cajuru

Câmeras de segurança flagraram o menino de 2 anos voltando para casa a pé, após conseguir sair da creche sozinho em Cajuru (SP). O caso ganhou repercussão nacional no mesmo dia e a mãe passou a acusar as funcionárias da escola de negligência.

A Polícia Civil investiga o caso como abandono de incapaz. A Prefeitura também instaurou um processo administrativo para apurar como a criança deixou creche sem ser notada. A servidora responsável pela entrada e saída dos alunos foi afastada.

Nas imagens divulgadas pelo Fantástico é possível ver o garoto andando sozinho pela calçada. Ele percorreu cerca de um quilômetro entre os bairros Dom Bosco, onde fica o centro educacional, e Três Marias, onde mora com a mãe.

O vídeo mostra a criança correndo no meio de uma rua. O garoto para e volta para a calçada, ao perceber que um carro está se aproximando. Em seguida, ele passa atrás de um poste na calçada e continua correndo, como se estivesse brincando.

Depois de caminhar por várias ruas, o garoto ainda atravessou uma avenida bastante movimentada, próxima à entrada da cidade. A mãe do menino, que pediu para não ser identificada, diz que ficou ainda mais assustada ao ver as imagens.

“É uma coisa que não existe. Eu, sinceramente, até agora não estou acreditando no que aconteceu. Eu fico pensando ‘graças a Deus ele desceu para cá’, porque imagina se ele tivesse virado para a pista, onde a gente morava no ano passado”, afirma.

A moradora relembra que estava limpando a casa próximo de 11h da última terça-feira (2), quando ouviu um barulho no portão e deu de cara com o filho já na sala. Ela conta tinha o hábito de levar e buscar o menino da creche a pé todos os dias.

“Ele veio até mim falando ‘oi, mamãe, mamãe’. Fique apavorada e falei ‘o que você está fazendo aqui? Quem trouxe você, foi seu pai?’. Eu saí e não tinha ninguém, só os pedreiros. Perguntei de onde ele tinha vindo e os rapazes falaram que ele estava sozinho”, diz.

Um dos trabalhadores era Diego André dos Reis Lopes, que todos os dias vê mãe e filho fazendo o trajeto para ir e voltar do colégio. O pedreiro afirma que estava trabalhando dentro da construção e ficou espantado ao flagrar a criança descendo a rua sozinha

“Eu vi descendo correndo sozinho, vi que estava desacompanhando, saí na rua e perguntei onde estava indo. Ele respondeu que estava indo para casa, falou que estava na escolinha e estava indo para casa. Eu fiquei olhei se ia para casa dele, porque moro na mesma rua”, conta.

A mãe diz que no mesmo instante em que o filho chegou, os dois voltaram à creche. As câmeras de segurança gravaram ambos caminhando pelo mesmo trajeto que a criança fez ao voltar para casa. A mulher diz que foi recebida com deboche na escola.

“Cheguei e as funcionárias estavam encostadas no portão, me esperando com os braços cruzados, foi uma coisa que eu achei ridículo da parte delas, porque nem para irem atrás, me ligarem. Elas só descobriram porque eu apareci na creche com ele”, afirma.

Ainda segundo a mãe, uma servidora contou que o menino já havia tentado fugir outras três vezes, em dias diferentes. Na terça-feira, a reportagem da EPTV,  constatou que as chaves estavam na fechadura do portão da creche e eram facilmente acessadas por fora.

“Agora, não quero colocá-lo em creche nenhuma. Vamos ver daqui a um tempo, porque é difícil, a gente deixa nosso filho em um lugar onde acha que vai ser bem cuidado e acontece uma coisa dessas”, desabafa. “Não digo que foi sorte, eu acho que foi Deus que pegou na mão dele e falou ‘vamos embora para casa’”, completa.

Para o educador José Eduardo de Oliveira, o caso reflete a falta de segurança em escolas e creches no país, assim como o despreparo de parte dos educadores. O especialista destaca também a indiferença que existe entre as pessoas, já que ninguém abordou a criança durante o trajeto.

“A gente começa a questionar os valores dessa sociedade. Alguém olhou e falou ‘ah, mas não é meu filho, então não tenho responsabilidade nenhuma’. A gente se pergunta, se fosse algum objeto de valor, será que se fosse dinheiro, celular, as pessoas também olhariam e diriam ‘não é meu, não vou tocar’?”, questiona.

A secretária de Educação de Cajuru, Adriana Pontes Vieira, classifica a saída do aluno da creche sem que ninguém notasse como um “fato lamentável” e diz que já foi instaurado um processo administrativo para apurar a conduta das funcionárias.

“Foi um fato lamentável, que nunca aconteceu em nossas escolas. Elas têm um sistema de segurança, portões sempre fechados, uma coisa que a Secretaria sempre se preocupou muito. Inclusive, tenho ofícios anteriores, mandando sempre estarem fechados”, alega.

Na quarta-feira (3), o procurador jurídico do município, Luis Evaneo Guerzoni, disse ao G1 que a funcionária responsável pela entrada e saída dos alunos havia sido transferida para outra escola. Agora, a secretária de Educação diz que a servidora foi afastada do cargo. (EPTV)