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A assinatura de contrato do goleiro Bruno com o Montes Claros F.C. e sua tentativa de cumprir sua pena em regime semi-aberto para voltar ao futebol causam indignação e preocupação na mãe de Eliza Samudio, que não deseja contato de seu neto com o pai.Ao tomar conhecimento de que o ex-jogador do Flamengo firmou um vínculo de cinco anos com o time de Minas Gerais há cerca de 15 dias, Sônia de Fátima Moura, que tem a guarda de de Bruninho, de quatro anos, disse que "não deseja nem pensar [na hipótese], pois fica desacreditada na justiça brasileira." 

"O cara manda dar fim na minha filha de forma cruel, insana, some com o corpo, omite a verdade e ainda é motivo de tanta audiência quando diz que quer voltar a jogar. O mundo para e a imprensa só veicula isso, e se esquece de pressioná-lo para dizer à sociedade o que fez com o corpo da mãe desse inocente", afirmou dona Sônia. "Meu neto vem sendo educado e preparado para não se revoltar com tudo isso. Quero que ele seja um cidadão do bem", completou.

Dona Sônia ainda afirmou que fará de tudo para evitar que o filho tenha interesse em conhecer o pai ou acompanhar uma partida, pois "Bruno não é referência para o filho". Ela disse acreditar que será difícil que o neto tenha qualquer admiração pelo pai.

Bruninho ainda não sabe que o pai é um ex-jogador. Dona Sônia diz tomar todos os cuidados para que a criança cresça sem nenhum trauma da situação passada pela mãe. Ainda não sabe quando a história será contada ao garoto.

A avó diz que teme inclusive pela reação dele quanto tiver condição de saber tudo que ocorreu com ele e com a mãe. "O que será inevitável, pois a história de vida dele (Bruno) está estampada no mundo todo", afirmou.

Advogado e Tribunal divergem de prazo

Mesmo com o contrato assinado com o Montes Claros, Bruno depende de liberação da Justiça para poder jogar pelo clube. O goleiro cumpre a pena de 22 anos e três meses de prisão pela morte de Eliza Samudio, sua ex-amante. Ele está preso na cidade de Contagem (MG) desde julho de 2010 e já cumpriu 3 anos e 7 meses da condenação.

Atualmente, Bruno está preso em regime fechado, quando não pode sair da penitenciária. Um dos requisitos para pedir a chamada progressão de pena é, segundo informações do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, passar dois quintos dos 22 anos na cadeia. Mas esse número só será atingido daqui a aproximadamente cinco anos, quando ele terá 34 anos.

Outros requisitos para a progressão de pena é ter residência fixa, necessidade de sustentar uma família e emprego fixo (item este preenchido pela proposta do time mineiro).

O grande problema, segundo especialistas ouvidos pelo UOL Esporte, é que os juízes costumam avaliar o comportamento dos detentos na cadeia antes de autorizá-los a trabalhar. E é aqui que Bruno se complica. Em setembro de 2013, a Justiça puniu o goleiro depois que ele ameaçou outros dois detentos e um agente penitenciário do presídio Nelson Hungria, em Contagem, segundo o que está escrito no processo.

O ato de indisciplina, considerado grave pela Justiça, ocorreu em abril de 2013. De acordo com o processo judicial, Bruno disse a dois detentos que iria "pegar" e "bater" neles porque eles haviam "dedurado" algo que ele fez para a direção - a ação não foi descrita no tribunal.

Ainda conforme o processo, Bruno afirmou ao coordenador do pavilhão onde está preso que "mandava pegar e matar lá fora". As ameaças foram confirmadas por testemunhas, e o goleiro chegou a ser suspenso de seu trabalho na lavanderia. Em sua defesa, Bruno negou as acusações e disse ter apenas discutido com os presos por eles terem desrespeitado uma pessoa que o visitara uma semana antes.

"Para que haja a progressão para o semi-aberto é necessário que a pessoa tenha cumprido um sexto da pena e que tenha bom comportamento. A questão se ele foi preso por assassinato ou não é levada em conta. Mas o histórico de ato indisciplinar na prisão pode impedir que ele trabalhe fora do presídio", explicou um especialista na área penal que preferiu não se identificar.

Os outros quesitos necessários para ser autorizado a sair da prisão são atendidos por Bruno. A defesa do goleiro dirá à Justiça que o cliente tem emprego, um contrato com o Montes Claros F.C., residência fixa, onde vive sua atual mulher e família, e a necessidade de pagar pela formação de três filhos. A transferência para o time mineiro foi confirmada no BID (Boletim Informativo Diário) da CBF.

O presidente do Montes Claros, Ville Mocelin, afirmou que não tem conhecimento da situação jurídica de Bruno e nem quando ele poderia atuar. Diz que é informado pelo advogado de Bruno, Francisco Simini, sobre o caso e apenas aguarda um desfecho.

"É o advogado dele que está olhando isso lá. Foi nos passado por ele que tem essa possibilidade [de o Bruno jogar], que tem grande possibilidade, mas foi tudo através do advogado. Ele não está recebendo nada e só acontecerá quando se apresentar ao clube", falou Mocelin.

Questionado sobre o longo tempo que Bruno pode precisar para poder cumprir a pena fora da cadeia, o cartola disse ter esperanças que seja menos. "Umas pessoas falam em quatro, outras em cinco anos, outras menos ainda. A nossa lei deixa muita brecha. Olha o José Dirceu aí (no caso do Mensalão). A nossa lei é falha", disse.

O advogado de Bruno vai na contramão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e diz que o tempo necessário para progressão continuada é de um sexto (aproximadamente 3 anos e 7 meses), e não de dois quintos, o que faria com que no quesito tempo, ele já possa ter chances de sair.