Os produtores de milho de Promissão aproveitam as chuvas do início de novembro para preencher as fendas abertas no solo por causa da estiagem, que durou mais de um ano, e refazer a produção. As pequenas folhas verdes que brotam no chão dão esperança aos agricultores. De acordo com informações da Secretaria de Agricultura de Promissão, é a pior seca dos últimos 84 anos e as altas temperaturas prejudicaram mais de 70% da principal cultura de produção da cidade. São perdas estimadas em R$ 16 milhões para mais de mil agricultores, segundo a pasta.
As principais atividades desenvolvidas são a plantação de milho e a pecuária leiteira. No entanto, o sol forte tem mudado a rotina e apresentado uma nova opção aos agricultores: a cana-de-açúcar.
A estiagem atingiu as áreas de plantio da zona rural de Promissão em meados de outubro de 2013 e durou até o começo de novembro deste ano. Sem chuvas e com temperaturas beirando os 40ºC, produtores de milho contabilizaram o prejuízo da perda de duas safras e incertezas sobre esse tipo de cultura.
O município possui cerca de 1.250 propriedades rurais, sendo que 1.100 delas são de agricultores familiares. Entre esses, 840 são assentados pela reforma agrária onde vivem aproximadamente mil famílias com 5.000 pessoas.
Um ano difícil
Luís Carlos Yogui é produtor de milho há mais de 30 anos. Com mais de 270 hectares, o agricultor afirma que 2014 foi um dos anos mais difíceis desde que começou a plantar. “Este ano foi uma tristeza só. O milho não crescia. Você abria e não via espiga, não tinha flor e não dava nem para pensar em vender”, diz.
De acordo com Yogui, numa safra normal, no período entre março e abril, a colheita é de 30 mil a 40 mil sacos de 60 quilos de milho. Mas neste ano, o agricultor colheu apenas 8.000 sacos – uma queda em torno dos 70%.
“Foi um susto. A gente passava a máquina e nada vinha com boa qualidade. Foi difícil encher esses sacos com 60 quilos. Além da falta de mercadoria, o preço caiu muito. A gente vendia antes por R$ 29 o saco e caiu para R$ 18. Tivemos que vender tudo para silagem, mas não deu para pagar as contas”, afirma.
Cheiro de queimado
Durante o crescimento, o milho pode atingir de 70 centímetros e 2 metros de altura em um ciclo que varia de três a 10 meses. A planta pode ser cultivada em diversas regiões climáticas, no entanto, o milho não suporta baixas temperaturas. Por outro lado, em clima muito quente e seco, a polinização pode ser prejudicada. O milho tem raízes relativamente superficiais e pode ser muito sensível à falta de água durante seu crescimento, por isso, a irrigação é necessária para manter o solo úmido.
O agricultor lembra que não deu muita importância quando começou o período de estiagem, já que acreditava que a chuva viria em breve e na quantidade correta para a época de colheita do milho. "Nunca ficamos tanto tempo sem chuva desde que me conheço por gente. Você consegue imaginar ficar praticamente um ano sem ver a água cair com força do céu? Eu vi isso. Eu vi e o milho também sentiu, tanto que tivemos uma perda absurda", afirma Yogui.
Segundo o agricultor, apesar da alta luminosidade ser indicada para a produção, o forte calor mais prejudicou do que ajudou no crescimento das plantas. "O sol batia muito forte nas plantas. Era de literalmente rachar o solo, e a gente não tem como cobrir todos os hectares. Teve mês que dava para sentir o cheiro de queimado nas espigas, ou pelo menos o que tinha nos pés de milho", recorda Yogui.
Para tentar equilibrar as contas, o agricultor vendeu 110 cabeças de bois que cuidava, além de alguns tratores. "Era isso ou eu fazia empréstimos no banco, o que nem passou pela minha cabeça. Eu estava guardando os bois para vender e reformar a minha casa, mas a minha produção vem primeiro. Eu só sei plantar milho, se eu não fizesse de tudo para recuperar as minhas terras, não sei o que faria da minha vida", afirma.
Recomeço com cautela
Apesar de todo o prejuízo, Yogui acredita que 2015 será um ano muito mais produtivo. O agricultor já retomou o período de plantação de milho e exibe com orgulho os pequenos ramos que começam a brotar na terra rachada que também se recupera.
No entanto, ele agora divide os vários hectares de terra com a produção de cana-de-açúcar. É a alternativa caso a plantação de milho não vingue. "As terras que antes eram dominadas pelo milho agora estão divididas para a cana porque é mais resistente ao sol. Mesmo se a gente tiver perda, não vai ser tão grande quanto a do milho. Mas não vou desistir da cultura deles por causa desse ano. Já passamos por isso algumas vezes e não podemos abandonar o barco de primeira. Por isso continuo plantando", finaliza o agricultor. (TVTEM)