Do G1- Quando a pequena Valentina veio ao mundo, no Hospital Maternidade de Assis (SP), além da euforia pela chegada do primeiro filho do casal, os pais Fábio Henrique e Jackeline Martins tiveram uma grata surpresa: a bebê, de 2,8 quilos e 48 centímetros, nasceu com um dente na parte inferior da boca.

 

Os pais de primeira viagem logo ficaram intrigados com a condição incomum após o parto realizado no dia 1º de julho. E não é para menos, o fenômeno, conhecido como dente natal, ocorre, aproximadamente, em um bebê a cada três mil partos, segundo especialistas.

“Ficamos perplexos pois nunca havíamos escutado sobre isso. O fato é raro e a própria ciência não tem explicação sobre esses dentinhos”, conta o pai Fábio.

E o pai está correto. Segundo Daniela Rios, professora da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, as causas para recém-nascidos com dentes são variadas, podendo englobar condições hereditárias, hormonais, distúrbios de formação dos dentes, entre outras.

“Não há algo específico que explique. Existem várias condições para que isso ocorra. Fatores genéticos ou condições de saúde maternas durante a gravidez, por exemplo. No entanto, às vezes, tem crianças com essas condições e, mesmo assim, elas apresentam o dente. Então, falamos que é uma causa multifatorial. Ela pode estar relacionada, principalmente, a um desenvolvimento mais acelerado mesmo desses dentes”, comenta.

Dentes natais e neonatais

A professora da FOB-USP explica que existem dois tipos de fenômenos raros em relação a bebês com dentinhos: dentes natais e neonatais.

Segundo a especialista, denominamos dente natal aquele que aparece na cavidade bucal no momento do nascimento do bebê, e dente neonatal aquele que aparece nas primeiras semanas de vida. A incidência de dente neonatal é de um caso a cada 3,5 mil bebês, enquanto a do dente natal é de um bebê a cada três mil partos.

“Existem dois casos distintos, que são dentes natais, quando o bebê já nasce com dentes, normalmente com os inferiores, como o caso da Valentina. Quando esses dentes aparecem depois do nascimento, até trinta dias, a gente chama de dente neonatal”, explica.

Ainda de acordo com Daniela, cerca de 90% dos dentes natais e neonatais fazem parte da dentição decídua normal, ou seja, os famosos dentes de leite.

Em apenas 10% das situações, esses dentes são supranumerários que, em outras palavras, significam dentes com algum tipo de má formação. Geralmente, os primeiros dentes devem começar a aparecer aos seis meses.

“No caso dos dentes supranumerários, a criança já tem lá dentro os dentinhos dela, com alguns a mais. Nessa idade, só é possível descobrir se o dente é natal ou neonatal com a radiografia intra-oral odontológica”, explica Daniela.

A especialista afirma que a extração desse dente, seja eles natal ou neonatal, é indicada especialmente quando há mobilidade devido à falta de desenvolvimento da raiz, o que pode ocasionar risco de aspiração ou deglutição por parte da criança.

“Esse dente não era para tá ali. Só que ele pode tá ali. O que devemos avaliar. Primeiro, toda vez que os pais enxergarem um dente, eles devem levar a criança ao dentista. O profissional vai avaliar se esse dente está firme ou se ele tem mobilidade. Se ele estiver se mexendo, o dentista vai removê-lo. Isso porque, se o dente não está bem fixado, a criança corre o risco de aspirá-lo. Se ela aspirar esse dente, ele pode ir para o pulmão e outras complicações mais”, comenta.

Outro caso que também exige a extração é quando o dente apresenta borda cortante, podendo provocar ferimentos na base da língua do bebê ou nos mamilos da mãe durante o aleitamento materno. “Se ele estiver machucando a língua da criança ou o seio da mãe, a indicação também é a extração”, diz a especialista.

Porém, a Daniela diz que não há problema nascer com eles. O diferente nessa história toda, é que a criança vai ter que ir ao dentista mais cedo que o normal. “Caso o dente seja natal e esteja fixado, os pais precisam tomar os cuidados usuais de higiene bucal”, comenta.

Passado um mês do nascimento, a família de Valentina conta que o dentinho caiu no 20º dia de vida da bebê. “Guardamos de recordação. O importante é que é forte e muito esperta”, sentencia o pai.