Estudo desenvolvido pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara (FCF) revelou que 65% dos galões de água mineral analisados estavam contaminados com micro-organismos que podem causar danos à saúde.

O trabalho, realizado pela pós-doutoranda Maria Fernanda Falcone Dias, com a co-autoria do professor Adalberto Farache Filho, foi publicado na revista Food Control. 

 A pesquisa examinou, em 11 etapas, o conteúdo de garrafas de meio litro e de 1,5 litro durante um ano — prazo máximo para o consumo do produto. 

Os galões de 20 litros foram submetidos a cinco testes executados dentro dos 60 dias de sua validade para ingestão. No total, 324 amostras de seis fabricantes — não divulgados pela FCF — foram estudadas.

Resultados

Os resultados apontaram que, dos três tipos de embalagem, o garrafão de 20 litros foi o que apresentou os maiores índices de contaminação. 

Dos 60 galões analisados, cerca de 40 deles obtiveram contagem superior a 500 UFC/ml (unidades formadoras de colônia por mililitro de água). Em algumas, o valor ultrapassou mais de mil vezes o padrão aceitável para a água de abastecimento.

“A legislação atual prevê que a água conhecida como ‘torneiral’ que, ao contrário da mineral, passa por tratamento químico e físico, tenha, no máximo, 500 UFC/ml. Esse é o limite internacional, também seguido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]”, explica a pós-doutoranda. Em dois dos galões foram encontradas a bactéria Pseudomonas aeruginosa e outras do grupo dos enterococos.“A primeira bactéria pode, por exemplo, complicar o estado de saúde de uma pessoa que tenha o sistema imunológico comprometido”, revela a pesquisadora. 

População deve higienizar galão

Apesar de ter ficado fora do estudo, outro tipo comum de contaminação dos galões de água mineral ocorre no local de consumo e pode ser facilmente evitado, segundo o professor Adalberto Farache Filho, 

“A população precisa realizar a higienização correta do galão e também do suporte”, alerta Farache.

Conforme o pesquisador, ambas as partes devem ser limpas com água sanitária.

“Se não for possível, podem ser utilizados água clorada e sabão sempre que trocar de recipiente”, finaliza Farache.

Rígido controle de qualidade

O empresário José Ricardo Cipolli, proprietário da H2 Ótima, diz que a maioria das indústrias de água mineral possui rígido controle de qualidade em suas operações.

“De uns tempos para cá, só falam contra [água mineral]. Mas, e dos problemas encontrados nos filtros dos purificadores?”, questiona Cipolli, que fala, nesta reportagem em nome dos comerciantes de água mineral. A marca dele não é, necessariamente, uma das avaliadas. A pesquisadora não revela as marcas pesquisadas. 

O empresário explica que possui uma equipe formada por químicos e técnicos em qualidade, para garantir que não haja nenhuma contaminação da água que envasa.

“Agora, queremos obter certificado internacional, que vai habilitar nosso produto para exportação, situação que vai beneficiar, também, o nosso mercado interno”, adianta Cipolli, que revela alguns cuidados que sua indústria tem na hora de envasar a água: “temos uma máquina que lava, esteriliza, enxágua e, depois, lacra o galão. E um funcionário que realiza uma última verificação”, conclui.

Vendas crescem 500% em 16 anos

De acordo com dados da Associação Brasileira de Indústrias de Água Mineral (Abinam), a venda do produto no País cresceu 500% entre 1995 e 2011, saltando de 1,5 bilhão para 9 bilhões de litros comercializados no período.

“O aumento está atrelado a vários fatores, como uma maior preocupação com a saúde, já que a água mineral é mais saudável por não receber o tratamento com cloro”, revela Carlos Lancia, presidente da Abinam.

Atualmente, há 589 indústrias de água mineral no Brasil — 50% delas no Sudeste — onde são empregadas 40 mil pessoas.

Conforme levantamento da Abinam, cada brasileiro consome, em média, 45 litros de água mineral por ano, ocupando a nona colocação no ranking mundial.

“Estima-se que, em menos de dez anos, o Brasil atingirá o volume consumido pela França, ou seja, 132 litros per capita”, informa, em nota, a assessoria de imprensa da Abinam.

Exposição ao sol e galões com problemas sanitários

Conforme o estudo, os problemas sanitários encontrados nos galões de água mineral são antigos. 

Para combater tal situação, uma portaria de 2011, do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) impôs prazo de validade de três anos para os galões retornáveis de 10 e 20 litros.

“A contaminação acontece por falhas de higienização na indústria. Não adianta limitar um determinado período de uso do galão se, por exemplo, ele não for lavado toda vez que é utilizado”, ressalta o professor Adalberto Farache Filho, coautor do estudo, que acrescenta: “esse problema também pode ocorrer na fonte, porém é mais comum durante ou após o envase.”

Ainda, de acordo com a pesquisa, o processo de industrialização, assim como o armazenamento da água mineral, pode também abrigar micro-organismos contaminantes. Ainda que indireta, a exposição ao sol dos galões também aparece como uma possível fonte de contaminação. “É uma possibilidade, porém, outros estudos realizados no exterior atingiram resultados semelhantes”, afirma Maria Fernanda.

Do Araraquara.com