As queimadas criminosas em canaviais e a estiagem prolongada afetam a safra de cana na região. Segundo os produtores, a seca e o fogo destruíram várias plantações e agravaram ainda mais a crise econômica enfrentada pelo setor sucroalcooleiro. Os prejuízos devem comprometer também a preparação para a colheita de 2015. Com balanço negativo, a moagem terminará em breve em uma usina de Pitangueiras (SP). A expectativa dos proprietários era chegar a 2,7 milhões de cana, mas a colheita vai ser menor que o previsto. “Vamos perder até 15% da produtividade e também na qualidade da matéria-prima”, afirmou o diretor da empresa, Antonio Tonielo Filho. Segundo ele, 200 mil toneladas de cana foram atingidas por queimadas criminosas.
Segundo a União da Indústria da Cana de Açúcar (Única), do início da safra até agora, São Paulo registrou 2.981 focos de queimadas em canaviais, número 140% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Dessas queimadas, 5% atingiram áreas de plantação com cana antes de atingir a maturação ideal para o corte. “Afeta bastante a nossa produtividade porque você mata e pega ou a chamada cana planta ou cana brota, afetando a cana para o ano que vem, que automaticamente são atingidas porque não conseguimos controlar esse fogo”, comentou Tonielo Filho.
Queimada proibida
As usinas de São Paulo já colhem 85% da produção com máquinas e só usam o fogo para o corte da cana feito por trabalhadores, somente das 20h às 6h. As queimadas criminosas, segundo o diretor técnico da Única, Antonio de Pádua Rodrigues, também elevam os prejuízos dos produtores de açúcar e álcool. “Têm gastos com advogados, processos judiciais e pendências enormes, tanto com a Polícia Ambiental como com a Cetesb [Companhia Ambiental do estado de São Paulo], sobre um fogo criminoso, que não é de sua responsabilidade, mas que foi em sua propriedade e deverá responder por isso”, disse. As multas para queimadas não autorizadas em canaviais pela Secretaria de Meio Ambiente podem chegar a R$ 10 mil.
De acordo com Rodrigues, a chuva que começou a atingir a região no início da primavera e que provocou uma queda no ritmo da estiagem não deve ajudar na recuperação. “Se a chuva se mantiver pode haver uma melhora na produtividade da próxima safra, mas têm outros fatores que vão jogar a produção para baixo, principalmente a área que foi queimada, além do período de manejo, já que não houve plantio entre fevereiro e abril deste ano porque não houve chuva”, explicou.
Crise acentuada
Segundo o consultor de agronegócios da Universidade de São Paulo (USP), José Carlos de Lima Júnior, as queimadas e o tempo seco vieram agravar a situação enfrentada pelo setor desde 2008. “Teve um baixo investimento a partir de 2008, com a crise econômica, e os investimentos em insumos também diminuíram após três anos de problemas climáticos. Em 2012 estiagem fora de época, em 2013 chuva acentuada e 2014 com seca”, comparou o pesquisador.
Pelo consumidor, o aumento no etanol deve ser sentido a partir do próximo ano, segundo Lima Júnior. “Vamos ser penalizados pela lei da oferta e demanda e temos baixa oferta do produto, além do que em 2015 está previsto um aumento no valor da energia elétrica e no petróleo, e a partir do momento que a gasolina aumenta, o etanol é reajustado por tabela”, afirmou.
G1