A descoberta do grupo foi destaque na Physical Review Letters, principal revista de Física internacional.

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O itapolitano Marcos Moro, que integra grupo cuja descoberta foi destaque na Physical Review Letters (principal revista de Física internacional) e está levando o nome do Brasil mundo afora.

 por Karina Cardili/Redação RN- Com apenas 28 anos, o itapolitano Marcos Moro está sendo responsável por levar o nome do Brasil mundo afora. E isso dentro de uma importante área da ciência: a Física Nuclear.

 

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Marcos na Johannes Kepler University (Áustria)

Dono de um currículo admirável (leia abaixo) Marcos, que é formado em Física, tem vários trabalhos publicados em periódicos internacionais e foi premiado com o Santander Postgraduate Research Award da University of Surrey (Inglaterra), integra o Grupo de Física Aplicada Com Aceleradores do Instituto de Física da USP e o Grupo de Física Atômica da Johannes Kepler University, da Áustria, composto por cientistas da Áustria, Espanha, Suécia e do Brasil (ele é o único integrante brasileiro a fazer parte do grupo), cuja descoberta contribui muito com a Física Nuclear e suas aplicações.

Através de pesquisas realizadas pelo Grupo, que é liderado pelo Professor Dr. Peter Bauer, os cientistas conseguiram demonstrar que a forma como se calculava a quantidade de energia que o íon perde ao penetrar em uma amostra (poder de freamento) estava errada e que a teoria está incompleta. Detalhe: a teoria de poder de freamento é estudada há mais de 100 anos e esta é uma importante descoberta que comprova tal falha.

A descoberta foi publicada com destaque na principal revista de Física do Mundo: a Physical Review Letters.

De acordo com Marcos, a descoberta é muito relevante para a comunidade científica, e pode contribuir para melhorar outros ramos da ciência, tais como no combate ao câncer, com a técnica chamada de Protonterapia (agindo com mais precisão sobre as células doentes).

Confira a seguir a entrevista concedida por Marcos para á reportagem.

Fale sobre a pesquisa e sua importância
Uma importante área de pesquisa da Ciência atualmente é baseada na Física Nuclear e conhecida como "Interação de íons com a matéria". Íons são partículas atômicas carregadas (tais como prótons e alfas) que são aceleradas através de grandes máquinas chamadas de "aceleradores de partículas" e colididas com um material-alvo. Quando estas partículas altamente energéticas e invisíveis a olho nu atingem uma amostra que foi colocada em sua frente, várias reações nucleares ocorrem e elas começam a ser desaceleradas num processo chamado de "poder de freamento eletrônico". Como Físico Nuclear, temos o papel de detectar e analisar essas reações nucleares entre o íon e o material-alvo, através do uso de equações matemáticas e física de alta precisão como a Quântica.

Como resultado destas análises, informações importantes com relação a amostra em um nível atômico são obtidos. Desde que o material a ser analisado pode ser qualquer coisa, como um pedaço de meteoro que caiu na terra ou uma amostra de tecido humano ou mesmo uma pintura de quadro do século XV, a Física Nuclear de Interação de Íons com a Matéria de uma maneira geral vem sendo aplicada em várias áreas da ciência com impactos diretos na sociedade, tais como engenharias, biologia, desenvolvimento de novos materiais, tecnologia espacial, geração de energia e na medicina como no caso da protonterapia.

A Teoria de Poder de Freamento é estudada há mais de 100 anos. Como vocês chegaram a conclusão experimental de que ela está incompleta?
Esta teoria "nasceu" no começo dos anos 1900 juntamente com o nascimento da Física Nuclear, com os trabalhos pioneiros da cientista Curie que, diga-se de passagem, foi a única cientista (e mulher) até hoje que conseguiu ganhar dois prêmios Nobel em diferentes áreas da ciência. Como é comum na ciência, tanto os experimentos quanto as teorias são melhorados e aperfeiçoados com o decorrer do tempo (junto com o avanço tecnológico). Desta maneira, conseguimos via experimentos no acelerador de partículas da Áustria, descobrir que a teoria de poder de freamento já não apresenta mais uma acurácia compatível com os padrões da aplicações que hoje necessitamos. Ou seja: comprovamos cientificamente que nós precisamos melhorar a teoria fundamental para obtermos resultados melhores de todas as aplicações supracitadas.

Esse resultado poderá um dia ajudar na precisão da técnica de tratamento contra o câncer conhecida como protonterapia. Quais outras áreas ela pode vir a apoiar?
Além da protonterapia outra importante aplicação que faz uso da interação de íons com a matéria é na tecnologia espacial, por exemplo. Todo e qualquer dispositivo eletrônico que esteja no espaço (satélites de telecomunicações, telescópios, a estação espacial internacional, etc) estão fora da camada de proteção que envolve a terra: a Atmosfera, estando expostos, portanto, à radiações ionizantes presentes no espaço (prótons e alfas de alta energia viajando no espaço e colidindo com estes equipamentos). Nós terrestres estamos seguros aqui pois é muito difícil (estatisticamente falando) um partícula como um próton ou uma alfa conseguir atravessar toda a atmosfera e atingir nossas cabeças. Porém, no caso dos dispositivos espaciais, necessitamos testá-los em laboratório e desenvolvê-los resistentes à radiação para assegurar que estes não serão danificados devidos a essas colisões quando estiverem no espaço... Imagine um satélite - que custa em média o seu peso em quilogramas convertido em ouro - após ser lançado ao espaço, tenha seu funcionamento comprometido porque apenas um de seus milhares de processadores do tamanho de uma moeda de 1 centavo se danifique ao ser colidido por um próton que estava "viajando" no espaço? Alguém na terra perderia o emprego, não?

Como você se sente fazendo parte do grupo responsável por uma descoberta que recebeu tanto destaque internacional?
Você tem que pensar que esse aumento do conhecimento e da compreensão humana irão de alguma forma evoluir a sociedade em que vivemos, não importando o quanto isso contribui, desde que contribui! Isso tem que vir em primeiro lugar sempre. Mas outra coisa que me deixa muito feliz - e que particularmente eu levo muito em consideração - é a representatividade que traz para o Brasil. Veja, quando pessoas de vários países lerem essa publicação, pouquíssimos saberão quem é o "MV Moro" que aparece nos autores, mas muitos reconhecerão a USP e seguramente TODOS irão ver o nome do Brasil! Essa representatividade para nosso Brasil é pra mim outro bom fruto de se fazer ciência (especialmente nesta atual crise político-econômica que vem deteriorando a imagem do Brasil para todo o Mundo que afora dos arredores de nosso território e de nossa cultura).

*Marcos V. Moro é graduado em Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Mestrado em Física Universidade de São Paulo (IF-USP) e está terminando o Doutorado em Física também pela USP. Durante a graduação, trabalhou com Física Estatística e publicou em periódico científico internacional. Durante seu mestrado, já na USP, foi premiado com o Santander Postgraduate Research Award da University of Surrey, Inglaterra, onde realizou especialização em análises atômicas. Durante seu doutorado foi convidado para fazer colaboração com a Johannes Kepler University (JKU), Austria. É autor e co-autor de 9 artigos publicados em revistas científicas internacionais de impacto. Foi membro de comitê editorial da Journal of Physics: Conference Series, é Membro da Sociedade Brasileira de Física e membro da Sociedade Brasileira de Espectroscopia de Massas. Proferiu palestras em vários países: Brasil, Equador, México, Espanha, Inglaterra, Áustria e Suécia. Atualmente exerce colaboração com o Grupo de Física Atômica da JKU - Áustria.