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A dança do ventre é a mais nova aliada do tratamento do câncer de mama realizado na Unesp de Botucatu. Por ser essencialmente feminino, esse estilo trabalha com o corpo da mulher como um todo e o foco da doença acaba ficando em segundo plano.

De acordo com os especialistas, esse "desvio" de olhar tem aumentado a autoestima das pacientes e refletido diretamente na imunidade delas. Maria Aparecida de Jesus fazem parte da primeira turma de dança. Ela tem só 27 anos e teve que enfrentar a doença com quimioterapia, mesmo assim, perdeu a mama direita. Com ela foi embora também a autoestima. “Quando eu sai da cirurgia eu só olhava para minha mama, queria saber dela e só chorava o dia todo. Só pensava na reconstrução da mama”, conta a aluna.

 E literalmente ela não conseguia se enxergar. Depressiva, Maria chegou a tirar todos os espelhos de casa, mas na sala de aula não teve jeito. Precisou se olhar novamente.

“Quando eu cheguei na aula vi um baita de um espelho e pensei ‘Meu Deus’ e pensei ‘vou ter que me encarar de frente’ e foi muito difícil”, completa.

Maria Emília Pereira também teve o câncer, mas não teve que tirar toda a mama. Apenas a parte afetada pela doença foi retirada. Mesmo assim, a depressão é inevitável. Na dança do ventre ela encontrou uma forma de se achar bonita outra vez.
“Eu vim de curiosa e pensei que num ia dar certo e logo no primeiro dia, a professora já me colocou para dançar e foi contagiante. É uma dança lenta no início e com passar do tempo vai aumentando o ritmo, eu fui percebendo que conseguia fazer, acho que isso que estimulou.”

O projeto faz parte de uma pesquisa desenvolvida por profissionais da Unesp, em parceria com a Famesp, fundação médica que apoia os serviços de saúde. A educadora física Sônia Regina Augusto teve contato com um projeto parecido na capital e foi aí que resolveu trazer as aulas para as pacientes do Hospital das Clínicas de Botucatu. Um dos objetivos é fazer a mulher lembrar, que além da mama, tem o resto do corpo.
“A dança do ventre é uma dança feminina e por ser uma dança que trabalha a divisão do corpo, as mulheres precisam se tocar, conhecer cada uma das partes do corpo, dessa forma a atenção delas se volta para outras partes e não fica só focada na mama”, explica.

Antes de começar as aulas, as alunas precisam passar por uma avaliação. Algumas delas apresentam limitação no movimento dos braços, por causa da cirurgia. É aí que entra outra terapia complementar, que é a fisioterapia. “Quando é feita a mastectomia total, são afetados alguns músculos peitorais e elas ficam com a limitação de movimentos e sentem dor. Com a fisioterapia, que deve ser iniciada após a cirurgia, é possível recuperar os movimentos e a qualidade de vida diária das pacientes”, destaca a fisioterapeuta Samira Luvizutto Rosalem.

Para o médico responsável pelo setor que trata o câncer de mama no Hospital das Clínicas, a terapia da dança não ajuda só na autoestima, mas, o tratamento da paciente também melhora. “O tratamento não pode levar só em conta o câncer, tem que ser avaliada a parte psicológica, que estando bem ajuda no aumento da imunidade e em uma melhor maneira de se combater esse câncer que ela está enfrentando”, ressalta o mastologista José Ricardo Gonçalves.

Maria Aparecida confirma esse bem-estar. “Quando eu chego em casa triste, com vontade de chorar, eu coloco o CD da aula e é como se passasse a dor, tudo fica melhor, sai aquele estresse, a raiva, eu começo a danças e esqueço tudo”, finaliza.

Da TV TEM