O filho do alpinista ibitinguense Rodrigo Chaddad Raineri, de 55 anos, que morreu acidente durante um salto de parapente no norte do Paquistão, afirma que o pai morreu fazendo uma atividade que era sua "terapia" e que "estava feliz.

Rodrigo era um dos alpinistas mais técnicos e experientes do Brasil e alcançou o topo do Monte Everest três vezes. A causa do acidente teria sido o rompimento do paraquedas.

À EPTV,  Rodrigo Rocha Raineri, de 22 anos, contou que recebeu a informação da morte por sua madrasta, Talita Campos Camargo.

 "Foi bem chocante. É um acontecimento que a gente nunca espera, né? Apesar de uma vida inteira meio que meu pai tentava me preparar, sempre falou sobre... É um esporte de risco, sempre foi um esporte de risco [...] Mas nada prepara a gente para isso, nada prepara", conta.

O filho conta que, mesmo longe, o pai sempre buscava estar presente, por meio de mensagens e ligações.

"Estava em chamada de vídeo com ele há 48 horas atrás, nem isso. Então, a gente estava se falando todo dia, conversando, mandando mensagem, foto, atualizando sobre a vida".

Ele lembra a última conversa que tiveram. "A gente estava falando sobre a FEF [Faculdade de Educação Física, que o filho cursa]. Eu nunca fui o melhor aluno, então ele estava pegando no meu pé por causa dos estudos. E, enfim, ele estava bem, contando que ele ia sair para começar o processo final da expedição, de ir, de fato, pro meio das montanhas", recorda.

Ele relembra que o pai estava "super empolgado" com a nova aventura. "Ele sempre se sentiu muito à vontade quando ele estava mais próximo da natureza. Ele clareava. Tinha dois Rodrigos: o Rodrigo da cidade e o Rodrigo do meio do mato".

Redução no ritmo das escaladas e voos

No entanto, nos últimos tempos, o pai tinha diminuído o ritmo nas atividades de montanhismo. "Ele tinha mudado um pouco pra área de tecnologia, então, acabou que ele deixou de ter tanta atividade pra ir pro meio do mato, pra ir pra alta montanha. Mas ele nunca deixou de fazer atividade física".

O filho relata que o pai já tinha experiência em escalar montanhas e descer em voos de parapente.

"Ele sempre foi muito dedicado, sempre tinha muita vontade de ir pra frente, não tinha muita coisa que parava ele. E aí o que ele queria fazer, ele fazia".

Felicidade pela formação do filho

Rodrigo conta que é difícil responder como será daqui para frente sem o pai, mas uma das forças que o motivam é a alegria do pai por ele ter seguido na área de educação física.

"Eu tenho certeza que ele sempre iria querer me ver feliz, seguir a vida, e com certeza terminar minha faculdade, porque ele estava muito feliz que eu estava na área de educação física, e eu também estou. Então, as coisas acontecem, é muito triste lidar com a frustração, é uma coisa muito difícil, mas a gente tem que seguir vivendo".

Ele também se lembra que o pai morreu em uma atividade que fazia bem para ele. "E ele estava fazendo o que ele gosta. Sem dúvida nenhuma, ele estava feliz, muito feliz [...] A terapia dele era no meio do mato".

Escalador completo

Rodrigo Raineri era considerado um escalador "completo" e estava entre os alpinistas mais técnicos do Brasil, com experiência de mais de 30 anos e atuação em rocha, gelo e alta montanha, como é descrito no site profissional do atleta.

Ele liderou centenas de expedições pelo mundo. Foi o primeiro brasileiro a escalar três vezes o Monte Everest. Raineri se tornou o único brasileiro a guiar expedições aos sete Cumes, projeto que abrange escalar as mais altas montanhas de cada continente em 2016.

Completou a 6ª expedição à montanha mais alta do planeta, em 2019, com mais de 8,8 mil metros de altitude.

Na companhia de Vitor Negrete, formou a única dupla brasileira a escalar a Face Sul do Aconcágua, topo mais alto das Américas, a 6.962 metros de altitude, com subida considerada uma das difíceis do mundo. A conquista é um marco no montanhismo brasileiro.

Com o parceiro, também escalou o Aconcágua durante inverno de -30ºC. Durante a subida, enfrentaram uma tempestade de neve.
Em 2013, realizou uma de suas expedições ao topo da maior montanha do mundo, o Everest, na Ásia. Foram 67 dias de expedição. Utilizou uma máscara de oxigênio durante a subida. A temperatura chegou a -29ºC, com sensação térmica de -50ºC.

"Chegar no cume do Everest é sempre uma sensação indescritível, muito bom. Eu acho que a gente buscando grandes conquistas, realização de sonhos, a gente tem mais motivação para viver", comentou Rodrigo à época.

Escritor, palestrante e consultor

Formado em Engenharia de Computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raineri também era diretor de uma empresa de turismo, além de palestrante e consultor.

O atleta somava mais de 1,8 mil palestras sobre temas motivacionais, além de áreas como segurança do trabalho, cultura e educação.
Ainda ministrava cursos de escalada e resgate, dos básicos aos mais avançados, e liderou mais de uma centena de expedições no mundo todo.

Rodrigo assina os livros "No Teto do Mundo" e "Imagens do Teto do Mundo".
Em 2015, organizou uma campanha de doações de roupas e alimentos para ajudar vítimas de um terremoto no Nepal, que deixou mais de 5 mil mortos. Naquela época, o montanhista brasileiro já tinha viajado mais de 15 vezes para o país.

O Acidente

Rodrigo Ranieri fazia parte de uma equipe de sete atletas que estavam caminhando para o acampamento base do K2, a segunda montanha mais alta do mundo, com 8.600 m de altitude, que fica no norte do Paquistão, perto da fronteira com a China.

Ele foi o único a tentar a descida de parapente, uma modalidade de voo livre em que o piloto usa apenas a força do vento. Ainda não se sabe a causa do acidente. Ele já tinha feito voos desse tipo em outros países.

Segundo o porta-voz da polícia local, quando Raineri começou a voar de parapente, seu paraquedas estourou e ele caiu. Os motivos estão sendo investigados.

 

G1