cance

Uma pesquisa feita durante dez anos em hospitais públicos e privados revela que a incidência do câncer de intestino, em Ribeirão Preto e região, cresceu perto de 400%. Hoje, só é superada pelas doenças de mama e de próstata, as mais comuns. No Brasil, o câncer de intestino é o quinto colocado no índice de óbitos, até 2010, informa o INCA (Instituto Nacional de Câncer).

O autor da pesquisa epidemiológica, entre 1998 e 2008, é o médico Omar Feres, 51 anos, professor de cirurgia da Divisão de Proctologia do Hospital das Clínicas da USP. Ele, entretanto, não tem números de mortes provocadas pela doença.

Padrão de 1º mundo

Para o oncologista Harley Francisco de Oliveira, coordenador do Serviço de Radioterapia do Hospital das Clínicas, o ribeirão-pretano adotou o “padrão de vida alimentar semelhante ao norte-americano”. É sabido que, para cada dois centímetros a mais de gordura na cintura, o risco de câncer no intestino aumenta um por cento.

 “É a alimentação que provoca impacto no aumento das doenças de estômago e intestino. Muita carne vermelha, gordura e açúcar, sem contar a pouca ingestão de fibras. O ideal seria uma alimentação mais balanceada, organizada.”

A maior prova do aumento da incidência do câncer de intestino na região é o enorme crescimento no número de pacientes que recorrem, no Hospital das Clínicas, ao exame de colonoscopia, em torno de 40 diariamente. Hoje, mais de duzentos pacientes aguardam na fila.

Harley de Oliveira acredita que a decisão do Ministério da Saúde, há três anos, de autorizar a avaliação do intestino a partir do sangue oculto, também alertou a população mas busca ao exame.

“Quando o sangue oculto vem positivo, o primeiro passo é fazer a colonoscopia. O problema é que temos apenas cinco aparelhos. É preciso mais investimento na área.”

Exame simples

A colonoscopia diagnostica com extrema competência o câncer de intestino. Dura cerca de trinta minutos e é necessário apenas preparo intestinal. Com o paciente anestesiado, uma espécie de cateter é introduzido no ânus. Com luz na ponta, o aparelho fotografa e filma o órgão. Se houver pólipo, pode ser removido na hora, sem necessidade de cirurgia. Uma colonoscopia particular custa R$ 1,8 mil. A estatística mais recente do Inca, para novos caso de câncer de intestino no Brasil, é de 30 a 40 mil casos, média de sete a oito para cada grupo de cem mil habitantes.

“Infelizmente, temos observado o contínuo crescimento de pacientes em clínicas particulares e na rede pública. Os números do INCA estão subestimados”, cita Oliveira.

Boas novas

Mas também há boas novas no combate ao câncer no intestino. Os estudos e os esforços científicos têm mostrado que nos últimos dez anos cada vez mais pessoas estão vivendo com qualidade melhor, em razão de tratamento mais organizado. Mesmo nos pacientes com doenças avançadas, tem aumentado a sobrevida.

“Em nossos dados, um paciente com doença de intestino, mesmo metastática, na década de noventa, vivia seis meses. Hoje vive mais de 24 meses”, explica.

A prevenção, como no câncer de mama ou de próstata, é fundamental. Detectada no início, a chance de cura bate nos 90%. Quando a doença está em estágio avançado, usa-se todas as armas terapêuticas para combatê-la, como a cirurgia, radioterapia, quimioterapia, drogas moleculares, avaliação genética e compreensão melhor da pessoa, no sentido de dar maior conforto ao paciente.

Como o câncer de intestino é mais comum em pessoas acima de 60 anos, recomenda-se a colonoscopia a partir dos 45 ou 50 anos. Se já houve casos da doença na família, o ideal seria prevenção a partir dos 40 anos. Com a colonoscopia, não raro, o proctologista retira um tumor do intestino, o chamado pólipo, que pode dar origem à doença. A retirada é feita sem necessidade de cirurgia.

“Já cuidei de um menino com 13 anos, vítima da genética”, diz o médico Omar Feres, que como exemplo positivo aponta o Japão, onde 100% da população acima de 50 anos, fez exames de colonoscopia. Para os japoneses, o exame para a prevenção de câncer no intestino é tão comum quanto o eletrocardiograma e colesterol.

Exames de imagem têm espera de até um ano no HC

Um dos maiores “gargalos” na medicina de combate ao câncer, no Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto, é o de imagem de ressonância magnética, tomografia computadorizada e cintilografia óssea. Quem diz é o oncologista Harley Francisco de Oliveira, coordenador do Serviço de Radioterapia do HC. Nessas especialidades, a fila atinge um ano.

O HC realiza, diariamente, 50 ressonâncias, 150 tomografias computadorizadas e 50 cintilografias ósseas. Trata-se de medicina nuclear, exames que poucos hospitais podem oferecer. Além disso, são extremamente caros.

Em laboratórios particulares, uma ressonância custa R$ 1 mil; uma tomografia computadorizada, R$ 2 mil; e uma cintilografia óssea, dependendo da forma, de R$ 3 mil a R$ 4 mil.

Próstata

Semanalmente, o HC atende 70 novos casos de câncer de próstata. É um dos maiores serviços do hospital, dividido em cirurgia, tratamento, radioterapia ou hormonioterapia.

O tratamento do câncer de próstata é o mais simples e, diz o médico Harley de Oliveira, o mais complicado também. “Para que tudo corra bem, o tratamento tem que ser o ideal. Quando isso não ocorre, o câncer torna-se agressivo e pode levar a óbito”.

Números do INCA

Os números divulgados pelo INCA (Instituto Nacional do Câncer) são incompletos, assegura o oncologista. Principalmente os dados das regiões Nordeste e Norte, que chegam bastante subnotificados. Até no Sudeste, segundo o médico, em pessoas que morrem de câncer são relatados óbitos por outras doenças.

Os dados fornecidos pelo INCA são obtidos somente em hospitais mais organizados.
Mas Oliveira não contesta a ordem cronológica das doenças que mais matam. O câncer de pulmão é o mais letal no Brasil, embora as últimas notícias sejam alvissareiras.

“A incidência do câncer de pulmão retroagiu. Pesquisas do IBGE dão conta que em várias capitais, o tabagismo foi bastante reduzido, especialmente em São Paulo. Mas a doença do pulmão ainda não diminuiu porque se trata de um mal silencioso, que vai acometer mais cedo ou mais tarde, a pessoa que fumou”.

Segundo ele, o fato curioso do câncer de pulmão é que no homem, a doença permanece estável. Mas entre as mulheres, a progressão é grande, atingindo especialmente as que começaram a fumar nas décadas de 70 e 80 por conta das revoluções sociais. “Agora, elas começam a pagar a conta”.

Reportagem do Jornal A Cidade RP