Considerada uma máquina de voar, os beija-flores têm habilidades no ar que os difere de qualquer outra espécie do planeta. Mas para manter o corpo vibrante, o pequenino precisa mesmo garantir o combustível: o néctar.
Nesta busca incessante pelo alimento, o colibri não sossega praticamente nunca, alguns respiros não são notados nem mesmo pelo homem a olho nu. Isso porque em questão de milésimos de segundos essa ave consegue pairar no ar.
Quem gosta de admirar os beija-flores no jardim sabe bem que apesar de belos e delicados, esses bichos são bons de briga! Vivem disputando alimento entre si e defendendo o próprio território de espécies invasoras. Difícil mesmo é acompanhar o duelo de dois beija-flores. Em instantes as aves desaparecem no ar em um voo que une o bailar com os ataques de esgrima.
Para compreender mais sobre essa disputa selvagem, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, passaram a filmar as espécies com uma câmera especial de alta velocidade e o resultado da pesquisa, que durou dez anos, foi surpreendente.
Alguns machos de espécies estudadas em trópicos da América do Sul mostraram-se melhores na luta do que na busca pelo alimento. O resultado mostra que há beija-flores adaptados para se alimentarem de diferentes tipos de flores, enquanto outros se restringem a uma única espécie, já que ave e flor evoluíram em conjunto.
Mas o que mais chamou atenção dos profissionais foi que, além do bico, aliado à língua, ser adaptado para sugar até a última gota de néctar, ele se tornou instrumento morfologicamente desenvolvido para o combate.
Com aspecto diferente do da fêmea, os bicos rígidos, com ganchos e até serrilhados de algumas espécies, comprovam uma nova função: a eficiência não apenas em coletar o alimento, mas também como ferramenta principal para atingir o adversário.
O bico, que muitas vezes é usado como uma espada para intimidar o inimigo, possui também outras características que são usadas no duelo selvagem. Algumas espécies aproveitam a curva e a serrilha que apresentam na ponta para “beliscar” o inimigo, conseguindo até arrancar-lhe algumas penas.
Outra curiosidade revelada pelos pesquisadores é que as asas dos machos também são adaptadas para serem mais aerodinâmicas do que as das fêmeas, isto porque a maioria das disputas ocorre em pleno voo.
Acredita-se que esta evolução morfológica do bico adaptado para brigar tenha ocorrido em função do aumento da concorrência entre as espécies. Enquanto em algumas partes das Américas, três ou quatro beija-flores podem competir entre si em um determinado território, nos trópicos a disputa ocorre entre mais de dez indivíduos, por exemplo.
Para o autor do artigo, Alejandro Rico-Guevara, esta evolução pode estar relacionada também à uma estratégia diferente das espécies, como a de não se preocupar em se alimentar de forma apropriada, mas sim espantar todos os competidores do território para posteriormente ter o alimento garantido.
No Brasil algumas espécies de beija-flores se encaixam nesta evolução morfológica, são elas: beija-flor-rajado, beija-flor-marrom e beija-flor-de-orelha-violeta. (EPTV)