O médico infectologista Fernando Belissimo, que integra grupos de pesquisa sobre o coronavírus no Hospital das Clínicas (HC) em Ribeirão Preto, disse, nesta terça-feira (12), que os 50,38% de eficácia global obtidos nos testes clínicos da CoronaVac no Brasil são suficientes para reduzir os números de casos e mortes pela Covid-19.

Na avaliação de Belissimo, os resultados anunciados pelo Instituto Butantan nesta terça-feira são otimistas. O centro é parceiro do laboratório chinês Sinovac no desenvolvimento da vacina. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que para a aplicação, os testes precisam obter, no mínimo, 50% de eficácia.

“Eu os vejo com uma dose de otimismo no sentido de que essa eficácia provavelmente é suficiente para reduzir o número de casos e reduzir o número de óbitos pela doença. Ela não é ideal no sentido de possibilitar a erradicação da circulação do vírus, que seria um objetivo secundário da vacinação, mas vai nos auxiliar no objetivo primário, que é reduzir o número de óbitos, o número de casos graves e o número de internações.”

 Fernando Belissimo é médico infectologista no Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, SP — Foto: Chico Escolano/EPTV

Chamado de eficácia global, o índice aponta a capacidade da vacina de proteger em todos os casos – sejam eles leves, moderados ou graves.

Segurança

Em todo o país, 12.508 voluntários – todos profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao coronavírus – participaram do estudo em 16 centros de pesquisa.

Belíssimo foi voluntário no Hospital das Clínicas em Ribeirão Preto, onde as doses foram aplicadas em profissionais de saúde. Segundo o infectologista, a CoronaVac é mais segura porque utiliza metodologia já conhecida na produção de vacinas, à base do vírus inativado.

“Tivemos mais de mil voluntários que participaram desse estudo, a aceitação foi muito boa, a incidência de eventos adversos foi muito baixa, eventos leves, dor no local da injeção foi o mais frequente. Essa é uma outra vantagem dessa vacina, ela é muito segura e utiliza uma metodologia de fabricação das mais antigas, mais conhecidas, diferentemente de outras vacinas mais modernas que a gente não sabe muito bem qual é o perfil de segurança a longo prazo.”

Coordenadora dos testes da CoronaVac em Barretos, a médica infectologista Gecilmara Pileggi afirma que os resultados são satisfatórios e também a possibilidade real da aplicação da vacina no Brasil.

“Nesse curto espaço de tempo, temos uma vacina acessível, segura e que ela vai atender esses objetivos, de diminuir a transmissão da doença, a mortalidade e os casos graves, ela atinge totalmente os objetivos para o momento.”

De acordo com o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, se a vacinação tiver início no dia 25 de janeiro, conforme prevê o plano em São Paulo, a redução dos casos e das mortes poderá ser percebida a partir de maio.

Análise de documentação

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve anunciar no domingo (17) o resultado da análise na documentação para uso emergencial da CoronaVac no Brasil, quando também se manifestará sobre o pedido da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para aplicação do imunizante desenvolvido em parceria com parceria com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca.

Na sexta-feira (8), a Anvisa iniciou a triagem dos documentos enviados, que é a checagem feita nas primeiras 24 horas para saber se constam do pedido todos os dados necessários. A fase seguinte é a análise deles. O prazo total para a agência aprovar ou não o pedido é de dez dias.

Na Indonésia, onde o imunizante também foi testado, os dados preliminares de testes de fase 3 mostraram uma eficácia de 65,3% para a CoronaVac. O país aprovou o uso emergencial, e o presidente Joko Widodo deve receber a primeira dose nesta quarta-feira (13).

EPTV