O Sindicato Rural de Santa Cruz das Palmeiras (SP) obteve na Justiça uma liminar para o bloqueio de bens da Abengoa. Segundo a entidade, a empresa espanhola deve um total de R$ 60 milhões para 110 produtores da região e a ideia é garantir o pagamento da dívida.
Uma ação coletiva vai tentar receber o pagamento das dívidas. A Abengoa foi procurada, mas informou que a unidade não tem autorização da matriz para se manifestar sobre o assunto.
"Preocupa porque nós temos despesas de tratamento da cana, com adubação, mão de obra e o dinheiro vai acabando, então a gente fica sem perspectiva para o futuro", explicou João Batista Machado do Amaral, presidente do Sindicato Rural de Vargem Grande do Sul.
Amaral contou que, no caso dele, a empresa parou de pagar pelo fornecimento da cana em agosto e, desde então, o prejuízo para a família chega a R$ 400 mil. A situação se repete com outros agricultores e o grupo decidiu se unir e pedir ajuda.
"Nós fomos procurados pelo pessoal do sindicato com a intenção de proteger os produtores rurais que não vinham recebendo da Abengoa. Em contato com o promotor de Justiça e o juiz da comarca, entendemos que o bom seria entrar com uma medida cautelar de arresto e sequestro de bens, medida que foi proposta e deferida", disse o advogado Luiz Fernando de Felicio.
Com a decisão, foram bloqueados imóveis, veículos e estoques de açúcar e álcool das unidades do grupo em São João da Boa Vista, Santa Cruz das Palmeiras e Pirassununga. "Estamos em contato com os produtores para tentar viabilizar a manutenção da atividade comercial da indústria, porque os produtores dependem disso", disse o advogado Luiz Fernando de Felício.
Ação coletiva
Em uma reunião realizada nesta quarta-feira no sindicato, os produtores decidiram que vão entrar com uma ação coletiva. "Vai visar o recebimento dos débitos que não foram pagos e deverá ser proposta no mês de janeiro ainda", afirmou Felício.
"Existe uma força da coletividade, várias cidades, entrando para buscar o nosso crédito. A gente quer aquilo que a gente trabalhou, produziu e colocou na mão deles", afirmou o produtor Edson Melo Wiziel.
Entenda o caso
Produtores rurais de Tambaú, funcionários de usinas de cana-de-açúcar de São João da Boa Vista e Pirassununga e comerciantes de Santa Cruz das Palmeiras estão com medo dos impactos que a crise no grupo espanhol pode causar.
Os trabalhadores temem o desemprego - somadas, as plantas de Pirassununga e São João da Boa Vista empregam quase 5 mil trabalhadores - e os agricultores afirmam que estão sem receber da companhia.
"A preocupação deles é que o fundo que eles têm, eles disseram para nós, só dá para pagar mais ou menos dois meses de salário para os funcionários", contou Espedito Ferreira de Matos, presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Santa Cruz das Palmeiras, no início de dezembro. "Depois de janeiro a gente não sabe o que vai acontecer".
Ele afirmou que o medo é de que a usina feche e contou que, se isso acontecer, vai afetar não apenas a economia de São João e Pirassununga, mas também a de Santa Cruz. "Os trabalhadores dependem desse serviço, tanto os trabalhadores como o pessoal do comércio porque aqui a gente não tem outras indústrias, é somente a usina mesmo. Então é muito preocupante porque, se chegar a fechar, a nossa cidade vai ficar uma cidade fantasma".
Do G1