Diego Afonso Siqueira Santos, de 21 anos, se apresentou nesta quarta (28) na delegacia de Santa Ernestina

padre

Um dos acusados da morte do sargento da Polícia Militar Paulo Sérgio Arruda, na semana passada, se entregou à Polícia Civil nesta quarta-feira (28). Diego Afonso Siqueira Santos, de 21 anos, conhecido como Cocão, optou por se apresentar na Delegacia de Santa Ernestina. Na presença do seu advogado, não quis comentar nada a respeito do caso, afirmando que irá se pronunciar apenas à Justiça.

Diego deve permanecer em Santa Ernestina hoje e ser encaminhado ao Anexo de Detenção Provisória (ADP) de Araraquara amanhã. A hipótese mais provável é que ele tenha optado por se apresentar na cidade vizinha para já ir diretamente para a Cadeia, sem ter que ser transferido e, assim, evitar contato com os policiais.

O jovem de 21 anos é apontado como um dos amigos de Edson Ricardo da Silva, 32, conhecido como Banana, e teria sido um dos autores de um vídeo em que Banana e o padre Edson Maurício, da Igreja Santo Expedito, de Matão, praticam uma relação sexual. Até onde se sabe, essa gravação estaria sendo usada para extorquir dinheiro do sacerdote. A ideia era receber ao menos R$ 60 mil para apagar a filmagem.

O acusado só teve problemas com a Polícia quando era adolescente e é o único que não está sendo representado pelo advogado Luis Augusto Pena, de Matão. Os outros dois suspeitos, Banana e Luis Antônio Carlos Venção, de 28 anos, seguem foragidos.

ENTENDA O CASO
Há uma semana, Araraquara, Matão e toda a macrorregião ficava assustada com a violência e curiosa em saber o que teria motivado um dos crimes mais graves e diferentes registrados nos últimos meses. Talvez, anos. A morte do sargento da Polícia Militar, executado com dois tiros dentro da casa de um padre, em Matão, revelou um escândalo que o sacerdote buscava esconder e ainda gera uma série de dúvidas.

Para o delegado Marlos Marcuzzo, de Matão, encarregado das investigações, até o momento, o caso não evoluiu. Ele espera a prisão de todos os acusados - que estão com mandado expedido pela Justiça - para que possa ouvi-los e tentar 'clarear' a investigação. A versão apresentada pela defesa, por ora, via imprensa, ainda não convence, segundo Marcuzzo. O advogado Luis Augusto Pena ficou de pedir uma série de perícias como proposta de apresentação do trio (dois deles são seus clientes). Até o momento, nada foi protocolado na Polícia Civil.

O fato é que o caso foge a normalidade devido às várias facetas, em que, a princípio, ninguém fora totalmente inocente. Um crime em andamento (de extorsão sobre o vídeo em que o padre mantém relações sexuais com um dos acusados) tentou ser resolvido de maneira paralela, ou seja, sem a comunicação oficial das autoridades. Sendo o estopim para outros vários crimes e infrações. O ACidadeON/Araraquara ouviu praticamente todas as partes envolvidas direta e indiretamente neste quebra-cabeça ainda sem algumas peças.

Até o momento, são três investigações em andamento: a principal delas da Polícia Civil, que apura o homicídio contra o sargento Paulo Sérgio Arruda, e a extorsão contra o padre Edson Maurício. A Diocese de São Carlos verifica a postura do sacerdote suspenso depois do escândalo do vídeo pornográfico e a Polícia Militar tenta entender por quais razões (que podem ir além da simples ajuda) os quatro policiais, entre eles, o sargento executado, saíram de Araraquara para ir até Matão resolver um crime em andamento de maneira informal.

Apesar da exposição, o padre Edson é considerado uma vítima no inquérito da Policia Civil de extorsão. Assim como o sargento Arruda também é a vítima do assassinato. Os demais pms, o garagista e dois colegas que estavam próximos viraram testemunhas no inquérito que apura o homicídio, assim como o sacerdote. O trio ligado a extorsão e ao homicídio, Edson Ricardo da Silva, o Banana, de 32 anos, Luiz Antônio Carlos Venção, 28, e Diego Afonso Siqueira Santos, 21, são, até o momento, os únicos considerados acusados de algum crime.

Como começou a relação do padre e acusado?
As versões se contradizem. Em depoimento à Polícia Civil, o padre Edson disse apenas ter se relacionado rapidamente com o xará, o ex-detento Edson Ricardo da Silva, o Banana, preso no passado por roubo e tráfico de drogas. Segundo o ACidadeON apurou, aos colegas, o padre teria confidenciado ter tido a chave da casa furtada pelo autor. Com essa chave, Banana armou para ser filmado mantendo a relação sexual com o padre com a intenção de extorqui-lo. O advogado de defesa encaminhou à reportagem uma foto da chave e o controle. Confirmou que elas foram cedidas pelo sacerdote. À Polícia Civil, o padre afirmou ter sido furtado. Mas, até o dia do fato, não tinha registrado Boletim de Ocorrência.

O acusado, em entrevista à TV Record revelou que mantinha um relacionamento há mais de três anos com o padre. Esse contato frequente, inclusive, motivou a sua separação. A chave (que o padre alega ter sido furtada no dia da gravação do vídeo) teria sido dada pelo padre como um voto de confiança. Ele não explicou por que, de repente, resolveu filmar e extorquir o sacerdote. O delegado Marlos Marcuzzo, de Matão, por ora, tem apenas o depoimento do padre. Aguarda a prisão do acusado para confrontar as versões. E mais: buscar por provas materiais.

