A pesquisa desenvolvida pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, que busca um coquetel contra o novo coronavírus chegou a dois medicamentos com resultados eficazes para início dos testes in vitro. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (6) na presença do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes.

"Agora começam os testes in vitro com células reais e depois os testes com pessoas, os testes clínicos. Os testes in vitro demoram [ainda] cerca de duas semanas. E os testes com pessoas, o resultado é um pouco mais demorado, ou não. Depende de como os testes vão seguir", afirma Marcos Pontes.

Os pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), uma das frentes do CNPEM, partiram de 2 mil medicamentos já conhecidos para analisar a interação com o novo coronavírus.

Através de inteligência artificial, biologia computacional, quimioinformática e ensaios com células infectadas, chegaram a duas moléculas, dois remédios com potencial para compor o coquetel.

"Dois deles se mostraram capazes de reduzir significativamente a carga viral - combatendo o vírus. Um deles com desempenho numericamente comparável ao da cloroquina", informou o CNPEM.

Eficazes e acessíveis

De acordo com o estudo, os dois medicamentos identificados pelo CNPEM são:

    Economicamente acessíveis
    Bem tolerados em geral
    Usados por pessoas de diversos perfis
    Um deles já existe na versão pediátrica

    "Esse centro tem a capacidade de interligar muitos conhecimentos, muitas tecnologias num local só, e isso é extremamente importante para uma resposta rápida a esse problema", afirma Pontes.

A pesquisa in vitro vem sendo feita há cerca de 15 dias e está em fase de testes complementares, que devem ser concluídos nas próximas duas semanas. Após essa etapa, serão feitos testes em humanos, que ficarão a cargo de outra instituição pertencente à Rede Vírus do MCTIC.

O funcionamento do coquetel se dará de maneira parecida com o grupo de remédios que tratam o HIV.

"A solução para esses problemas está na ciência, a ciência é a única coisa que ataca o vírus em si. Não só o fato da gente ter essas duas moléculas é importante, mas o fato da gente ter desenvolvido essa metodologia, a capacitação das pessoas, equipamentos aqui para poder responder rapidamente", diz Pontes.

    "Porque o vírus tem mutações, então ele precisa de um coquetel, igual o vírus da Aids, precisa de um coquetel para esse tratamento. Então, esse trabalho contínuo vai permitir uma solução de maior alcance, maior efetividade", completa o ministro.

Partícula viral

Os cientistas envolvidos no projeto reúnem esforços ainda para determinação da estrutura das proteínas do coronavírus e da organização da "partícula viral". "Isto é possível graças à infraestrutura estabelecida no CNPEM, a qual permite a produção dos alvos proteicos, determinação e o estudo de proteínas virais", informou o CNPEM.

O Sirius, o maior projeto científico brasileiro, garante uma possibilidade futura de conhecer estruturas na escala de átomos e moléculas com ainda mais resolução e velocidade. O ministro Marcos Pontes acredita que uma solução para o coronavírus possa sair do Sirius.

    "Estou muito otimista. A gente tem aqui um equipamento adequado operado por pessoas que sabem o que estão fazendo. Nas minhas reuniões com mais de 15 países, ministros de ciência e tecnologia, você vê o respeito que eles têm com os nossos pesquisadores, e isso é uma coisa muito importante, dá muito orgulho da gente pensar em termos de Brasil. E com todo o aperto, com todas as dificuldades que nós temos em orçamento, eles estão conseguindo fazer isso", ressalta o ministro do MCTIC.

CNPEM

O esforço dos pesquisadores ocorre mesmo com restrições de movimentação no CNPEM por conta da epidemia. Em março, o centro anunciou a suspensão de pesquisas externas, o cancelamento de eventos e revezamento de turnos para restringir a circulação nas instalações.

Entenda o Sirius, o novo acelerador de partículas do Brasil

Instalado em Campinas, o CNPEM opera quatro Laboratórios Nacionais: de luz síncrotron, que inclui o superlaboratório Sirius, maior projeto científico brasileiro; de biotecnologia; de biorrenováveis, e de nanotecnologia.

G1