Com boas caracterizações, direção de arte e roteiro, longa foca no lado humano do cantor e diverte e emociona na medida certa

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Se existe uma coisa que o cinema nacional faz com competência, na grande maioria das vezes, é imortalizar seus ídolos em cinebiografias. Vide Cazuza – O Tempo Não Para (2004) e Dois Filhos de Francisco (2005), a história de Zezé di Camargo & Luciano, ambos filmes bem recebidos por crítica e público. Agora, quem tem sua história contada na tela é o temperamental, e ao mesmo tempo genial, Tim Maia, no filme que leva o seu nome e que estreia nesta quinta-feira. Com um trabalho impecável de caracterização, principalmente dos atores Babu Santana (Cidade de Deus) e Robson Nunes (2 Coelhos), que se dividem para retratar o músico quando adulto e jovem, respectivamente, uma direção de arte de qualidade e um roteiro bem construído, o longa faz um retrato preciso e pouco conhecido pelo grande público da vida de Tim, que, apesar de desbocado, provavelmente não reclamaria de nada, caso estivesse vivo.

A história começa mostrando Tim Maia na fase final, dentro do camarim repleto de mulheres e bebidas. O filme então dá um salto para trás até a juventude do cantor, passando pela época em que vendia as marmitas da família pelo bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, até a adolescência, quando era interpretado por Robson Nunes. O ator é responsável por grande parte da vida de Tim antes da fama, desde quando tentava emplacar seu quarteto, Os Sputniks, ao lado de Roberto Carlos (George Sauma), no programa Clube do Rock, de Carlos Imperial (Luis Lobianco), até as encrencas pelas ruas do Rio de Janeiro e dos Estados Unidos, onde viaja no início das década de 1960 para seguir seu sonho de se tornar músico profissional.

Babu Santana entra na segunda metade da trama, representando tanto o Tim Maia de black power e festeiro, pouco antes de lançar seus primeiros álbuns de sucesso, como o músico afetado pelo consumo excessivo de álcool e drogas. O ator segue na pele rebelde do músico até, literalmente, seu último dia de vida, sem poupar detalhes primordiais e delicados, como seu comportamento destemperado e briguento, além da fase em que se tornou devoto da seita Cultura Racional em meados da década de 1970 e mudou seu estilo de vida e composição.

Baseado na biografia Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia, publicada por Nelson Motta em 2007, o diretor e roteirista Mauro Lima (Meu Nome Não É Johnny) procurou focar em passagens pouco conhecidas pelo público em geral, dando mais atenção à vida pessoal de Tim que ao ídolo em si. Os principais exemplos são as cenas que mostram o relacionamento – na maioria das vezes – turbulento do cantor com os amigos, companheiros de banda, com a gravadora e sua ex-mulher e mãe de seu filho, Janaína (Alinne Moraes). O cantor Roberto Carlos, que acaba se tornando o amigo-da-onça ao alcançar o sucesso em carreira solo antes de Tim, é representado pelo ator George Sauma, que leva a atuação mais para o lado da imitação típica de um programa humorístico e falha ao ser caricato demais.

Apesar de ter banido a circulação de sua biografia não autorizada, Roberto deu o aval para o uso de sua imagem, mesmo sendo caracterizado como um personagem egocêntrico e deslumbrado pela fama. “Nada que está ali saiu da minha cabeça. O Roberto autorizou o uso da imagem dele, depois de receber o roteiro. Então, nós partimos do pressuposto de que ele sabia o que estava ali, ou alguém de sua confiança sabia”, contou Mauro durante coletiva de imprensa.

Um dos principais pontos a ser destacado no filme é a caracterização e o preparo dos protagonistas para encarnar o papel do cantor. Tanto Nunes como Babu cumprem a principal tarefa de uma cinebiografia: acreditar que aquele personagem é, de fato, o artista. Ambos passaram por um laboratório de cerca de dois meses para entrar na pele do cantor, desde aulas de música e canto, até passeios pelo bairro da Tijuca. “Foi o maior desafio profissional que eu já tive até hoje, principalmente por fazer o Tim Maia da Tijuca sendo o Robson de São Bernardo (risos). Tive que treinar o carioquês, o temperamento explosivo do Tim Maia, fumar sem ser fumante e cantar profissionalmente”, conta Robson Nunes ao site de VEJA. Babu, por sua vez, considerou o fato de atingir mesmo registro vocal de Tim Maia como o seu maior desafio, além de ter que engordar 15 quilos para interpretar o cantor no final da carreira. Apesar das dificuldades, o resultado é incrível, tanto nos trejeitos como no modo de cantar, apesar de alguns trechos serem dublados, com o uso de músicas originais de Tim.

Com 2 horas e 20 minutos de duração, Tim Maia consegue divertir e emocionar na medida certa sem ser cansativo, muito pelo fato de a história ser narrada pelo amigo do cantor, Fabiano (Cauã Reymond), o que, apesar de poupar alguns detalhes e promover alguns saltos, deixa a trama menos densa.(Veja)