Apavorado com a possibilidade de ter a vida pessoal revelada, o padre Edson buscou ajuda em Araraquara. Oficialmente, de acordo com o registrado até o momento pela Polícia Civil, ele conversou com um garagista. Este, por sua vez, afirmou ter se sensibilizado e comentado sobre o drama com um conhecido, o sargento Paulo Sérgio Arruda. O encontro teria sido casual pela Avenida Francisco Vaz Filho.

O policial, então, mesmo no horário de folga, ligado a outra religião e por conta própria teria acionado outros três colegas (um Sargento e dois Cabos). Juntos, os quatro viajaram de Araraquara para Matão, à noite, simplesmente para ajudar o padre. A ideia seria conversar com os acusados que apareceriam na casa do pároco para buscar parte do dinheiro da extorsão. Ou seja, situação de flagrante. Quando eles apareceram houve a confusão.

Arruda saiu do quarto onde estava escondido e levou dois tiros. Os disparos teria sido efetuados por Banana que fugiu de moto. Os outros dois colegas militares ficaram no quarto. O terceiro policial estava de carro rodando o bairro e não viu a fuga. O garagista, e mais dois colegas, que também estavam em Matão, mas fora da casa, só ficaram sabendo da tragédia quando o padre ligou minutos depois. Essa foi a versão apresentada na segunda-feira, logo depois da troca de tiros e morte de Arruda.

Essa mesma versão já apresentaria falhas, segundo o advogado de defesa Luis Augusto Pena. O horário da comunicação seria diferente do horário dito pelos autores. Os acusados confirmam a extorsão e sugerem que os tiros tenham sido disparados em uma ação chamada de fogo amigo. As armas dos pms foram apreendidas pelo Comando e não pela Polícia Civil, mesmo os calibres sendo diferentes. Um dos projéteis que atingiram o sargento poderá ser utilizado para exame de balística. Não foi informado se esse teste será requisitado.

A Polícia Civil aguarda mais documentos. O advogado de defesa quer outros laudos, entre eles, o residuográfico em todos os envolvidos. Por ora, ele não decidiu quando irá apresentar os acusados. A Polícia Militar instaurou sindicância interna para apurar o que os militares faziam fora do serviço. O tenente-coronel Adalberto José Ferreira, comandante do 13º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM-I), disse que, se houver a necessidade, a sindicância pode gerar um inquérito interno. A punição pode ser de uma advertência até a demissão.

Os três pms que estiveram no caso ainda não se manifestaram em público, assim como o padre Edson Maurício. A sua defesa só adiantou que deve tomar ciência dos fatos nesta próxima semana antes de qualquer comentário. O garagista disse ter feito o meio-de-campo entre o padre o sargento com a proposta de ajudá-lo. Ele nega qualquer ato ilícito. Essa versão da ajuda também não é fato concreto em nenhuma das três investigações. Também não está claro se o primeiro contato foi realmente com Arruda.

Suspensão
Os três pms devem ficar fora das ruas até que a apuração seja concluída. O padre Edson também está suspenso de qualquer ação da Igreja Católica. Em nota, a Diocese de São Carlos disse que "diante das imagens e fatos atribuídas ao padre Edson Maurício, da Diocese de São Carlos, vimos ao público esclarecer que medidas canônicas foram adotadas de imediato. Tendo por base o Cânon 1395, parágrafos 1 e 2, do Código de Direito Canônico, o padre foi suspenso de todas e quaisquer atividades, incluindo o ofício de Pároco da Paróquia de Santo Expedito, na cidade de Matão".

Coube ao bispo Dom Paulo Cezar Costa lamentar o fato que "humildemente pede desculpas aos fiéis católicos, aos homens e mulheres de boa vontade, por este ato isolado contra conduta moral e os valores evangélicos; de maneira particular aos fiéis da Paróquia de Santo Expedito, diante desta situação de escândalo causada pela ação do padre. Reafirmamos que a Diocese de São Carlos não compactua com atitudes que possam gerar o contratestemunho dos valores de Jesus Cristo e de sua Igreja".

A nota informa ainda que o padre segue a disposição da Justiça para esclarecimento do caso. "A Diocese de São Carlos reafirma os valores e as qualidades presentes nos padres que compõem o seu Clero, homens que se doam com alegria no testemunho de Jesus Cristo, na Evangelização e na Missão", informa o texto. "Temos um compromisso com a sociedade. Este compromisso visa dignificar as pessoas e reavivar a esperança. Pautados na Palavra e na Missão, seguiremos no árduo trabalho de superar os desafios e promover a unidade, com transparência e princípios evangélicos".

Quem são os acusados?
São três os suspeitos que fugiram em duas motos: Edson Ricardo da Silva, de 32 anos, nascido em São Carlos e egresso da cadeia em fevereiro de 2006, após envolvimento com roubo e tráfico de drogas. Ainda teriam participado do caso Luiz Antônio Carlos Venção, 28, também com passagens criminais anteriores por roubo, furto e receptação e que saiu da prisão em julho de 2013; e Diego Afonso Siqueira Santos, 21, que, segundo o delegado Marlos Marcuzzo, de Matão, só teve problemas com a polícia quando era menor de idade.

Quem era o sargento Arruda
Policial experiente e bastante respeitado pelos colegas. Era também temido e odiado pelo acumulo de prisões e de ocorrências mais graves em que se envolveu. Entre elas, algumas resistências seguidas de morte. Sargento da Força Tática, ele era casado, pai de três filhos e comemorava na segunda-feira, justamente o dia em que morreu ao ser executado na casa do padre, em Matão, o fato de ter sido absolvido de uma acusação no atendimento de ocorrência. Em novembro do ano passado, foi homenageado pela Câmara Municipal. (CidadeOn)