O Rio de Janeiro vive situação inédita na história dos grandes eventos esportivos. Pela primeira vez uma cidade receberá, em sequência, a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos, com diferença de dois anos entre os dois maiores eventos do esporte mundial. É só a segunda vez que um país sedia os eventos seguidamente (Copa dos Estados Unidos, em 1994, e Olimpíada de Atlanta, que não foi sede da Copa, em 1996), o que abre o leque de comparações entre o torneio da Fifa e o evento do COI. Levantamento feito pelo ESPN.com.br mostra que, faltando nesta terça-feira exatamente dois anos para a abertura, que será realizada no dia 5 de agosto de 2016, a Olimpíada está mais atrasada do que a Copa estava em 2012, quando faltavam dois anos para o pontapé inicial.
Doze estádios foram construídos ou reformados para a Copa do Mundo de 2014. No dia 12 de junho de 2012, dois anos antes da abertura, nenhum deles estava pronto, mas seis mantinham a ideia de serem entregues no prazo determinado (Arena Corinthians, Maracanã, Mineirão, Mané Garrincha, Fonte Nova e Castelão) enquanto outros seis já estavam com o cronograma atrasado (Beira Rio, Arena da Baixada, Arena Pantanal, Arena Pernambuco, Arena das Dunas, Arena da Amazônia). Ou seja, 50% das áreas de competição da Copa estavam atrasadas faltando 24 meses para o início do torneio, e pouco mais de um ano para a Copa das Confederações, evento-teste da Fifa.
Para os Jogos Olímpicos, a realidade é diferente. Atualmente, ao todo, são 17 obras em locais que receberão disputas por medalhas olímpicas, seja de construção ou adequação de áreas de competição. Destas, dez não devem ficar prontas nos prazos estipulados pelo dossiê da candidatura da sede, feito em 2008. Outras sete ainda estão no prazo. Ou seja, cerca de 60% das obras estão atrasadas a dois anos dos Jogos, 10% a mais do que na Copa. E os próprios organizadores admitem as dificuldades maiores do evento que está por vir.
"A Copa do Mundo no Brasil foi um sucesso, mas Olimpíada é bem diferente. Quando você faz a abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, você traz dois ônibus de atletas ao estádio, na abertura da Olimpíada você leva cerca de dez mil atletas, e no dia seguinte leva os atletas para treinar e competir em 14 diferentes lugares. Então, a logística é bem diferente, existe uma dificuldade para isso. Esse é apenas um dos exemplos. Mas tenho certeza que o Brasil vai conseguir fazer isso", analisa Gilbert Felli, diretor executivo do COI.
"Olimpíada é completamente diferente. A Copa teve 723 atletas, 15 mil voluntários pelo Brasil todo, 15 nações jogando no Rio e só um esporte. A Olimpíada terá 15 mil atletas, 70 mil voluntários só no Rio, 200 nações competindo e 28 modalidades, além da Paralimpíada", mensura Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro.
Maria Lenk, Engenhão e Estádio de Remo da Lagoa ainda não assinaram contratos para começo das obras
Casa do polo aquático e dos saltos ornamentais, o Parque Aquático Maria Lenk é o mais atrasado. O dossiê de candidatura previa o início das obras de adequação em 2010 e fim no ano seguinte. Até hoje, segundo a última atualização da Matriz de Responsabilidades divulgada no fim de julho, nem o contrato para o início das intervenções foi assinado.
Mesmo caso vive a reforma do Estádio de Remo da Lagoa e a adequação do Estádio Olímpico, o Engenhão, que, apesar disso, foi apresentado como "pronto" no discurso de Eduardo Paes no encontro com a mídia, realizado nesta segunda (veja foto ao lado).
Ao todo, além das 17 obras citadas específicas dentro das áreas de competição, outras 35 acontecem nos entornos ou no apoio às instalações esportivas. Quinze delas ainda não começaram e não passaram da fase burocrática. Antes da assinatura dos contratos relacionado a Deodoro, em julho, mais da metade não tinham passado desta fase, de acordo com a primeira divulgação das Matriz de Responsabilidades.
"O Parque Olímpico da Barra tem o seus problemas como todo mega evento tem os seus problemas, por isso que é um mega evento esportivo, com as obrigações do COI que também é uma negociação constante, mas o principal da Olimpíada está bem encaminhado", analisa o General Fernando Azevedo e Silva, presidente da Autoridade Pública Olímpica.
Das sete obras no prazo, duas devem ter "correria" para terminar no tempo previsto
Ciclicsmo, hóquei, tênis, golfe, tiro com arco, maratona e vela. Os atletas destas modalidades são os que podem ficar mais tranquilos em relação às áreas de competição de seus esportes faltando dois anos para 2016. São as modalidades que serão disputadas nas sete obras que ainda esperançam serem entregues no prazo definido pelo dossiê de candidatura de 2008.
Das sete, no entanto, duas, a Centro Olímpico de BMX e o Velódromo ainda estão dentro do prazo de entrega, mas tiveram o início das obras muito atrasado. O local de disputa do ciclismo, modalidade BMX, tinha início de obra previsto para 2012 e conclusão para 2015. O prazo para o fim continua o mesmo, mas as obras só começaram no mês passado. Um ano e meio a menos para tocar todo o projeto.
"A flexibilidade em termos de tempo, de uma gordura para fazer alguma coisa não tem, mas tá tudo dentro do tempo necessário para concluir as obras e usar em 2016", revela o presidente da APO.
Outras duas intervenções ainda dentro da data limite, a Arena do Hóquei e o Centro de Golfe, não estavam no Dossiê de Candidatura de 2008, pois as definições sobre locais só ocorreram depois. Assim, o prazo foi definido posteriormente .
O Centro de Tênis, as adequações estruturais da Marina da Glória e o Sambódromo, que abrigará o tiro com arco e a maratona, são os únicos locais onde as obras começaram na época prevista e que ainda podem ser concluídas no tempo calculado pelo dossiê de seis anos atrás. Ainda assim, o tom é otimista entre os organizadores.
"Nós iniciamos as obras de Deodoro, elas estão na mão, o Parque Olímpico está completamente dentro do prazo. Aliás, está três semanas adiantado. Recuperamos o atraso daquela greve de duas semanas do ano passado e adiantamos ainda três semanas. As obras de legado e infraestrutura estão todas em dia. Eu não tenho dúvidas. A partir do ano que vem teremos vários eventos-teste e vamos entregar as arenas, equipamentos esportivos e, o mais importante, o que fica para a cidade usufruir", diz Eduardo Paes, que fez uma comparação com o que aconteceu na organização do Mundial de futebol no Brasil.
"Não tenho dúvida que o sucesso da Copa ajuda no processo da Olimpíada. Sofremos pressões e críticas, algumas pertinentes e outras infundadas, com relação à capacidade do nosso país de organizar o evento. Mas vimos que tudo aquilo que tinha sido assumido pelo Governo aconteceu. Então, a jornada da Olimpíada não precisa ser tão dolorosa quanto a da Copa". (MSN)