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Pesquisadores divulgaram uma nova droga experimental radical, capaz de apagar memórias associadas com o vício de substâncias. Eles dizem que ela poderia, um dia, ser usadas para tratar viciados, apagando os "fantasmas" de seu vício em drogas.

A ideia surgiu embasada no problema que os viciados em recuperação, muitas vezes, lidam com as memórias que acabam acendendo a vontade de ter uma recaída, mesmo após meses de reabilitação, ou até mesmo anos, de uma vida livre de drogas.

O Instituto de Pesquisa Scripps, nos EUA, afirma que sua descoberta se aproximam de uma nova terapia baseada em apagar seletivamente essas lembranças associadas a drogas perigosas e tenazes. "Nós agora temos um alvo viável.

Bloqueando essa meta, podemos interromper, e potencialmente apagar memórias de drogas, deixando outras memórias intactas", disse Courtney Miller, professor associado do Instituto. "A esperança é que, quando a abstinência da reabilitação e terapias tradicionais forem associadas, podemos reduzir ou eliminar a recaída de usuários de metanfetamina após um único tratamento, tirando os desejos de um indivíduo", acrescentou.

O novo estudo, publicado pela revista Molecular Psychiatry, demonstra a eficácia de uma única injeção de uma substância teste chamada ‘blebbistatin’, usada na prevenção da recaída em modelos animais de dependência de metanfetamina.

O novo estudo baseia-se em trabalho anterior feito no laboratório de Miller. Em 2013, a equipe fez a descoberta surpreendente de que as memórias associadas à droga poderiam ser apagados seletivamente, alvejando uma proteína específica que proporciona o suporte estrutural de memórias no cérebro. Contudo, o potencial terapêutico da descoberta parecia limitado pelo problema por esta proteína ser criticamente importante para o corpo. Um comprimido poderia inibi-la, sendo até mesmo, fatal.

No novo estudo, Miller e seus colegas relatam um avanço, com a descoberta de uma rota segura para a segmentação seletiva da proteína chamada actina no cérebro, através da miosina não muscular tipo II (NMII), um motor molecular que suporta a formação da memória.

Para conseguir isso, a pesquisa utilizou o composto de blebbistatin, que atua sobre essa proteína. Os resultados mostraram que uma única injeção de blebbistatin interrompeu com sucesso, a longo prazo, o armazenamento de memória relacionada com a droga, bloqueando a reativação durante pelo menos um mês, em animais dependentes de metanfetamina.

"O que torna a NMII um composto terapêutico emocionante é que uma única injeção de blebbistatin faz as memórias associadas a metanfetamina irem embora, junto com espinhas dendríticas, as estruturas no cérebro que armazenam memória", disse Erica Young, pesquisadora associada e membro do laboratório de Miller. Ela é uma autora fundamental no novo estudo, juntamente com Ashley M. Blouin e Sherri B. Briggs.

O efeito dessa abordagem de tratamento era específico para as memórias associadas a drogas, não afetando outras lembranças. Os animais ainda eram capazes de formar novas lembranças.

Fonte: Jornal Ciência