Do G1 - Uma das maiores descobertas da paleontologia brasileira, o titanossauro, ganhou uma réplica em tamanho real na cidade de Marília (SP). Com os fósseis encontrados há mais de uma década na cidade, o 'Dino Titã', como também é conhecido, viveu no centro-oeste paulista há 70 milhões de anos e é o fóssil mais completo da espécie já encontrado no Brasil.

 

O responsável pelo trabalho é o paleoartista baiano Anilson Borges dos Santos, que trouxe a peça da Bahia até o Interior de SP, após 120 dias de confecção. A réplica ficará exposta ao público na área externa do novo Museu de Paleontologia de Marília, que tem previsão de entrega das obras no mês de agosto, após ficar fechado para reforma desde 2018.

A réplica do Dino Titã, com 3,90 metros de altura por 12 metros de comprimento, pesa quase uma tonelada e, mesmo antes de sua exposição ao público, já é um dos grandes orgulhos de Anilson.

“Trabalhar com arte no Brasil nunca foi fácil, e o que fazemos não deixa de ser arte. O Dino Titã tem cerca de 75% dos fósseis descobertos em Marília, sendo muito importante para a paleontologia brasileira e mundial. São lacunas na história que foram preenchidas. Eu me sinto honrado de ter sido escolhido para representar a espécie em tamanho real”, conta o paleoartista.

Além do Dino Titã, Anilson foi responsável por uma outra réplica um pouco mais “modesta”: o Abelissauro. A espécie, com “apenas” 1,80 m de altura por 4 metros de comprimento, ficará exposta ao público na área interna do novo museu.

Para Anilson, o hobby pelos dinossauros coincide com a paixão pelas esculturas. A princípio, as obras do artista, que completa 45 anos nesta quarta-feira (06), em nada lembram os primeiros modelos, que nasceram justamente pelo amor do baiano por uma outra arte.

“O hobby começou com o filme Jurassic Park. Antes disso, eu sempre gostei de fantasia. Quando eu pude assistir o filme já estava estudando, no ensino médio. Isso me incentivou a fazer a primeira escultura: um tiranossauro, com 30 cm de comprimento, ficou bem ‘feinho’, mas foi o pontapé inicial”, recorda.

“Ainda incentivado pelo filme, ganhei gosto pela arte e comecei a fazer pequenas esculturas. Aos 18, 19 anos fiz a minha primeira exposição com um amigo. A partir daí, nunca mais deixei de fazer esculturas de dinossauro”, complementa.

dino3

O Paleoartista contou com uma equipe para concluir o trabalho de confecção do Dino Titã — Foto: Anilson Borges dos Santos/Arquivo Pessoal

Desde então, Anilson, nascido na cidade de Jaguaquara (BA), realiza trabalhos no interior do estado em sua oficina/ateliê “Criando Dinossauros”. No local, ele recebe pedidos de todo o Brasil, que incluem esculturas de caráter educacional, mas também de réplicas de dinossauros do mundo pop.

O pedido desta vez envolveu não somente a confecção das peças, mas também toda a logística para que fosse possível que os dinossauros percorressem os quase dois mil quilômetros que separam a cidade de Ubaíra (BA), de Marília.

Durante o percurso, as réplicas passaram por pelo menos três estados diferentes e demoraram quase duas semanas para chegar ao destino final.

“Primeiro, para confeccionar essa peça, tivemos que mudar de cidade, montando a nossa estrutura lá em Ubaíra. Foi algo bem complexo. A escultura ficou maior do que imaginávamos. Quando você começa a montar uma escultura dessa dimensão, muitas vezes não tem ideia do volume depois de pronta”, conta Anilson.

“O transporte foi bem absurdo. A forma de transportar tem que ser mais especializada. Tem que ter cuidado no embalo, no transporte, no manuseio. Foi preciso até de guincho para puxar a peça”, relembra.

As duas réplicas de dinossauros que vão fazer parte do novo Museu de Paleontologia chegaram, acompanhadas do próprio artista, no último sábado (2) a Marília. Desde o final de semana, o artista auxilia o museu na instalação da peça e o processo ainda deve ser concluído nos próximos dias.

“A estrutura já vem basicamente pronta. Todas as peças utilizam o mesmo tipo de material. São barras de ferros, acompanhadas de blocos de isopor de quase 3 metros de comprimento. Utilizamos ainda fibra de vidro, resina de poliéster, tinta automotiva e verniz automotivo, para dar os acabamentos e fazer com que ela fique bem realista”, explica Anilson sobre a montagem.

