Dados não oficiais apontam para 400 dispensas; há previsão de mais demissões ainda este ano
Mais de 200 funcionários foram demitidos desde o início da safra da cana-de-açúcar, na região de Catanduva, em abril deste ano. A informação foi divulgada pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Walter Hipólito. O corte de funcionários nesta época do ano é considerado atípico, já que as usinas seguem a todo vapor para a produção de etanol e açúcar. Dados não oficiais apontam para 400 dispensas de funcionários só nesta safra.
Segundo Hipólito, as demissões nas sete usinas que fazem parte da região de Catanduva estão diretamente ligadas à mecanização da cana-de-açúcar, que deverá chegar a 100% em 2017. “Vemos que a maioria das nossas usinas não tem mais cortadores de cana. Tudo é mecanizado, por isso eles mandam os funcionários embora”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Ele considera a situação preocupante e não descarta o risco de novas demissões no decorrer do segundo semestre. “Acabou a preocupação social com os funcionários. Algumas cidades que antes eram populosas estão vazias, porque os cortadores de cana voltaram suas cidades de origem, no nordeste”, diz Hipólito. Outras justificativas apontadas pelas empresas estão relacionadas à produtividade da cana, prejudicada pela estiagem e consequente redução de custos.
Um dos agravantes é que com a estiagem aumenta a quantidade de queimadas em áreas de cana-de-açúcar. De maio a junho deste ano, as queimadas atingiram 3.277 hectares de área de cana-de-açúcar, o que resulta em R$ 822.895,50 em multas em toda a região de Rio Preto. Com o aumento no número de queimadas e sem cortadores de cana, as usinas não conseguem limpar a área. “Temos a área queimada, muitas vezes provocada por uma simples bituca de cigarro ou criminalmente, e não temos a mão-de-obra qualificada para fazer o serviço do corte. Com isso, as máquinas estão tendo que se adaptar a essas áreas, sendo que o ideal, nas áreas já queimadas, seria o corte manual”, afirma o sindicalista.
10 mil demitidos
Com a mecanização da cana-de-açúcar, pelo menos dez mil funcionários responsáveis pelo corte da cana foram demitidos nos últimos cinco anos nas usinas da região. Empresas que antes tinham cinco mil funcionários só no setor de corte de cana atualmente têm entre 600 e 800 trabalhadores, já que a mecanização não exige muitos funcionários. “O desemprego na nossa região não aparece, já que 80% dos funcionários vêm de outros Estados, de cidades dos Estados Maranhão e Bahia. Com a mecanização, o desemprego fica na morada de origem dos trabalhadores, que não estão mais vindo para a região”, afirma Hipólito.
A menor parte dos funcionários é remanejada nas usinas para outras funções, já que muitos têm apenas o ensino fundamental ou médio. Atualmente, 80% das usinas da região já utilizam o sistema de colheita mecanizada.
O Protocolo Agroambiental de São Paulo foi assinado no ano de 2007, como um acordo entre as usinas do Estado e do governo federal. O documento é considerado uma medida legal na defesa do meio ambiente, já que a queima da palha de cana é uma grandes responsáveis pela emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. O protocolo é um acordo voluntário que conta com a participação de mais de 170 unidades agroindustriais e 29 associações de fornecedores, o que representa mais de 90% da produção paulista.
O trabalho do corte da cana crua realizado por uma colhedora corresponde ao trabalho de 80 a 100 pessoas. A mecanização da colheita aumentou a partir de 2007, motivada pela legislação ambiental. As máquinas, equipamentos e treinamento de operadores exigem investimentos de US$ 4,5 bilhões, aproximadamente R$ 9,9 bilhões.
Fonte: Diário da Região