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O estado de Minnesota, nos EUA, proibiu, recentemente, a venda de sabonetes antibacterianos que levam um componente chamado ‘triclosan’. O produto químico é associado a uma série de problemas relacionados à resistência de bactérias e está presente em aproximadamente 75% de todos os sabonetes líquidos no mercado.

Outros estados norte-americanos estão em processo para tomar a atitude da proibição, seguindo os passos de Minnesota. Mesmo assim, a decisão só entra em vigor a partir de 2017.

FDA admite que não há benefícios

Produtos com o triclosan são frequentes em nossa vida desde a década de 90, não só estando presentes nos sabonetes líquidos, como também em maquiagem, tábuas de corte e protetores de colchão. Mesmo assim, nunca houve comprovação científica para a eficiência dos sabonetes “antibacterianos”, o que torna o caso absurdamente irresponsável.

O projeto inicial, desenvolvido em 1978, chegou a comprovar, inclusive, que o triclosan foi totalmente ineficaz, pela FDA (Food and Drug Administration) que é o órgão governamental dos EUA responsável pelo controle dos alimentos, suplementos alimentares, medicamentos, cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano.

O órgão pode não ter ainda, a prova definitiva de que o sabão antibacteriano cause danos, mas eles provaram, após 42 anos de pesquisas e estudos independentes, que estavam errados. “O FDA não encontrou evidências dos benefícios do triclosan. Neste momento, as pesquisas não comprovam que o produto presente em sabonetes antibacterianos possa ser mais efetivo que um produto tradicional”, declarou o órgão em um certificado aberto.

Será que não faz mal?

A realidade é que o sabão antibacteriano realmente não está fazendo nenhum bem à saúde; na verdade, é mais provável que ele esteja causando danos, teoricamente.

Em vários estudos com animais, o triclosan tem influenciado o sistema endócrino através de uma complexa interação de hormônios que regulam a maior parte dos aspectos do crescimento de um animal e sua reprodução.

A exposição ao triclosan mostrou uma redução na contagem de esperma em peixes machos, além de ter acelerado o início da puberdade em fêmeas de camundongo, e diminuído a presença dos hormônios da tireóide em ratos machos. Devido a estes achados em estudos com animais, a FDA e a EPA (órgão de proteção ambiental dos EUA), estão colaborando em pesquisas para estudar o efeito da droga sobre o sistema endócrino humano.

Já há algumas evidências de efeitos colaterais. No entanto, um pequeno estudo na Noruega mostrou que as crianças com maiores concentrações de triclosan em sua urina (um dos efeitos da exposição ao triclosan) eram mais propensos a desenvolver alergias sazonais.

No último mês de dezembro, o FDA emitiu uma proposta de decisão exigindo que os fabricantes de sabão antibacteriano provassem a eficácia de seus produtos. Até agora a espera continua.

É um desastre ambiental

Os sabonetes antibacterianos, podem não só estar nos prejudicando, como também fazendo mal ao ambiente que nos cerca e não é só através do triclosan que vai parar em nossos esgotos em enorme quantidade, como também com sua presença em alguns tipos de pesticidas.

A EPA diz que o triclosan pode se anexar a sólidos e sedimentos em suspensão nos cursos de água, o que significa que criaturas em posições mais altas da cadeia alimentar, poderia ingerir ou entrar em contato com altas concentrações do composto.

Mas não são apenas os animais. Alguns estudos têm mostrado que as plantas cultivadas em ambientes contaminados com triclosan conseguem absorver o composto e metabolizá-lo, criando um conjunto de novos compostos de triclosan, que os cientistas estão começando a relacionar com as verduras que comemos.

Provavelmente, o nosso sabão antibacteriano está comprometendo a vida nos oceanos. De acordo com um estudo recente, o triclosan é de 100 a 1.000 vezes mais eficaz em matar algas, crustáceos e peixes, do que os micróbios.

Além de tudo, nos deixa vulneráveis

Como se tudo isso não fosse ruim o suficiente, tem como ficar pior.

Sabe-se que, quando as bactérias desenvolvem resistência a uma droga, muitas vezes essa resistência se estende a outras drogas similares. Já estamos vendo algumas bactérias com resistência a triclosan, e os pesquisadores temem que as cepas resistentes ao triclosan, à Escherichia coli e ao gênero Salmonela, também possam se tornar resistentes às drogas antibacterianas mais fortes, usadas para combater infecções graves em um ambiente hospitalar.

Então, como escapar disso tudo? Basta usar um sabonete normal. A verdade nua e crua é que sabonetes antibacterianos não carregam qualquer benefício real – que tenha comprovação científica sobre o sabonete em si, não a substância isolada usada em testes em vitro. E as empresas que os fazem sempre souberam disso. Dê uma olhada de perto no rótulo do sabão antibacteriano da próxima vez que estiver no supermercado. Ele provavelmente vai dizer algo como "mata 99,9% das bactérias mais comuns”, além de ter um asterisco que, olhando atrás da embalagem, verá que os testes foram feitos com apenas 1 tipo de bactéria, no máximo dois.

Nem "todas" as bactérias. Apenas "as bactérias mais comuns." Aquelas que estão sempre presentes em sua pele e que (com exceção de algumas graves condições médicas) não vão lhe causar nenhum problema. Na verdade, uma boa lavagem com água e sabão é o suficiente para eliminar, praticamente, todos os germes que você precisa eliminar.

Portanto, reflita quando estiver comprando seu próximo sabonete, em barra ou líquido, ao fazer suas compras do mês no supermercado.

Fonte: Jornal Ciência