesp vai abastecer 200 veículos com biometano produzido em estação de tratamento. Sistema tem benefícios financeiros e ambientais, diz companhia.

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Estação de tratamento de esgoto da Sabesp, em Franca (SP), ganha tecnologia que produz biometano para carros (Foto: Reprodução/EPTV)

Em uma parceria considerada inédita no país, a Sabesp inaugurou na quinta-feira (5) em Franca uma tecnologia que permite a utilização do biogás do esgoto no abastecimento de veículos.

 

O biometano é adequado para motores que já aceitam o gás natural veicular (GNV) e vai movimentar 200 carros da companhia, que no município recebe 50 milhões de litros de resíduos por dia. A cidade escolhida para o início do projeto é reconhecida por tratar 100% do esgoto gerado.

A tecnologia, que demandou um investimento de R$ 7,4 milhões, representa economia de gastos com combustíveis como a gasolina e benefícios ao meio ambiente, além de ter potencial para ser expandida para todo o país, afirma o presidente Jerson Kelman.

"Esse biogás em várias estações de tratamento de esgoto do país é desperdiçado, é queimado. O que nós estamos fazendo aqui de forma pioneira é utilizar esse biogás de uma forma útil, ou seja, separando os componentes nocivos para a combustão com processos químicos por filtragem. Nós conseguimos produzir um produto puro o suficiente para ser utilizado em veículos", diz.

Do esgoto ao biometano
O biometano é o resultado de uma série de filtragens feitas a partir do gás resultante dos resíduos sólidos processados nos biodigestores da estação de tratamento.

Bruto, o metano traz em sua composição substâncias prejudiciais ao funcionamento do carro, que são retiradas por etapas, explica a superintendente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Sabesp, Cristina Zuffo.

O resultado é um combustível com até 97% de pureza, dentro dos padrões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. (ANP).

"O gás de esgoto tem muitas impurezas na composição: gás carbônico, a própria umidade, siloxanos, que vêm dos produtos de beleza e higiene pessoal. E a gente precisa aumentar o poder calorífico desse gás, ter um poder de combustão maior. Então é preciso tirar todas essas impurezas pra gente poder deixá-lo com mais metano possível e atender as condições para colocar em carros", explica.

A ideia não é recente. Nos anos 1980, a Sabesp já havia realizado uma iniciativa parecida, mas não encontrou meios tecnológicos adequados de torná-la viável.

"Pelo fato de a gente não dominar totalmente a tecnologia, isso mundialmente falando, a tecnologia de purificação desse biogás, e também pelo fato de não termos muitos carros adaptados pra uso do GNV, que é a mesma tecnologia que a gente usa para o biogás, esse projeto acabou não tendo muito sucesso, mas foi bom, porque a gente aprendeu os caminhos", afirma.

A implantação do atual sistema levou dois anos e foi possível graças a uma parceria com o Instituto Fraunhofer IGB, fundação de pesquisas aplicadas existente desde 1949 que forneceu os equipamentos que armazenam, beneficiam e comprimem o biogás.

Por outro lado, a Sabesp cuidou das instalações necessárias, das adaptações dos veículos para poderem receber o biometano e das questões burocráticas. Com um tempo estimado em sete anos para obter o retorno do investimento, Kelman defende que o sistema é financeiramente viável.

"Talvez o principal desafio seja em cidades em que os veículos já não utilizam o gás natural tenham que fazer a conversão. Essa conversão é um desafio que terá que ser vencido. Em cidades onde já há tradição, já há gás natural isso fica mais fácil, porque o processo é o mesmo."

Ao todo, 1,5 mil litros de gasolina deixarão de ser consumidos por dia somente em Franca, segundo ele. "Isso pode ser replicado país afora. Nós da Sabesp pretendemos fazer isso e outras empresas de saneamento podem seguir o exemplo." (EPTV)