Ao lado de uma equipe de seis pessoas, a entrega já foi capaz de prender a atenção do público, atraindo um grande número de pessoas ao local, especialmente crianças. Com boa parte da estrutura já à mostra, faltando apenas a conclusão do espaço onde a peça vai ficar definitivamente, Anilson relata o momento como único.

“Foi uma das melhores sensações que tive na vida. A gente já conseguiu ver crianças e adultos empolgados com as esculturas, assim que a gente começou a montar. Trabalhar com arte e ciência nunca foi fácil, não tem incentivo. Porém, se a gente não acreditar nos próprios esforços e na nossa arte, a gente acaba desistindo e perdendo momentos como esse. É um dino 100% brasileiro”, se emociona Anilson.

 

Descoberta de milhões de anos

Os fósseis do Dino Titã, que indicam vida há 70 milhões de anos na Terra, foram encontrados em uma área de rochas de Marília no ano de 2009.

Willian Nava, paleontólogo responsável pelo museu, é também o autor da descoberta. À procura de fósseis de dinossauros na terra e nas rochas, quase por acaso, ele fez aquela que é a maior descoberta de sua carreira: um fóssil de titanossauro.

"Eu notei, quando me aproximei deste local, que era uma colina alta, evidências do que me pareceram de fósseis. Depois de alguns minutos, eu confirmei que, de fato, se tratavam de fósseis de dinossauro, inclusive, o primeiro elemento ósseo que eu identifiquei foi uma vértebra, reconhecida depois como a vértebra caudal. Então, foi um momento de grande satisfação, um momento, eu diria, mágico, porque fósseis não são assim tão facilmente encontrados pelo Brasil", lembra.

À época, as três peças encontradas por William foram retiradas de um barranco de cerca de 20 metros de altura. Para o paleontólogo, os fósseis indicam que passava um rio por aquela região pois, junto do dente do dinossauro carnívoro, foram encontrados moluscos e outros fragmentos relacionados à presença do rio no local.

"Provavelmente, nós tínhamos ali um cenário de rios que se entrecruzavam, rios de relativa energia, e ali de um lado podia ter dinossauros, do outros crocodilos, enfim, não eram animais aquáticos, eram animais terrestres. Mas que iam àquele ponto para beber água. Alguns eventos podem ter surpreendido o crocodilo em vida e tê-lo soterrado, transformando em fóssil. Nenhum osso inteiro, apenas fragmentos foram acumulados próximos aos ossos do crocodilo”, conta.

Uma pequena amostra do que foi encontrado naquela colina ficou sob posse do Museu de Paleontologia de Marília, mas a maior parte foi para Brasília (DF).

De acordo com Willian, a localização das peças reforça a ideia dos pesquisadores de que a região de Marília abrigou uma fauna diversificada há milhões de anos e que, devido a este fator, permanecerá em estudo.

"A gente descobriu, primeiro que a gente tem um esqueleto desse dinossauro que está bem completo. Quando a gente fala bem completo, por volta de 50, 60, talvez 70% dos ossos estejam preservados. A gente sabe mais ou menos o tamanho dele, aproximadamente uns 15 metros de comprimento da ponta do focinho até a ponta da cauda, aproximadamente também uns três metros de altura. Então, ele era não muito alto, mas bem comprido", comenta o paleontólogo.

Mais descobertas

Desde a primeira descoberta, Marília está na rota da paleontologia brasileira. No ano passado, novos fósseis de dinossauro foram encontrados às margens da Rodovia Rachid Rayes (SP-333).

Segundo o paleontólogo William Nava, a parte branca entre a rocha mais avermelhadas são pedaços do fêmur do animal que viveu na região há mais de 70 milhões de anos. (Veja no foto abaixo).

dino345466

 Novo fóssil de titanossauro encontrado nesta terça-feira (9) parece ser do fêmur do animal — Foto: William Nava /Arquivo Pessoal

 

O pesquisador acredita que esse seja um fóssil diferente do encontrado no mesmo local, no quilômetro 341 da rodovia, em setembro do ano passado.

Além disso, esse novo fóssil foi localizado cerca de cinco meses depois de outro achado paleontológico, que paralisou as obras da mesma rodovia, entre as cidades de Marília e Júlio Mesquita, por dois meses.