Do G1 - A Polícia Civil de São Paulo aceitou o pedido da defesa do policial militar Henrique Otávio de Oliveira Velozo, que foi preso após matar o campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo durante um show no Clube Sírio, em São Paulo, e irá realizar a reconstituição do crime.

 

A defesa do PM informou ao g1 que o pedido da reconstituição foi autorizado, mas ainda está sem data marcada para ocorrer.

Leandro Lo morreu em 7 de agosto após ser baleado na cabeça. Velozo se entregou à Corregedoria e está detido no presídio militar Romão Gomes por homicídio doloso por motivo fútil.

Claudio Dalledone, advogado do policial, já havia informado que solicitou à Polícia Civil também que fossem realizados exames complementares através do sangue colhido do corpo do lutador Leandro Lo .

Defesa alega que PM agiu em legítima defesa

A defesa do policial militar afirmou ao g1 em 15 de agosto que o oficial agiu por "defesa" depois que foi cercado por seis lutadores.

Os advogados de Velozo alegam também que ele foi cercado por outros seis lutadores e, por isso, reagiu.

"Requer ainda, seja realizado exame complementar de alcoolemia da vítima e no que se refere ao exame toxicólogo já determinado por Vossa Senhoria, requer seja especificada a pesquisa laboratorial para anfetaminas, codeínas, metanfetaminas, ecstasy, EPO (doping sanguíneo), heroína, morfina, cocaína, crack, hGH (hormônios de crescimento), S1 (anabolizantes) e S6 (estimulantes)", diz um trecho da petição.

"Vamos indicar assistentes técnicos que acompanharão as análises periciais e apresentarão quesitos técnicos a serem respondidos pelo Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal. Tudo deve ser apurado e cada um responderá por suas responsabilidades", disse Dalledone.

Dalledone afirmou que uma rede social no aparelho celular entregue pelo PM à investigação estaria sendo acessada e modificada. O advogado pediu para que o aparelho seja restituído à família e que sejam apuradas possíveis práticas abusivas.

Em nota, a Polícia Militar informou que nenhum interno do Presídio Militar Romão Gomes (PMRG), bem como os visitantes e advogados, possui permissão de uso de aparelhos telefônicos e que o celular do policial foi apreendido no momento do registro e encaminhado ao Instituto de Criminalística (IC).

"O aparelho está protegido por senha de acesso, a qual não foi fornecida pelo investigado, portanto, o mesmo não foi acessado nem utilizado."

O advogado da família de Leandro, Ivan Siqueira Junior, ressalta que o lutador teve uma discussão com o policial e, para acalmar a situação, imobilizou o homem.

Após se afastar, o agressor sacou uma arma, atirou uma vez na cabeça do lutador e deu dois chutes em Leandro antes de fugir.

Pouca gente ouviu o barulho do tiro porque o som estava alto em função do show.

O SP2 teve acesso às imagens das câmeras de segurança que mostram Velozo na recepção de uma boate em Moema, também na Zona Sul, instantes depois de ter assassinado Lo, a pouco mais de dois quilômetros dali.

Na boate, o PM parece ter consumido uma garrafa de uísque, duas águas de coco, duas latas de energético e duas doses de gin, de acordo com a comanda, totalizando quase R$ 1,6 mil.

Uma hora e 59 minutos depois, a mesma câmera registrou a saída de Veloso, mas desta vez acompanhado por uma mulher que, segundo o delegado, é uma garota de programa.

Depois, eles foram para um motel, em Pinheiros, na Zona Oeste da cidade. Eles chegaram por volta das 5h40 de segunda-feira (8) e só saíram às 16h26.

Dois amigos próximos do lutador não quiseram gravar entrevista, mas confirmaram ao SP2 que Leandro Lo e o policial militar Henrique Veloso já tinham se desentendido outras vezes antes do dia do crime.

Em nota, o advogado de defesa afirma que as imagens precisam ser colocadas aos autos para que se possa fazer uma análise e, se necessário, até solicitar uma perícia.

"A defesa não vai permitir que se criem conclusões precipitadas, pré-julgamentos. É preciso ter cautela para que haja um julgamento justo", ressalta Claudio Dalledone.

Imagens do circuito interno do Clube Sírio gravaram a saída dos frequentadores do show que ocorria no local após o campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo ser baleado durante o evento.

Nas imagens, é possível identificar uma movimentação na pista de dança, que começa a se esvaziar na área em que teria ocorrido o crime. Uma outra câmera flagrou ainda a correria do público ao sair da casa de shows pelas escadas que dão acesso à pista de dança.

Após os tiros, Leandro Lo foi socorrido e levado ao Hospital Municipal Arthur Saboya, no Jabaquara, também na Zona Sul, mas não sobreviveu. Testemunhas filmaram o resgate ao lutador, que foi levado em uma maca pelos corredores do clube.

Em nota, o Esporte Clube Sírio disse que "aluga seus espaços de eventos para terceiros" e que, "ao alugar, a segurança é de responsabilidade do contratante".

"A informação sobre a revista realizada e a autorização para entrada dos convidados no evento é do realizador do mesmo. Vale reforçar que o show realizado na noite de 6 de agosto foi realizado nas dependências do clube, porém por um terceiro. Conforme divulgado em nota anterior, estamos colaborando com as autoridades para que tudo seja esclarecido o quanto antes", declarou o clube.

Leandro Lo foi campeão mundial de jiu-jítsu por oito vezes. A última conquista, na categoria meio-pesado, foi em 2022; a primeira, em 2012, na categoria peso-leve.

Nas redes sociais, ele narra os dois títulos como “as duas conquistas mais importante da carreira”.

“O primeiro [título] é a sensação de conseguir ser campeão mundial, esse foi eu ainda consigo ser campeão mundial, as duas melhores sensações da minha vida. Obrigado todos que estão sempre comigo na alegria na tristeza!”, disse ele numa postagem nas redes sociais dois meses atrás, quando relembrou o aniversário das conquistas mundiais.

Lo iria disputar nos Estados Unidos mais um campeonato nos próximos dias, com outros quatro lutadores, segundo um amigo.