Do G1 - Uma professora denunciou nas suas redes sociais um suposto caso de intolerância religiosa depois que outros moradores ficaram incomodados com um banner com a imagem de um deus da cultura egípcia na fachada de casa e associaram a rituais satânicos. A retirada da imagem ocorreu no dia 27 de junho.

 

Thais Boscariol é professora e trabalha com cultura egípcia há mais de 7 anos, em Botucatu (SP), no Interior de SP. No local, ela ministra, de forma on-line, aulas sobre o país africano a centenas de alunos.

No último mês de junho, no entanto, um cartaz encomendado em abril junto a um artista da cidade, que também é seu aluno, se tornou alvo de polêmica no município.

Após receber o banner com a imagem do deus egípcio, ela decidiu colocá-lo na fachada lateral de sua casa e, cerca de um mês e meio depois, as reclamações de munícipes chegaram até ela em forma de notificação da imobiliária para retirada do cartaz.

“A notificação foi pelo celular e me dizia que eu não podia modificar a fachada da casa. Nela constava que, caso eu mantivesse a imagem, poderia ser despejada, além de receber uma multa. Logo surgiram outros comentários sobre o que a imagem representava, alterando totalmente o seu significado”, conta Thaís.

A representação é do deus Anúbis, tido na cultura do país africano como o responsável por guiar os mortos após a vida. Segundo Thaís, pessoas chegaram a associar a figura a rituais satânicos, bem como a outras descrições que alteram o verdadeiro significado desse deus, que é bastante popular no Egito.

“Isso pra mim não entra na minha cabeça. Egito é clássico, é um estudo que há em todas as escolas. Eu estive no país e lá, em qualquer loja, armazém, casa, você encontra a imagem de Anúbis. Eles veem esse deus como respeito, cultura, é uma história muito bonita. Ele é o Deus da Morte e do renascimento”, conta Thaís.

“Eu coloco o Anúbis na porta da escola justamente porque eu não quero que as pessoas entrem aqui e continuem as mesmas, com doenças, com traumas, com males, com rancores. Eu quero que elas saiam pessoas renascidas”, complementa a professora.

Após ser notificada pela imobiliária, Thaís foi atrás do contrato e, para sua surpresa, não encontrou nenhuma especificidade acerca de multa ou despejo em caso de mudanças na fachada do local.

“Fui ler o meu contrato e não existia nenhuma inscrição sobre isso. Nada. Minha advogada revisou e também constatou que não existia nada. Ela até me aconselhou a manter o banner, mas achei melhor retirar”, relata.

De acordo com Thaís, para evitar confusão ou alguma retaliação, ela optou mesmo assim pela retirada da obra. No entanto, não imaginava que a repercussão nas redes sociais com o vídeo desse momento fosse tão calorosa e respeitosa. (veja abaixo o momento da retirada)

“Decidi divulgar nas redes a retirada. Confesso que senti parte de mim indo embora. Parecia um velório. Mas, logo depois, recebi muitos comentários de alunos que demonstraram o carinho e, inclusive, me deram apoio para recolocar a placa”, conta

Apesar de tudo, a professora relata que o sentimento que fica é de impotência diante da desinformação.

“Foi um misto de preconceito e intolerância. Eu senti que parecia que eu não era digna de colocar aquela imagem na frente da minha casa, já que eu não conseguia defendê-la. Me senti censurada.”

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Professora trabalha há mais de 7 anos com cultura egípcia — Foto: Thais Boscariol/Arquivo Pessoal