A descoberta de um fóssil paralisou por dois meses as obras de duplicação da Rodovia Leonor Mendes de Barros, entre as cidades de Marília e Júlio Mesquita, a aproximadamente 370 quilômetros de São Paulo.

O fóssil, que os paleontólogos acreditam ser um fêmur, com cerca de 1 metro e meio, seria de uma espécie do período Cretáceo, conhecido como período final da "Era dos Dinossauros", ocorrido há pelo menos 65 milhões de anos.

O fóssil foi encontrado a 20 metros da superfície e a poucos centímetros da lateral de um talude. Após a descoberta, a obra precisou ser paralisada por dois meses para que uma equipe de paleontólogos fizesse a extração, que deve ser concluída nesta segunda-feira (26).

A descoberta não foi divulgada antes para não atrair a presença de curiosos, que poderiam danificar o material.

Em um cuidadoso processo de escavação, que começou com talhadeira e martelo, os paleontólogos retiraram a formação rochosa no entorno do fragmento até que fosse possível usar uma ferramenta de perfuração de impacto mínimo, para evitar qualquer trinca que prejudicasse a peça.

Envolvido em uma dura camada de arenito (rocha formada por areia aglutinada e cimento natural, densa como quartzo) o exemplar, ainda nessa forma bruta, vai para o Museu de Paleontologia, onde será limpo, em um processo que levará mais algum tempo.

Terra de fósseis

Essa não é a primeira descoberta de fósseis em Marília. Há 12 anos, uma primeira parte de um Titanossauro foi descoberta pelo paleontólogo Willian Nava. Foi encontrado uma escápula de um Titanossauro, de 80 centímetros, próximo ao distrito de Padre Nóbrega.

Outras descobertas foram feitas em 2009 e desde 2012 o "Dino Titan", apelido do fóssil, ficou exposto na museu de paleontologia da cidade. O dinossauro é famoso no museu e também na televisão, foi ele que inspirou a novela da TV Globo, Morde e Assopra em 2011, que conta a história de uma paleontóloga que vai ao interior de São Paulo em busca dos animais pré-históricos.

Em 2015, os ossos do Titanossauro foram levados para Universidade de Brasília (UnB) para serem comparados aos de outros dinossauros. Mais da metade do esqueleto do dinossauro estava preservada. Foram achadas parte do pescoço, vértebras das costas e da cauda, costelas e fragmentos do crânio, da bacia e das patas.

A ossada foi levada para um laboratório do campus de Planaltina para estudos. O grupo estima que ele tenha pesado 10 toneladas e atingido 15 metros de comprimento. O estudo vai ser encerrado com duas réplicas do dinossauro: uma para a Universidade de Brasília e outra para ser exposta no Museu de Paleontologia de Marília. Já o material será devolvido e ficará guardado na coleção do memorial.

Em 2016, ossos de crocodilo, de titanossauro e um dente de dinossauro foram recentemente encontrados em uma área de rochas. Nava passou cerca de três meses pesquisando a existência de fósseis no local e se deparou com os indícios de vida há aproximadamente 65 milhões de anos. As três peças encontradas pelo paleontólogo foram retiradas de um barranco de cerca de 20 metros de altura.

A região de Marília fica em um planalto recortado por erosões que criaram escarpas rochosas ao longo de milhões de anos, algumas com centenas de metros de profundidade, formando paisagens semelhantes a mini canions.

Tem cachoeiras que despencam em meio às rochas de arenito datadas do período cretáceo superior, que de acordo com estudos geológicos teriam uma idade entre 65 e 70 milhões de anos. O que explica porque nesses sedimentos se encontram fósseis e são portadoras de uma rica fauna de vertebrados e invertebrados fósseis.

Tesouros históricos

O museu de paleontologia de Marília tem em exposição de fósseis de dinossauros e crocodilos que vem sendo coletados desde 1993 pelo paleontólogo William Nava, em campanhas de campo pela região.

Desde o início essas descobertas chamaram a atenção tanto do público quanto de universidades, e assim, em 25 de novembro de 2004 a prefeitura, por meio da secretaria municipal de cultura e turismo, inaugurou o museu de paleontologia de Marília. Em 2020, o museu recebeu descobertas de fósseis feitas em Presidente Prudente.

Infelizmente uma parte das descobertas da cidade se perderam no incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro no dia 2 de setembro de 2018. Entre as descobertas consumidas pelas chamas estavam o crocodilo pré-histórico Marilia Succhus, que viveu na região há 70 milhões de anos e um dos fósseis mais perfeitos já descoberto, e o fragmento de mandíbula de Titanossauro, único do Brasil, descoberto nos anos 2000.

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